No Nordeste, candidatos de Bolsonaro ou aliados ao PL que lideram pesquisas se desvinculam da imagem do presidente | Eleições 2022

A maior parte dos candidatos ligados a Jair Bolsonaro (PL) que lideram pesquisas de intenção de voto aos governos estaduais do Nordeste não destacam o presidente em suas campanhas (veja na arte abaixo). A região é a que Bolsonaro vai pior no país enquanto Lula lidera em todos os estados, segundo as pesquisas de intenção de voto.

Cinco políticos alinhados a ele estão na liderança na eleição de 2022, segundo as pesquisas Ipec nos estados: Capitão Wagner (União Brasil-CE) Fernando Collor (PTB-AL), Sílvio Mendes (União Brasil-PI), Valmir de Francisquinho (PL-SE) e Weverton Rocha (PDT-MA).

Deste grupo, apenas o ex-presidente Collor se vincula de modo explícito à figura de Bolsonaro. Para especialistas, isso se explica em razão do mau desempenho do presidente no Nordeste. (Veja mais abaixo)

Bolsonaro aparece nas peças de campanha e nos discursos de Collor, 2º colocado ao governo alagoano, segundo o Ipec. No estado, Bolsonaro possui 30% e Lula, 54%.

Ao longo do ano, Collor viajou ao lado do presidente para inauguração de obras e se associa a sua imagem em busca do Executivo de Alagoas – estado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), aliado de Bolsonaro.

Collor ao lado de Bolsonaro em foto postada no Instagram do senador em 23 de setembro de 2022. — Foto: Reprodução/Instagram

Alagoas está entre as unidades da federação mais beneficiadas pelos recursos do chamado orçamento secreto (verbas destinadas sem transparência por parlamentares a suas bases eleitorais), segundo dados da Câmara dos Deputados enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Os outros quatro candidatos têm feito campanha em seus estados sem destacar a proximidade com Bolsonaro, seja nos materiais visuais da propaganda eleitoral ou em seus discursos.

Capitão Wagner liderava as intenções de voto no Ceará até a última pesquisa Ipec. O PM da reserva recebeu apoio de Bolsonaro na eleição de 2020, quando ficou em segundo lugar para a Prefeitura de Fortaleza. Agora, Wagner não inclui imagens ou falas do presidente em suas agendas. Bolsonaro soma 19% das intenções de voto a presidente no Ceará, seu pior desempenho na região.

Sílvio Mendes tanto tenta se descolar de Bolsonaro (veja nota abaixo) que sua campanha buscou se colar à imagem de Lula (PT), rival de Bolsonaro na eleição nacional – estratégia barrada pela Justiça eleitoral. Jair Bolsonaro defende a apoiadores o nome de Mendes como seu candidato no Piauí, estado no qual 20% dos eleitores escolhem Bolsonaro para presidente e 61% optam por Lula.

Weverton Rocha é um caso à parte neste grupo (veja nota abaixo). O político historicamente se posiciona contrário a Bolsonaro, mas conta na sua coligação com o PL, que é a sigla do presidente da República e do seu vice, Helio Soares. Rocha ocupa a segunda posição nas intenções de voto medidas pelo Ipec, com 20%.

Bolsonaro admite em suas lives não ter um candidato em palanques no Maranhão. Com o PL em seu apoio, Rocha é a candidatura com maior proximidade ao presidente, mas não há esforço para criar laços ou puxar votos para a campanha nacional. No estado, o presidente possui 19% das intenções de voto, com Lula escolhido por 67%.

Rocha é filiado ao PDT, partido de Ciro Gomes, mas não defende abertamente a candidatura do ex-governador do Ceará, ao contrário: além de ter o PL de Bolsonaro em sua chapa, Weverton Rocha demonstrou em entrevista recente seu alinhamento a Lula.

Apoio explícito dos azarões

Jair Bolsonaro recebe apoio explícito de outra parcela de seus candidatos: aqueles que estão em 3º lugar ou abaixo nas pesquisas de intenção de voto. Há cinco candidatos nessa situação: Nilvan Ferreira (PL-PB), João Roma (PL-BA), Coronel Diego Melo (PL-PI), Fábio Dantas (Solidariedade-RN) e Anderson Ferreira (PL-PE).

