♪ ANÁLISE – O anúncio da reunião do grupo pernambucano Mestre Ambrósio com a formação original após 18 anos de hiato – retorno arquitetado para turnê comemorativa dos 30 anos dessa banda formada em 1992 na movimentada cena alternativa do Recife (PE) – joga luz sobre trajetória artística que merecia maior reconhecimento histórico.
Mesmo que nunca tenha sido pedra fundamental na construção do movimento rotulado como Manguebeat (ou Manguebit), como Chico Science & Nação Zumbi ou mesmo a banda Mundo Livre S/A, Mestre Ambrósio gravitou em torno desse universo particular com identidade própria, sem copiar o som de outras bandas da geração.
Eder “o” Rocha (percussão), Helder Vasconcelos (fole de oito baixos e percussão), Cassiano (percussão e vocal), Mazinho Lima (baixo), Mauricio Bade (percussão) e Siba (voz, guitarra e rabeca) se conheceram no meio estudantil do Recife (PE). Todos ouviam rock, mas, como muitos jovens daquela geração, acabaram tendo as atenções despertadas pelos gêneros musicais locais.
Foi quando o rock se fundiu com maracatu rural, coco, caboclinho e com outros ritmos recorrentes em solo pernambucano, gerando sonoridade criada pelo Mestre Ambrósio a partir da combinação incomum de instrumentos como rabeca (marca de Siba), guitarra, ilú (instrumento de percussão do Candomblé), caracaxá (instrumento de percussão comum no toque de caboclinho), pandeiro, alfaia, fole de oito baixos e a zabumba associada primordialmente aos forrós.
Banda Mestre Ambrósio volta à cena, após 18 anos, com a formação original — Foto: José de Holanda / Divulgação
É impossível dissociar Mestre Ambrósio do Cavalo Marinho. O próprio nome do grupo reproduz o nome de personagem do Cavalo Marinho, manifestação folclórica da Zona da Mata Norte de Pernambuco, espécie de teatro de rua.
Com raízes nessas tradições e antenas ligadas para captar os sons do mundo (e nisso Mestre Ambrósio se afina com a Nação Zumbi), a banda conseguiu emergir da cena recifense – no rastro da explosão nacional do Manguebeat a partir de 1994 – e se projetou no Brasil, gravando três álbuns, sendo que o primeiro ganhará reedição em LP no embalo da volta do grupo.
Os repertórios desses três álbuns – Mestre Ambrósio (1996), Fuá na casa de Cabral (1999) e Terceiro samba (2001) – são a matéria-prima do roteiro dos shows em que a banda celebra os 30 anos da criação em turnê programada para acontecer de 4 de novembro a 7 de janeiro, com sete apresentações, por ora.
Desse repertório, José (Siba, 1996) é a música mais conhecida fora do território do Manguebeat, até por ter ido parar no roteiro de antológico show de Elba Ramalho, Leão do norte (1996).
Por conta da originalidade do som, Mestre Ambrósio rompeu inclusive as fronteiras do Brasil, tendo feito turnês pelo Japão em 2002 e 2003, pouco antes de sair de cena em 2004, em momento em que toda a geração do Manguebeat já tinha perdido o impulso mercadológico inicial.
Tão inesperado quanto bem-vindo, o retorno de Mestre Ambrósio à cena pode contribuir para redimensionar o papel da banda nessa história.
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