Veja políticos que ganharam projeção em 2022 e estarão sob os holofotes no próximo ano | Política

A conjuntura também abriu margem para o reposicionamento de políticos e autoridades conhecidos pelos cidadãos de todo o país – e que, por um motivo ou outro, estavam “em baixa” nos últimos anos.

Em meio a uma eleição geral polarizada entre esquerda e direita, marcada por troca de acusações entre aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), representantes de ambos os lados e também da chamada “terceira via” despontaram como promessas para os próximos quatro anos.

Confira, abaixo, alguns dos perfis que, a julgar pelos últimos 12 meses, podem dominar o noticiário político a partir de 2023 (clique para ir à seção):

Simone Tebet (MDB), a voz da terceira via

Simone Tebet e Lula se reuniram em SP nesta sexta (7) — Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Simone Tebet (MDB) chegou ao Senado em 2015, mas só ganhou projeção como uma das principais parlamentares da Casa a partir de 2021, com uma postura combativa na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

Lançada pelo MDB como candidata à Presidência, mesmo sem o apoio de alas pró-Lula e pró-Bolsonaro no partido, Tebet conseguiu se consolidar como a principal candidata da chamada “terceira via”. Ficou em 3º lugar no primeiro turno, com 4,2% dos votos válidos.

No segundo turno, declarou apoio quase imediato à candidatura de Lula em uma postura de rejeição à reeleição de Bolsonaro. Foi considerada um dos principais trunfos que levaram à vitória do PT em segundo turno, sobretudo entre os eleitores que se diziam “antipetistas”.

Andre Janones (Avante), o trunfo de Lula nas redes

André Janones (Avante) na Central das Eleições, na GloboNews — Foto: Marcos Serra Lima/g1

Deputado federal de primeiro mandato, eleito em 2018 na esteira da greve dos caminhoneiros, André Janones (Avante) passou os últimos quatro anos “pregando” para uma base fiel de “convertidos”. Era um dos parlamentares com maior presença online, defendendo temas como renda mínima aos afetados pela pandemia.

Mesmo assim, Janones pegou a classe política de surpresa quando se lançou pré-candidato à Presidência da República pelo nanico Avante, em abril. E, novamente, quando abriu mão da pré-candidatura para mergulhar na campanha de Lula e Alckmin ainda no primeiro turno.

A estratégia agressiva de Janones nas redes sociais foi redirecionada, usada para contrapor e até superar o domínio do bolsonarismo na disputa digital.

O PP, aliado de Bolsonaro, chegou a acionar André Janones na Câmara por divulgação de fake news, invertendo o roteiro que havia se tornado comum nos últimos quatro anos.

Janones foi reeleito deputado federal com a segunda maior votação de MG. Com a fama adquirida durante a campanha, deve crescer em relevância dentro da Câmara no segundo mandato.

O político chegou a ser cogitado para integrar a comunicação do novo governo Lula, mas o convite não se concretizou.

Nikolas Ferreira (PL), mais votado aos 26 anos

Nikolas Ferreira voltou a ter constas suspensas nesta quinta-feira (10) — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Ele é vereador de Belo Horizonte desde 2020, apoiador de Jair Bolsonaro e define a si mesmo como “cristão, conservador e defensor da família”. A votação expressiva pode cacifá-lo como um dos líderes da oposição ao futuro governo Lula,

Nikolas obteve 1.492.047 votos, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não superou o recorde histórico para o cargo (1,8 milhão de votos de Eduardo Bolsonaro em 2018), mas quase triplicou o recorde de Minas Gerais (cerca de 520 mil votos para Patrus Ananias, do PT, em 2002).

Apesar da pouca idade, Nikolas também coleciona polêmicas na curta carreira política.

Guilherme Boulos (PSOL-SP), o segundo mais votado do país

Guilherme Boulos em ato em defesa da democracia, em São Paulo — Foto: Celso Tavares/g1

Eleito deputado federal com a segunda maior votação do país (e a maior de São Paulo), aos 40 anos, Guilherme Boulos integrou o “conselho político” da campanha de Lula.

Com frequência, é apontado como um herdeiro em potencial do legado político de Lula – além da semelhança física, pesa a seu favor a relação com os movimentos operários e de moradia.

Boulos é coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), já foi candidato à Presidência da República e tem, para 2024, uma promessa de apoio do PT para se lançar à prefeitura de São Paulo.

O político foi um dos coordenadores do grupo técnico de Cidades na transição de governo e chegou a ser cotado para o ministério. Sem a indicação, deve se posicionar como líder do PSOL na Câmara em 2023.

Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), as primeiras deputadas travestis

Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG) foram eleitas deputadas federais — Foto: Montagem/g1

Pela primeira vez, a Câmara dos Deputados terá representantes da população travesti e transexual do país. Duas: Erika Hilton (PSOL-SP) e Duda Salabert (PDT-MG), vereadoras de São Paulo e Belo Horizonte acostumadas ao pioneirismo de ocupar espaços políticos como esses.

Erika e Duda têm em comum o ativismo pelos direitos humanos, pelo respeito às comunidades LGBTI+ e pela maior participação política das populações transexuais e travestis.

