A representação do mundo em mapas sempre foi uma questão complexa, carregada de escolhas e, por vezes, até mesmo de ideologias. Um exemplo clássico é o mapa de Mercator, criado no século XVI para auxiliar na navegação marítima. Embora útil para esse propósito, a projeção de Mercator distorce drasticamente o tamanho dos continentes, superestimando as áreas próximas aos polos, como a América do Norte e a Groenlândia, e diminuindo a África e a América do Sul.
Essa distorção não é apenas uma questão técnica, mas sim um problema que carrega implicações políticas e sociais. A percepção de tamanho, muitas vezes inconsciente, influencia a forma como enxergamos a importância relativa das diferentes regiões do mundo. Um mapa que diminui a África pode, sutilmente, contribuir para a marginalização do continente no imaginário global.
A iniciativa da União Africana
Diante dessa realidade, a União Africana (UA), que congrega 55 estados membros, lançou uma campanha para contestar o uso do mapa de Mercator e promover representações mais precisas do continente africano. A iniciativa, batizada de “Correct the Map” (Corrija o Mapa), busca sensibilizar governos e organizações internacionais sobre a necessidade de adotar mapas que reflitam a verdadeira dimensão da África.
“Pode parecer apenas um mapa, mas na realidade não é”, afirmou Selma Malika Haddadi, vice-presidente da Comissão da União Africana, à agência Reuters. Segundo ela, o mapa de Mercator fomenta uma falsa impressão de que a África é “marginal”, apesar de ser o segundo maior continente do mundo em área, com mais de um bilhão de habitantes.
Alternativas e a busca por uma representação mais fiel
Existem diversas alternativas ao mapa de Mercator que oferecem uma representação mais precisa dos tamanhos relativos dos continentes. A projeção de Gall-Peters, por exemplo, preserva as áreas, embora distorça as formas. Outras projeções, como a de Winkel tripel, buscam um compromisso entre a precisão das áreas e a forma dos continentes.
Implicações e a importância da conscientização
É fundamental que a sociedade se conscientize sobre as implicações dos mapas que utiliza. A escolha de uma projeção cartográfica não é neutra, mas sim um ato que reflete valores e visões de mundo. Ao questionar o mapa de Mercator, a União Africana não está apenas reivindicando uma representação mais justa do seu continente, mas também levantando uma importante discussão sobre a necessidade de descolonizar o nosso olhar sobre o mundo.
A iniciativa da União Africana é um passo importante para promover uma visão mais equitativa e precisa do mundo, desafiando representações cartográficas que, historicamente, contribuíram para a marginalização de determinadas regiões. Ao dar visibilidade à verdadeira dimensão da África, a campanha “Correct the Map” contribui para fortalecer a identidade do continente e promover uma compreensão mais justa das relações globais.
Afinal, mapas são ferramentas poderosas que moldam nossa percepção do mundo. Ao escolhermos representações mais precisas e equitativas, podemos construir uma visão global mais justa e inclusiva. É preciso, portanto, repensar a forma como representamos o mundo, buscando alternativas que valorizem a diversidade e promovam a igualdade.