‘Não parecia sério’
No dia de Ano Novo, o Sr. Lula subiu a rampa para os gabinetes presidenciais do Brasil e aceitou a faixa presidencial verde e dourada – não do Sr. Bolsonaro, como prescreve a lei, mas de uma mulher que coleta lixo para reciclar. O Sr. Bolsonaro já havia fugido para a Flórida.
Para cerca de metade do país, foi o fim bem-vindo de quatro anos de tumulto sob o governo de Bolsonaro. Mas para milhões de outros brasileiros, foi a conclusão de um crime elaborado – uma eleição roubada que eles imploraram aos militares para derrubar por dois meses.
Dias depois, convocações foram feitas pelos cantos pró-Bolsonaro da internet – em tweets, vídeos do TikTok, canais do Telegram e grupos do WhatsApp – para uma enorme manifestação de domingo na capital, exatamente onde os apoiadores de Lula haviam comemorado uma semana antes.
Alguns panfletos digitais prometiam uma festa, enquanto outros pediam algo muito mais sério. Houve mensagens que exigiam estradas e refinarias de petróleo bloqueadas, e outras que apontavam para o coração do governo.
“O plano é cercar Brasília”, escreveu uma pessoa em um grupo do Telegram, anexando uma imagem aérea do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto, sede da presidência, com cada prédio circulado.
“Precisamos de jornalistas do mundo todo para relatar esse momento”, respondeu outra pessoa, “para que fique marcado na história do Brasil”.
No entanto, os planos não pareceram alarmar demais as autoridades.
Ricardo Cappelli, o segundo funcionário do Ministério da Justiça do Brasil, disse que os comícios pró-Bolsonaro há muito adotam tons conspiratórios, mas permanecem em grande parte não violentos. “Não parecia sério”, disse ele, “e não era grande o suficiente para ser sério”.