Copa do Mundo 2022: os legados positivos e negativos deixados pelo Mundial no Catar


Dentro e fora dos estádios, torneio no pequeno país do mundo árabe entrará para a história. A posição do Catar em relação à comunidade LGBTI+ tem provocado críticas e protestos internacionalmente.
Getty Images via BBC
O apito final já soou na Copa do Mundo de 2022 no Catar consagrando a seleção da Argentina e seu líder e capitão, Lionel Messi. Os argentinos se sagraram tri-campeões mundiais vencendo a França naquela que, segundo alguns especialistas e analistas, foi “a melhor final da história das Copas do Mundo”.
Foi um Mundial marcado também por debates e polêmicas fora dos gramados.
A começar pela escolha do país sede, o Catar, devido ao seu histórico duvidoso de respeito aos direitos humanos.
Também por conta do calendário, já que o torneio foi disputado em dezembro, quando acontecem as principais ligas e torneios de clubes do mundo. A ideia era evitar o verão do hemisfério norte e seu intenso calor que eleva as temperaturas no Catar a cerca de 50º C.
Em termos futebolísticos, foi uma das Copas do Mundo mais competitivas das últimas décadas, diminuindo o fosso entre as potências históricas da modalidade e as equipes consideradas de “menor status”.
Confira alguns legados positivos e negativos que o Mundial no Catar nos deixou.
Um torneio muito disputado
Multidão de torcedores do Marrocos usa sinalizadores durante comemoração em Londres, na Inglaterra, após a equipe garantir a vaga inédita na semifinal da Copa do Mundo
Henry Nicholls/Reuters
Embora ainda seja cedo para apurar as razões, a verdade é que a Copa do Mundo no Catar foi um dos torneios mais competitivos das últimas décadas, em que o fosso entre grandes e pequenos escretes se tornou mais estreito do que nunca.
O maior exemplo foi a atuação prodigiosa da seleção de Marrocos, primeira seleção árabe e africana da história a chegar a uma semifinal de Copa do Mundo. Na sua jornada bem sucedida a equipe marroquina empatou com a Croácia e venceu Bélgica e Canadá, terminando o Grupo F em primeiro lugar com apenas um gol sofrido.
Na fase mata-mata os marroquinos eliminaram nos pênaltis a poderosa Espanha e venceram por 1 a 0 a seleção portuguesa, de Cristiano Ronaldo e outros craques experientes.
Antes do início do torneio, o Marrocos ocupava a 22ª posição no ranking da Fifa.
A este feito juntam-se outros menores, mas não menos importantes: por exemplo, a Austrália, que dividiu o grupo com França e Dinamarca, conseguiu chegar às oitavas-de-final pela segunda vez na sua história.
Outra grande atuação foi a do Japão, que além de vencer as ex-campeãs mundiais Alemanha e Espanha, assumiu a liderança do grupo E.
Ficará também para a história a vitória da Arábia Saudita sobre a Argentina, que adiou por alguns dias o sonho da Albiceleste de se sagrar campeã mundial.
Será preciso esperar o comitê técnico da Fifa (Federação Internacional de Futebol) analisar o que aconteceu nesta Copa do Mundo, mas muitos já sugerem que o calendário, no inverno boreal e em metade das principais ligas do planeta, tem muito a ver com isso.
O legado do mundo árabe
Mundo árabe se uniu para torcer pelo Marrocos e Arábia Saudita.
Getty Images via BBC
Além das polêmicas, o Catar 2022 deixa um legado histórico para o mundo árabe.
A maioria de seus cidadãos ainda são pessoas comuns que este mês mostraram seus costumes e valores para milhões ao redor do mundo.
“No final, temos muito mais coisas que nos unem do que nos dividem”, disse um catariano à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, durante a primeira semana da Copa do Mundo.
A comunhão entre torcedores locais e estrangeiros tem sido total. Com base na tolerância de cada um, foram forjando-se amizades e momentos que não serão apagados da memória de quem esteve ali.
Mas, acima de tudo, a Copa do Mundo deixa uma imagem de união entre os torcedores árabes, considerando as disputas políticas que os países da região enfrentaram nas últimas décadas, como o próprio Catar e a Arábia Saudita.
As bandeiras não importavam. Catarianos, egípcios, marroquinos e libaneses vibraram com a vitória da Arábia Saudita sobre a Argentina.
E depois todos se uniram com a jornada emocionante do Marrocos até as semifinais.
Para muitos árabes, essa foi uma oportunidade de superar estereótipos. Agora, muitos deles esperam que esse efeito dure.
Um estádio reciclável
Gramado do Estádio 974
Débora Gares/ge.com
Uma das grandes críticas que o Catar recebeu foi o montante de dinheiro que gastou para criar a infraestrutura necessária para sediar um torneio dessas dimensões.
Esse investimento deixou um legado impossível de ignorar: os estádios removíveis.
No total, para o Catar 2022, seis estádios foram construídos do zero e dois já existentes foram reformados.
Entre eles está o 974, com capacidade para 40 mil espectadores, construído com contêineres usados e começou a ser desmontado após a partida entre Brasil e Coreia do Sul, pelas oitavas de final.
E a ideia é que as peças desse estádio sejam enviadas para um país a ser definido, para estimular o desenvolvimento do futebol.
É a primeira vez que um estádio construído para uma Copa do Mundo pode ser reaproveitado em outra parte do mundo, o que é uma inovação completa em termos de sustentabilidade.
Tratamento de trabalhadores migrantes
Antes da Copa do Mundo havia um intenso debate sobre o tema dos direitos humanos, especialmente no que diz respeito aos trabalhadores migrantes.
O jornal britânico The Guardian e algumas organizações de direitos humanos apontaram que cerca de 6 mil trabalhadores migrantes morreram na construção da infraestrutura para sediar a Copa do Mundo.
A própria organização do torneio estimou a cifra em 500 trabalhadores que morreram na construção dos estádios.
E embora o governo local tenha feito um esforço para melhorar as condições dos milhões de trabalhadores migrantes que vivem no país, a verdade é que ainda há muito por fazer.
Para José Carlos Cueto, enviado especial da BBC News Mundo em Doha, a situação dessas pessoas continua precária.
“Por exemplo, eles não puderam curtir a Copa do Mundo como os milhares de turistas que vieram a Doha, porque não tinham permissão para isso”, diz.
As restrições à comunidade LGTBQIA+
Uma das maiores polêmicas ocorridas tanto antes do início do torneio quanto nos primeiros dias das competições foram as restrições às manifestações de solidariedade à comunidade LGTBQIA+.
Braçadeira de capitão com o lema “One Love” (Um só amor).
Alex Livesey – Uefa
Alguns espectadores não foram autorizados a usar roupas com a bandeira do arco-íris ou enviar mensagens de solidariedade a esta comunidade.
Além disso, algumas seleções europeias como Alemanha, Dinamarca e Inglaterra solicitaram que seus capitães usassem uma braçadeira com a frase “One Love” (Um só amor) exibindo as cores da bandeira do arco-íris.
No entanto, a Fifa anunciou que se algum jogador usasse a braçadeira não seria penalizado com multa, conforme estipulado, mas com sanção esportiva.
Isso fez com que nenhum jogador usasse a braçadeira.
A Fifa e a organização do evento, por sua vez, argumentaram que a ideia era não permitir manifestações políticas dentro do torneio.
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