O quinteto vincula suas candidaturas ao nome do presidente e formam unanimidade para tentar aumentar seu eleitorado de forma local com base no bolsonarismo.

A situação é similar à da Bahia: João Roma têm 7%, percentual que é de 20% para Bolsonaro (Lula soma 61%) no nacional.

No Piauí, a situação de Coronel Diego é mais complexa: com 3% na eleição estadual, ele disputa para se aproximar dos 20% de eleitorado potencial que Bolsonaro tem na nacional – adversário do atual presidente, Lula é escolhido por 61%.

Anderson Ferreira (PL) é o candidato de Bolsonaro em Pernambuco. Com 11% das intenções de voto no Ipec de 21 de setembro, figura tecnicamente empatado com outros três candidatos no segundo lugar na disputa pelo governo estadual – Danilo Cabral (PSB), Raquel Lyra (PSDB) e Miguel Coelho (União Brasil).

Ferreira possuía 12% das intenções de voto na pesquisa anterior, em 6 de setembro, no 3º lugar da disputa. No intervalo para a pesquisa mais recente, Cabral (candidato de Lula no estado) e Coelho oscilaram para cima, enquanto Raquel Lyra, 1p.p. para baixo.

Rejeição a Bolsonaro reforça desassociação entre os líderes

Para a cientista política Carla Michele de Quaresma, a intenção de voto expressada pelos eleitores nordestinos em Bolsonaro está entre os motivos para ele ser escondido das campanhas estaduais.

O Nordeste é a região em que o presidente vai pior no país, segundo as pesquisas de intenção de voto.

“No Ceará, por exemplo, percebemos que 20% a 30% do eleitorado estão dispostos a votar no Bolsonaro. Para uma eleição proporcional, isso é interessante: um deputado que tem vínculo pode render em votação expressiva. Isso não é o mesmo para eleger candidato majoritário, ao governo do estado”, diz.

Quaresma, que é professora da Faculdade Ari de Sá, no Ceará, cita o caso de Capitão Wagner, que liderava a disputa até esta semana, segundo pesquisa Ipec.

Datafolha: Lula tem 57% entre mais pobres e Bolsonaro tem 24%

“Como o Capitão é visto como aberto ao diálogo, alguém que já recebeu pessoas da esquerda no CE, esse comportamento dele pode ser afetado pela vinculação a Bolsonaro e ele pode perder votos”, afirma.

A análise muda de figura quando os candidatos bolsonaristas estão em posição de desvantagem nas pesquisas. Do terceiro lugar para baixo, avalia Carla, se ligar a Bolsonaro é estratégia positiva mesmo se não chegar ao segundo turno.

“Mesmo que não chegue ao segundo turno, pelo menos a pessoa tem votação expressiva e entra na próxima etapa da eleição em posição confortável para negociar participação em outra campanha e, depois, fatias do governo. É um capital político importante”, diz.

O que dizem os candidatos

Questionado pelo g1 sobre não atrelar sua campanha à imagem de Bolsonaro, Weverton Rocha, candidato do PDT no Maranhão, afirmou que sua candidatura é construída na “base de diálogo” e reafirmou ser uma candidatura com algum tipo de ligação com os três principais presidenciáveis – Lula, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes.

“O candidato do meu partido é o Ciro Gomes, meu vice é do PL e na minha base há os movimentos sociais que apoiam a candidatura de Lula. Aqui trabalharei com quem for eleito”, disse o candidato.

Sílvio Mendes afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o presidente Jair Bolsonaro possui outro candidato no Piauí, Coronel Diego Melo (PL), e, por conta disso, não tem como “dar uma resposta” sobre usar ou não a imagem do presidente na campanha estadual.

Valmir de Francisquinho disse que mantém o apoio a Bolsonaro e que o uso da figura do presidente em suas propagandas “diz respeito apenas ao presidente Jair Bolsonaro”, conforme comunicado enviado por sua assessoria de imprensa. “Diante do comportamento instável do presidente, é possível que ele venha a Sergipe antes do pleito”, diz a nota.

Procurado pela reportagem, Capitão Wagner, candidato do União Brasil no Ceará, não se pronunciou.

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