Caçadora de asteroides e futura pesquisadora: jovem da periferia de SP premiada pelo Ministério da Ciência inicia estudos na Unicamp


Com 5 aprovações em universidades públicas, Ana Beatriz optou pelo curso de Física e Matemática em Campinas (SP). Ao g1, estudante relatou processo de adaptação e sonhos para o futuro. Ana Beatriz Rodrigues de Carvalho foi aprovada na Unicamp, em Campinas (SP)
Ana Beatriz Rodrigues de Carvalho/Arquivo pessoal
Nove asteroides detectados, cinco aprovações em universidades públicas e uma certificação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Aos 18 anos, a paulistana Ana Beatriz Rodrigues de Carvalho acumula conquistas e, há pouco mais de um mês, deu início a outro grande sonho: a graduação em Física e Matemática na Universidade de Campinas (Unicamp).
Ainda em processo de adaptação, Ana Beatriz relata que seus dias têm se dividido entre as aulas e provas, a rotina na república de estudantes onde mora e algumas caminhadas pelo distrito de Barão Geraldo, onde fica o campus da universidade. Ao decidir pela matrícula na Unicamp, a jovem deixou para trás aprovações em instituições como USP, Unesp, UFABC e UNIFEI.
“Muitas coisas me levaram a essa decisão. Não foi a escolha mais perto dos meus pais, porque eu tive que me mudar. […] As bolsas da Unicamp me ajudam a me manter e eu, inclusive, tenho todas as bolsas. Eu vim para cá sabendo que eu teria mais oportunidade e, de fato, estou tendo muitas”, conta.
Segundo a estudante, que acumula 43 cursos livres sobre Astronomia, Física e Matemática concluídos, a vida acadêmica não tem sido fácil, mas o desafio é divertido e surpreendente. “Uma hora você entra num prédio que é uma biblioteca gigante, você estuda e tem coisas diferentes que você nunca viu. É realmente assim. Cada dia você vê uma coisa diferente”, diz, animada.
O céu é o limite
Um dos principais motivos para a escolha da universidade campineira, de acordo com Ana Beatriz, é o sonho de se tornar pesquisadora no futuro. Admiradora da ciência e defensora da importância da pesquisa científica no Brasil, a jovem está ansiosa para descobrir o que o mercado tem a oferecer.
“[O futuro] vai depender muito das oportunidades que eu vou ter, esse é o fato. Mas eu queria fazer pesquisa no Brasil e no mercado do Brasil, contribuindo para a sociedade no geral. É minha intenção. Agora, por exemplo, se eu estou vendo que o Brasil está me deixando pra trás, aí eu vou sair [do país]”, afirma.
A paixão pela ciência não é de hoje. No ensino médio, ao ter os primeiros contatos com a Física na Escola Técnica Estadual (Etec) de Sapopemba, a estudante descobriu novos universos – sempre impulsionada por um professor dedicado e que acreditava no seu potencial. E o caminho trilhado pela paulistana mostra que ele estava certo.
Estudante já detectou nove asteroides em programa do MCTI em parceria com a NASA
Ana Beatriz Rodrigues de Carvalho/Arquivo pessoal
Caçadora reconhecida
O título de “caçadora de asteroides” foi concedido a Ana Beatriz pelo MCTI após a participação no programa “Caça Asteroides”, promovido pelo governo brasileiro em parceria com a agência espacial americana, a NASA. Habituada a admirar o céu, a estudante viu na iniciativa uma possibilidade de contribuir com a ciência ao observar o universo de dentro de casa, na periferia da zona Leste de São Paulo (SP).
Ana Beatriz explica que o programa de astronomia é aberto ao público e consiste na análise de imagens feitas por um telescópio da Nasa localizado no Havaí. Um relatório com os corpos celestes detectados durante o processo é enviado à agência americana, que leva até um ano para validar possíveis descobertas. Todo o processo de detecção é feito por meio de um software, utilizando informações cruzadas, vídeos e gráficos.
A premiação por detectar nove asteroides aconteceu em novembro do ano passado, em uma cerimônia realizada em Brasília (DF). Para ir à cidade receber o reconhecimento, Ana Beatriz conta que precisou organizar um rifa para arcar com todos os custos.
“[Senti] alegria por saber que eu ia receber um prêmio, e medo de não dar certo, de não conseguir ir, de não ter dinheiro, enfim. Foi aí que eu que eu abri uma rifa. Foi um processo bem longo. Se eu não me engano, eu consegui vender todos os números em mais ou menos um mês. Tinha dias em que eu não vendia nada, eu ficava um pouco desesperada, mas deu certo no final”, relembra.
Depois de tantos reconhecimentos e conquistas, não é difícil imaginar que outras garotas possam estar acompanhando, admirando e se inspirando na sua história. Para elas, Ana Beatriz tem um conselho importante na ponta da língua: persistência.
“Em uma turma de oitenta e nove pessoas, tem, sei lá, dez mulheres. Não é fácil você olhar pro lado e não ver nenhuma mulher ali, ou ver poucas. Às vezes a gente se sente até um pouco desconfortável, pensando ‘será que esse lugar é pra mim?’. Eu falo pra ter persistência e não desanimar, se inspirar em outras mulheres porque tem muitas mulheres incríveis que podem te ajudar”.
Ana Beatriz fez rifa para participar de premiação do MCTI, em Brasília (DF), em novembro de 2022
Ana Beatriz Rodrigues de Carvalho/Arquivo pessoal
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