Opinião | Eleição do Brasil no domingo mostrou que o “bolsonarismo” veio para ficar

Após uma enxurrada de publicidade e uma investigação interna na qual Bolsonaro parecia ameaçar o jornalista por testemunhar contra ele, o incidente foi amplamente esquecido. Mas a arrogância machista era típica de Bolsonaro, um soldado sem brilho cujas ambições políticas descomunais muitas vezes incomodavam figuras militares de alto escalão. Mesmo assim, sua formação militar provou ser eleitoralmente útil. Em 1988, após a restauração da democracia brasileira, iniciou a carreira política como representante dos interesses e perspectivas do militar comum.

Com o tempo, seus apelos assumiram um teor mais geral de direita, abraçando o impulso conservador, senão a teologia do cristianismo evangélico. A política de Bolsonaro – uma mistura de intolerância, autoritarismo, moralismo religioso, neoliberalismo e teorização de conspiração livre – foi amplamente deixada de lado na esteira do regime militar. Mas 13 anos de governos progressistas do Partido dos Trabalhadores deram origem ao descontentamento da direita. Para os números, as repetidas vitórias eleitorais da esquerda cheiravam a jogo sujo e desacreditavam a própria noção de democracia. À frente dessa acusação, dotada de inimitável linguagem bombástica ideológica, estava o Sr. Bolsonaro. Na maior democracia da América Latina, ele agora fala por dezenas de milhões.

Domingo sublinhou este lamentável estado de coisas. Os candidatos endossados ​​por Bolsonaro tiveram desempenho superior em todos os lugares, conquistando grandes vitórias contra candidatos apoiados por Lula em São Paulo e no Rio de Janeiro. De fato, o primeiro turno de votação sugere não apenas que o projeto político que prevaleceu em 2018 – em uma palavra, “bolsonarismo” — está vivo e bem, mas também tem espaço para crescer. Considerando a atitude do Sr. manuseio desastroso da Covid-19, sua ameaças consistentes para a democracia brasileira e o surto de corrupção escândalos que cercam ele e sua família, esta é uma perspectiva sombria.

Mas não um inexplicável. Embora haja muito que não sabemos – o censo, atrasado pela pandemia e sabotagem institucional, tem mais de uma década – algumas coisas são claras. Enquanto o Sr. Bolsonaro manteve sua vantagem esmagadora no partes oeste e noroeste do país, o aspecto mais marcante da eleição foi a forma como ela se enquadrou nas linhas estabelecidas de apoio regional. No Sudeste, tradicional bastião da política conservadora, Bolsonaro prosperou. No Nordeste, reduto do Partido dos Trabalhadores, o Sr. da Silva se destacou. O sucesso de Bolsonaro tem sido manter e ampliar a tradicional base conservadora de apoio, entusiasmando-a com suas amargas denúncias aos progressistas, ao sistema de justiça, aos jornalistas e às instituições internacionais.

No entanto, apesar de toda a demonstração de força de Bolsonaro, o resultado mais provável continua sendo uma vitória para Lula. Afinal, nenhum vice-campeão no primeiro turno de votação jamais ganhou o segundo. Os candidatos que terminaram em terceiro e quarto – a centro-direita Simone Tebet e o centro-esquerda Ciro Gomes – provavelmente também apoiarão Lula. O gosto do ex-presidente por fazer campanha, evidente em uma mensagem otimista ele escreveu no Twitter uma vez que os resultados ficaram claros, é outra vantagem. Quatro semanas em modo de campanha devem servir-lhe bem.

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