- número de matrículas em 2022, segundo os dados preliminares do Censo Escolar da Educação Básica: um dos destaques é a queda de 5,3% do total de jovens matriculados no ensino médio;
- desempenho dos alunos em uma prova nacional, feita em 2021, chamada Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb): um dos destaques é que mais do que dobrou a porcentagem de crianças do 2º ano do ensino fundamental que ainda não sabem ler e escrever;
- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica 2021 (que considera o Saeb juntamente aos níveis de aprovação dos estudantes nas escolas): dados ficaram praticamente estagnados e podem estar ocultando a piora do indicador durante a pandemia.
São informações que devem ser interpretadas com cautela, mesmo diante da necessidade de um diagnóstico das perdas de aprendizagem ocorridas durante a pandemia.
No caso do Censo Escolar, eventuais correções solicitadas pelos municípios e estados podem alterar os números finais, que sairão só em dezembro. E, no Saeb e no Ideb, o contexto de coleta das informações compromete os resultados e torna injusta qualquer comparação com anos anteriores ou entre redes de ensino. Entenda nesta reportagem e no vídeo abaixo por que esses dados são “enganosos”.
Conheça os problemas que afetaram os dados do Ideb 2021
Feitas as ressalvas, veja abaixo quais os destaques de cada índice.
O Saeb é uma prova de português e de matemática feita a cada dois anos por alunos do 2º, 5º e 9º ano do ensino fundamental e por estudantes do 3º do ensino médio. No caso do 9º ano, para uma amostra específica, houve também questões de ciências da natureza e ciências humanas.
Segundo especialistas, a situação pode ser ainda mais preocupante do que a exposta nesta sexta-feira, já que, quando o Saeb foi aplicado (em novembro e dezembro do ano passado), muitas escolas ainda não haviam voltado para o formato 100% presencial.
Provavelmente, no caso delas, a adesão ao exame foi menor do que a registrada nos colégios que já estavam funcionando normalmente.
“Não sabemos, por exemplo, se os alunos que não fizeram a prova foram aqueles que eram mais vulneráveis, porque não tinham acesso à tecnologia ou porque estavam no ensino médio e faltavam às aulas por estarem trabalhando”, afirma Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco.
Por isso, como dito no início da reportagem, comparações devem ser evitadas, levando em conta a fragilidade dos dados atuais.
A seguir, veja os principais dados relativos ao desempenho dos estudantes nessa avaliação.
2º ano do ensino fundamental
- Alfabetização: A porcentagem de crianças do 2º ano do ensino fundamental que ainda não sabem ler e escrever nem mesmo palavras isoladas (como “mesa” e “vovô”) mais do que dobrou de 2019 a 2021. Pelas diretrizes do MEC, elas deveriam ter sido alfabetizadas desde o 1º ano.
- Matemática: No 2º ano do ensino fundamental, 22% das crianças não conseguiam fazer operações básicas, como soma e subtração, em 2021. Em 2019, antes da pandemia, eram 16%.
5º ano do ensino fundamental
- Língua portuguesa: De 2019 para 2021, a parcela de alunos com conhecimentos insuficientes subiu de 23% para 28%. São crianças que sabem localizar informações explícitas em textos curtos, mas não conseguem interpretar sentidos de palavras e expressões.
- Matemática: Houve um crescimento discreto de 21% para 23% no grupo de alunos que conseguem resolver problemas simples, mas que não são capazes de nomear figuras geométricas (quadrado, retângulo etc.).
9º ano do ensino fundamental
- Língua portuguesa: Em 2021, houve uma grande concentração (14,7%) de alunos no “nível 0”: jovens que não conseguem ser avaliados pelos testes do Saeb, porque não dominam as habilidades mínimas exigidas pela prova.
- Matemática: São 44% dos estudantes que, em 2021, conseguiam interpretar gráficos, mas não sabiam como planificar um sólido geométrico (como uma pirâmide). É um aumento de 5 pontos percentuais em relação a 2019.
- Ciências humanas: Houve um crescimento no grupo que ocupa os níveis iniciais de conhecimento da área — de 52% para 56%.
- Ciências da natureza: Quase 20% dos alunos de 2021 não tinham as habilidades mínimas para serem avaliados pelo Saeb.
- Língua portuguesa: Há um aumento de 45% para 48% no número de alunos que ocupam os níveis iniciais de conhecimento da área, de 2019 a 2021.
- Matemática: O levantamento mostra um salto de 48% para 54% do grupo que domina apenas as noções básicas da disciplina.
O Ideb, em uma escala de 1 a 10, cruza duas informações:
- taxa de aprovação/fluxo escolar (a porcentagem de alunos que não repetiram de ano em uma escola ou rede de ensino);
- notas do Saeb (explicadas anteriormente nesta reportagem).
Só que, neste ano, esses dois “ingredientes” foram comprometidos, porque:
- Parte das redes de ensino adotou a aprovação automática na pandemia (e terá, portanto, um Ideb artificialmente mais alto).
- Pela primeira vez, também por causa da Covid-19, a porcentagem de alunos que fizeram a avaliação (Saeb) foi muito mais baixa em alguns estados, fornecendo dados estatisticamente pouco confiáveis.
Por isso, os destaques abaixo não estabelecerão comparações entre as redes.
- Anos iniciais do ensino fundamental: Na etapa em que as crianças enfrentaram dificuldades nos processos de alfabetização à distância, o Ideb nacional foi de 5,8 em 2021 (uma flutuação muito discreta em relação aos 5,9 de antes da pandemia, por causa da fragilidade dos dados explicada acima).
- Anos finais do ensino fundamental: A variação também foi pequena (de 4,9 para 5,1) nesses dois anos.
- Ensino médio: O Ideb ficou estacionado em 4,2 — mais uma vez, evidenciando que os números não indicam necessariamente o que aconteceu com o desempenho dos alunos neste período.
- Evasão escolar: Comparando os números preliminares de 2021 e de 2022, o número de jovens matriculados no ensino médio caiu de 6.564.625 para 6.217.486 — uma redução de 5,3%. Embora os dados ainda sejam preliminares, há o indício de um aumento na evasão escolar na última etapa de ensino, justamente quando o risco de abandonar os estudos para ingressar precocemente no mercado de trabalho é maior.
- Reflexos do novo ensino médio: Mesmo com a redução no número total de matrículas, o número de alunos de ensino médio em tempo integral aumentou 10,5% – esse é justamente um dos pilares da reforma implementada nessa etapa escolar desde o começo de 2022.