Protestos no Irã: o que exigem as manifestantes que permanecem nas ruas do país | Mundo

O Irã vive uma onda de protestos em todo o país. Eles foram desencadeados depois da morte de uma jovem que havia sido presa pela chamada ‘polícia da moralidade’.

Três semanas depois do início das manifestações, as demandas dos manifestantes cresceram para incluir uma série de mudanças que os jovens iranianos desejam para o país.

O gatilho das manifestações foi a morte de Mahsa Amini — uma jovem iraniana-curda que morreu depois de ser detida pela polícia da moralidade do país por supostamente violar a lei que exige que as mulheres cubram os cabelos com um hijab, ou lenço.

Em grande parte liderados por mulheres, os manifestantes inicialmente cobravam respostas sobre como Amini morreu. Eles exigiam punições aos policiais, a revogação das leis do hijab e a abolição da polícia de moralidade do Irã.

Protestos tomaram a capital do país, Teerã — Foto: GETTY IMAGES

‘Mulher, Vida, Liberdade’

O principal slogan dos manifestantes é “Mulher, Vida, Liberdade” — um apelo à igualdade e uma poderosa afronta ao fundamentalismo religioso que controla o país.

“Este é um grito que nunca ouvimos em protestos antes”, diz Baran Abbasi, repórter da BBC Persian.

Os homens também se juntaram aos protestos, cantando o mesmo slogan.

“Quando a morte de Amini aconteceu, os direitos das mulheres estavam em primeiro plano. Mas os direitos e liberdade das mulheres no Irã significam liberdade para todos”, diz Negin Shiraghaei, uma ativista iraniana que vive no Reino Unido.

Mas à medida que os protestos se espalharam e rapidamente ganharam força, as demandas se tornaram mais abrangentes.

Mulheres estão na vanguarda dos recentes protestos — Foto: UGC

Cantos pedindo o fim da República Islâmica e de “morte ao ditador” podem ser ouvidos nas ruas — uma referência ao líder supremo do país, o presidente ultra-conservador Ebrahim Raisi.

“Você ouve isso vindo de crianças da escola”, diz Negin Shiraghaei. “Elas estão indo para as ruas… pedindo a derrubada do regime.”

Também há gritos de “azadi, azadi, azadi”, que significa “liberdade, liberdade, liberdade”. Esses são proferidos por estudantes universitários.

Em postagens nas redes sociais, as pessoas pedem liberdade de expressão, liberdade de vestir o que quiserem e a liberdade de ouvir a música que desejarem — sem medo de serem presas por isso.

Para resumir as demandas dos manifestantes, Negin Shiraghaei explica: “É basicamente sobre direitos humanos. O que eles estão cantando nas ruas é sobre liberdade, direitos das mulheres e derrubada do governo”.

Música de protesto viral

Um assunto no Twitter, compartilhando as razões pessoais dos iranianos para apoiar os protestos, recentemente viralizou na internet. Cada tuíte começava com “Por…”, como: “Pelos meus sonhos”, “Pela igualdade”, “Por uma vida normal”.

Um jovem cantor iraniano relativamente desconhecido chamado Shervin Hajipour se inspirou no tópico e escreveu uma música dele. As letras são uma compilação de tuítes sobre o tema.

A música foi compartilhada por milhões de iranianos e obteve mais de 40 milhões de visualizações no Instagram nas 48 horas após o lançamento. “É inédito um cantor desconhecido conseguir tantas visualizações no Instagram”, diz Taraneh Stone, jornalista de mídia social da BBC Persian.

Shervin Hajipour foi preso pelas autoridades do país, e a música foi removida de seu perfil. Ele foi liberado depois.

A maioria dos manifestantes nas ruas são jovens, alguns ainda estão no ensino médio.

“As aulas em universidades de todo o país foram interrompidas, os alunos estão dizendo que não voltarão às salas até que seus colegas presos sejam liberados”, diz Negin Shiraghaei.

Esse é um momento em que a nova geração de iranianos está se sentindo particularmente frustrada.

A corrupção sistemática entre a elite política do Irã, a pobreza crescente com inflação de mais de 50% e a falta de liberdades sociais e políticas deixaram os jovens sem esperança.

Pela primeira vez desde a Revolução Islâmica de 1979 — quando a monarquia foi derrubada e substituída pela República Islâmica como a conhecemos —, os protestos incluem pessoas de diferentes origens econômicas.

Eles acontecem em áreas de classe média e da classe trabalhadora — desde os bairros ricos da capital Teerã, até regiões mais pobres do país, como Baluchistão, no sudeste, a cerca de 1.200 km de Teerã.

E pessoas de diferentes origens étnicas também estão participando.

“A má gestão do país vem acontecendo nas últimas quatro décadas. A corrupção sistemática e as sanções [internacionais] tiveram efeitos em todos os níveis da sociedade”, diz Negin Shiraghaei.

A diversidade entre os manifestantes aumentou a gama de queixas — desde o aumento dos preços e o alto desemprego até a corrupção e a repressão política.

Este é o movimento de protestos mais longo no Irã desde a revolução de 1979.

Manifestações anteriores — por causa de eleições fraudulentas em 2009, má gestão econômica em 2017 e, mais recentemente, aumentos dos preços dos combustíveis em 2019 — foram implacavelmente reprimidos pelas forças de segurança.

A resposta das autoridades às recentes manifestações também tem sido previsível — dezenas de pessoas foram mortas e centenas, detidas. Houve repetidos apagões na internet para impedir que a população publique vídeos e fotos sobre os protestos.

Mesmo assim, eles continuam. Os protestos poderiam mudar alguma coisa? “Eu definitivamente acho que sim”, diz Negin Shiraghaei. “Quando as mulheres entendem seus próprios direitos e ensinam seus próprios direitos a seus filhos, essa mudança é inevitável”, diz a ativista.

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