‘Meteu essa?’: professora escreve modelo de redação nota mil do Enem citando o youtuber Casimiro | Enem 2022

Sim. Roberta Panza, autora do material de Língua Portuguesa e Redação do Sistema pH, escreveu um modelo de texto que, fazendo referência ao fenômeno Cazé, dono do bordão “Meteu essa?”, poderia pleitear uma nota mil na prova em 2022, caso o tema seja “Os influenciadores digitais e a juventude brasileira”. Leia mais abaixo.

Pois é, não só de citações a Aristóteles, a filósofos iluministas ou à Constituição vivem as redações do Enem. A tão sonhada nota máxima já foi alcançada por alunos que decidiram fugir das obviedades — em 2018, por exemplo, o candidato Lucas Felpi tirou mil ao usar a série “Black Mirror” como repertório cultural da dissertação.

“Os estudantes ficam presos a decorar teóricos, mas sempre é possível pegar referências mais relacionadas ao cotidiano”, afirma Panza.

Veja, a seguir, o texto escrito pela professora, com observações feitas por ela a respeito da estrutura da dissertação:

1º parágrafo: introdução

Texto da professora: Em janeiro de 2022, um vídeo do carioca Casimiro Miguel sobre a importância da vacinação contra o coronavírus viralizou nas redes sociais e chegou a ser publicado pelas mídias da Prefeitura do Rio de Janeiro. Cazé, como é conhecido pelos seus seguidores, majoritariamente jovens, é um “streamer” brasileiro e, hoje, já é considerado um dos maiores influenciadores digitais do país. Sua importância para os mais novos e sua capacidade de atingi-los traz à luz uma fundamental discussão: o impacto desses influenciadores sobre a juventude brasileira. Compreender, então, o limite entre o positivo e o negativo presente nessa relação torna-se essencial e urgente.

1- Começar com um repertório cultural.

“Em janeiro de 2022, um vídeo do carioca Casimiro Miguel (…)”

“Não é algo obrigatório pelo edital, mas recomendo bastante apresentar logo um repertório. É que, em geral, os textos nota mil vão fazer de 2 a 3 referências culturais no total. Melhor já usar uma delas na introdução”, afirma Panza.

2- Apresentar, logo de cara, o problema.

“Sua importância para os mais novos e sua capacidade de atingi-los traz à luz uma fundamental discussão: o impacto desses influenciadores sobre a juventude brasileira.”

No trecho acima, a autora deixa claro qual será o tema desenvolvido.

“É preciso, no primeiro parágrafo, já colocar um posicionamento a respeito do problema e apresentar qual o caminho que o texto percorrerá”, diz.

2º e 3º parágrafos: desenvolvimento

Texto da professora: Com efeito, cabe analisar como a figura do influenciador pode auxiliar a construção de jovens mais conscientes e críticos. Inegavelmente, a juventude é uma fase de descobertas e de formação de caráter, um momento em que o adolescente começa a consolidar sua identidade e a se entender como cidadão. Sem romantizações, essa fase é, em muitos casos, permeada por relações conflituosas e por dificuldades entre pais e filhos. É aqui, então, que os famosos influenciadores podem ser fundamentais: ao discutirem questões importantes, eles tendem a ser mais ouvidos e a servir de espelho a menores em desenvolvimento, característica que torna a responsabilidade parte integrante de sua função.

Por outro lado, é fundamental perceber como a influência desses novos atores sociais pode ser usada em prol do sistema econômico. De fato, hábitos de consumo começam a ser moldados durante essa faixa etária e, por isso, não é absurdo afirmar que grandes empresas, preocupadas apenas com o lucro, utilizam-se dessas figuras – o famoso marketing de influência – para construir necessidades de consumo em seres ainda em desenvolvimento. Como consequência imediata, observa-se, muitas vezes, a potencialização de uma formação identitária atrelada ao comprar em excesso, marca contemporânea já questionada por Gilles Lipovetsky, intelectual francês que teoriza sobre o consumo como identidade. Como impacto a longo prazo, percebe-se uma maior tendência ao endividamento e à frustração, afinal não serão todos os que conseguirão comprar o tênis da moda.

