Violência jihadista em Moçambique se espalha apesar do esforço militar | Mundo

Fugindo de decapitações, tiroteios, estupros e sequestros, quase 1 milhão de pessoas estão deslocadas pela insurgência extremista islâmica no norte de Moçambique. A onda de 5 anos de violência jihadista na província de Cabo Delgado matou mais de 4.000 pessoas e arruinou investimentos internacionais no valor de bilhões de dólares.

Em uma extensão de barracas em ruínas e cabanas de palha ao redor de Nanjua, uma pequena cidade na parte sul da província de Cabo Delgado, várias centenas de famílias buscam segurança contra a violência. Eles dizem que suas condições são sombrias e a assistência alimentar é escassa, mas eles têm medo de voltar para casa por causa da violência contínua dos rebeldes que agora atendem pelo nome de Estado Islâmico da Província de Moçambique.

Mais de 1.600 quilômetros ao sul, no entanto, funcionários do governo na capital, Maputo, dizem que a insurgência está sob controle e incentivam os deslocados a retornarem às suas casas e as empresas de energia a retomarem seus projetos.

“Os terroristas estão em fuga permanente”, assegurou o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, aos investidores na Cimeira de Energia e Gás de Moçambique, em Maputo, em setembro. Ele instou a reunião de executivos internacionais de energia a retomar o trabalho em seus projetos de gás natural liquefeito que estavam paralisados.

O exército e as forças policiais de Moçambique, apoiados por tropas de Ruanda e apoio de uma força regional da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, conseguiram conter a rebelião extremista, dizem as autoridades.

“Esses lugares já se normalizaram e os civis estão voltando”, disse este mês o general Ronald Rwivanga, de Ruanda, ao jornal ruandês “The New Times”, acrescentando que a vida normal está voltando ao distrito de Palma.

Um polícia ruandês, à direita, e militares moçambicanos, à esquerda, patrulham perto do hotel Amarula Palma, em Palma, província de Cabo Delgado, Moçambique, 15 de agosto de 2021 — Foto: AP Photo/Marc Hoogsteyns, File

As empresas de energia dizem que querem ver os deslocados retornarem à área. Os projetos de gás natural liquefeito de US$ 60 bilhões liderados pelas francesas TotalEnergies e ExxonMobil foram suspensos no ano passado depois que os insurgentes capturaram brevemente a cidade adjacente de Palma em março.

Falando na cimeira em Maputo, Stéphane Le Galles, responsável pelo projeto de gás da TotalEnergies em Moçambique, disse que “a direção é muito boa” mas a empresa ainda quer ver “uma situação econômica sustentável, não só em Palma, mas em todo o Cabo Delgado”.

Apesar da forte presença de soldados moçambicanos e ruandeses, os ataques dos extremistas continuam. No início deste mês, os rebeldes espalharam sua violência pela primeira vez na província vizinha de Nampula, onde uma missão católica foi um dos alvos e uma freira italiana idosa está entre os mortos.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) disse que “considera as condições de segurança demasiado voláteis em Cabo Delgado para facilitar ou promover o regresso à província”, num comunicado divulgado no início deste mês. “As pessoas que perderam tudo estão retornando para áreas onde os serviços e a assistência humanitária estão amplamente indisponíveis”, afirmou a Acnur.

Aqueles que voltam se deparam com uma situação mista. A vida econômica está começando a retornar, mas ainda faltam infraestrutura básica e serviços públicos. Poucas escolas estão abertas e os serviços de saúde são escassos.

Na capital da província, Pemba, onde mais de 100.000 deslocados se refugiaram, uma idosa sentou-se do lado de fora de uma cabana onde sua família de 15 pessoas se estabeleceu há dois anos, depois de fugir de um ataque insurgente. Eles subsistem com uma dieta escassa de farinha de milho e arroz puro.

Polícias ruandesa e moçambicana falam com repatriados em Palma, província de Cabo Delgado, Moçambique, 15 de agosto de 2021 — Foto: AP Photo/Marc Hoogsteyns, File

Incapaz de encontrar trabalho, eles não têm dinheiro para roupas ou outros itens essenciais, disse ela. “Definitivamente, queremos voltar. Isto não é uma casa”, afirmou a avó, que falou sob condição de anonimato para sua segurança. Com suas aldeias mais ao norte agora destruídas, ela diz que retomar a vida normal será ainda mais difícil.

Pesando os riscos e os custos do retorno, muitos decidiram ficar, apesar das privações que enfrentam nos campos de deslocados. “Lá há guerra e fome”, disse outra pessoa deslocada no campo de Nanjua. “Não estaríamos indo para um lugar melhor.”

Uma mãe embalando uma criança pequena sentada em um tapete de grama disse que a ameaça de violência extremista continua sendo uma preocupação. Ela disse que muitos permanecem assombrados por suas experiências nas mãos dos insurgentes: “É difícil dormir em um lugar onde você viu uma cobra”.

Fonte

Compartilhe:

inscreva-se

Junte-se a 2 outros assinantes