Atuam, também, em ativismos distintos: Erika é militante dos direitos dos negros, e Duda é voz ativa em Minas Gerais pelas políticas ambientais.

Ambas se identificam como “travestis”, termo reconhecido e apropriado por mulheres transexuais da América Latina.

Na campanha eleitoral, no entanto, ambas defenderam ir além do chamado “debate identitário” e disseram que pretendem participar, agora como deputadas federais, dos debates sobre educação, economia e infraestrutura do país, entre outros.

Célia Xakriabá (PSOL-MG), Silvia Waiãpi (PL-AP) e Sonia Guajajara (PSOL-SP), a força indígena na Esplanada

Deputadas Célia Xakriabá (PSOL-MG), Silvia Waiãpi (PL-AP) e Sônia Guajajara (PSOL-SP) — Foto: Reprodução/Instagram/Arquivo pessoal

Pela primeira vez desde a “criação” do Congresso Nacional em 1891, o parlamento brasileiro terá três representantes de aldeias indígenas. Todas são mulheres, de diferentes etnias e com posicionamentos distintos no espectro ideológico.

Até então, o Brasil tinha eleito apenas dois parlamentares indígenas na história: Mario Juruna (PDT-RJ), xavante eleito em 1983, e Joênia Wapichana (Rede-RR), eleita em 2018.

Única eleita pela região Norte, Silvia Waiãpi é também “minoria” na bancada por ser a única apoiadora do presidente Jair Bolsonaro na lista. Ela é primeira-tenente do Exército e deve fazer oposição ao governo Lula.

Célia Xakriabá e Sonia Guajajara, enquanto isso, se definem como parlamentares de esquerda e basearam suas campanhas na defesa de uma reestruturação da relação do governo federal com os povos indígenas – ambas apontam um “desmonte” da gestão Bolsonaro no setor.

Além de Célia, Silvia e Sônia, outros dois parlamentares eleitos se declararam indígenas à Justiça Eleitoral: Paulo Guedes (PT-MG) e Juliana Cardoso (PT-SP). Ambos têm ascendência indígena e se identificam com o tema em postagens nas redes sociais, mas o tema não foi central na atuação política de ambos em mandatos anteriores.

Deltan Dallagnol e Sergio Moro: a Lava Jato no parlamento

Deltan Dallagnol e Sergio Moro — Foto: Eduardo Matysiak/Futura Press/Estadão Conteúdo

Desaparecida do noticiário e com algumas de suas principais decisões anuladas por instâncias superiores do Judiciário, a operação Lava Jato ainda rende dividendos políticos a seus “líderes”.

Em 2022, dois foram eleitos na esteira das ações: o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro (União), que será senador pelo Paraná, e o ex-procurador federal Deltan Dallagnol, deputado federal mais votado no mesmo estado.

Deltan Dallagnol foi procurador da República entre 2003 e novembro de 2021, quando pediu exoneração do cargo. Ficou famoso ao denunciar Lula usando uma apresentação de PowerPoint, em 2016, na qual várias setas levavam ao nome do ex-presidente no centro do suposto esquema.

Depois, deixou a magistratura para ingressar na política. Foi ministro de Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro, e deixou o governo trocando acusações com o presidente. Nas eleições, se reconciliou com Bolsonaro e fez fortes críticas à candidatura de Lula.

No Congresso, ambos devem se colocar como oposição ao governo e, inclusive, disputar os cargos de liderança dessa oposição. Como “trunfo”, têm o discurso anticorrupção, um calcanhar de Aquiles para as gestões petistas.

Pastor Henrique Vieira: um religioso contra a ‘bancada da Bíblia’

Lula e o pastor Henrique Vieira durante o encontro. — Foto: Reprodução

Eleito deputado federal, o pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) é pastor da Igreja Batista do Caminho e ficou famoso por participações em músicas e filmes – mas não com as parcerias tradicionais para um artista do segmento gospel.

O religioso gravou com Martinho da Vila, cantou com Emicida no Lollapalooza e no disco “AmarElo”e atuou no filme “Marighella”, de Wagner Moura, que conta a história do guerrilheiro comunista que ajudou a organizar a luta armada contra a ditadura militar.

Em post para comemorar a vitória nas urnas, Vieira definiu a si mesmo como um “pastor de esquerda para combater o fundamentalismo religioso” e, ainda, um “pastor contra a bancada evangélica”.

Marina Silva: a pauta ambiental no centro do debate

Marina Silva — Foto: BBC

Marina Silva passou os últimos 14 anos distante de Lula – segundo ela, apenas politicamente –, e a reaproximação da dupla deve gerar frutos e dividendos fartos nos próximos anos.

O desmonte ambiental da gestão Bolsonaro e as promessas ambiciosas de Lula na Cúpula do Clima (COP 27) no Egito antecipam a visibilidade que Marina Silva deve ter no cargo.

A ex-senadora chegou a ser cogitada para comandar uma Autoridade Climática, vinculada diretamente à Presidência da República, mas o cenário não se confirmou.

O governo eleito aposta em Marina como um “trunfo” para retomar a credibilidade do Brasil na área ambiental – e, com isso, atrair aportes internacionais como os do Fundo Amazônia e até, quem sabe, destravar a difícil negociação das regras para um mercado de créditos de carbono.

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