3- Usar operadores argumentativos.

O texto tem expressões como “com efeito”, “por outro lado” e “portanto”.

“Esse tipo de elemento de coesão precisa estar presente”, explica a autora da redação.

4- Linguagem formal (sem gírias ou abreviações)

Não é preciso usar mesóclise (colocação pronominal como em “pegá-lo-ei”), mas o candidato deve respeitar a norma padrão da língua portuguesa.

“Os alunos erram muita crase e vírgula. Eles têm de dar uma estudada nisso na fase final, além de reler bons textos no formato da redação do Enem”, diz Panza.

4º parágrafo: conclusão

Texto da professora: Torna-se evidente, portanto, que a relação entre influenciadores digitais e jovens é delicada e precisa ser observada de perto. Assim, cabe às escolas , instituições responsáveis pela formação integral de crianças e adolescentes, o fomento do amplo debate sobre a influência digital e os menores. Isso pode ocorrer por meio de rodas de conversa e de palestras com psicólogos e influenciadores, de modo que pais, alunos e professores entendam, em conjunto, os limites necessários para o bom desenvolvimento dessa relação. Além disso, cabe ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) uma fiscalização mais intensa do marketing de influência voltado aos menores. Desse modo, com a imposição de limites e de regras, será possível construir um futuro em que mais “cazés” façam parte da formação da juventude brasileira.

5- Proposta de intervenção completa

Segundo a autora Roberta Panza, a conclusão da redação do Enem precisa apresentar ao menos uma proposta de intervenção completa para solucionar o problema proposto lá no começo do texto, na introdução. Os elementos obrigatórios são:

  • agente (quem?): “cabe às escolas”
  • detalhamento do agente: “instituições responsáveis pela formação integral de crianças e adolescentes”
  • ação (o quê?): fomento do amplo debate sobre a influência digital e os menores”
  • meio (como?): Isso pode ocorrer por meio de rodas de conversa e de palestras com psicólogos e influenciadores”
  • finalidade (para quê?): “de modo que pais, alunos e professores entendam, em conjunto, os limites necessários para o bom desenvolvimento dessa relação”

Há ainda uma segunda proposta de intervenção, que pode ser mais curta, sem cumprir todos os itens acima: “Além disso, cabe ao Conar uma fiscalização mais intensa do marketing de influência voltado aos menores”.

6- Frase final ‘no capricho’

O texto termina com a seguinte frase:

“Desse modo, com a imposição de limites e de regras, será possível construir um futuro em que mais ‘cazés’ façam parte da formação da juventude brasileira.”

“A frase final [reproduzida acima] faz referência ao que foi dito no início da redação, para fechar o ‘circuito'”, afirma a autora.

A seguir, veja outros palpites de temas para a redação do Enem 2022, segundo Thiago Braga, autor do Sistema de Ensino pH, e Adriana Gonçalves, professora de produção textual e língua portuguesa do colégio Mopi (RJ):

  • Mobilidade urbana no Brasil
  • Automedicação entre brasileiros
  • Desafios do sistema carcerário brasileiro
  • Ensino à distância: garantia de acesso à educação básica no Brasil
  • Desafios do trabalho remoto na sociedade brasileira
  • Caminhos para combater a escassez de água no Brasil

Abaixo, assista a um vídeo para lembrar o que é permitido e o que é proibido de levar nos dias de prova:

O que pode e o que não pode levar no dia da prova do Enem?

Como nos últimos anos, o Enem será aplicado em dois domingos.

O candidato deverá fazer:

  • 45 questões de linguagens (40 de língua portuguesa e 5 de inglês ou espanhol);
  • 45 questões de ciências humanas; e
  • redação.
  • 45 questões de matemática; e
  • 45 questões de ciências da natureza.

Veja os horários de aplicação (no fuso de Brasília):

  • Abertura dos portões: 12h
  • Fechamento dos portões: 13h
  • Início das provas: 13h30
  • Término das provas no 1º dia: 19h
  • Término das provas no 2º dia: 18h30

Fonte

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