O exército brasileiro nunca se desculpou por seus crimes. Ao contrário, continua comemorando o que chama de revolução de 1964. Durante o governo Bolsonaro, todos os anos se comemorava o 31 de março, data do golpe que levou os militares ao poder. mudança de regime, de acordo com ex-ministro da Defesa, foi um “marco histórico na evolução política brasileira”.
No entanto, o problema remonta muito mais longe, à própria fundação do país. A república, afinal, foi instaurada por um golpe militar em 1889. “Os militares”, como disse certa vez o eminente advogado brasileiro Heráclito Sobral Pinto, “nunca aceitaram não ser donos da república”. Nos 130 anos desde então, os militares pairaram sobre o Brasil – como escreveu o cientista político Adam Przeworski, referindo-se às democracias assediadas por militares arrogantes – “como sombras ameaçadoras, prontas para cair sobre qualquer um que for longe demais para minar seus valores”. interesses”.
E esses interesses são consideráveis. Sem guerra à vista, o Brasil tem a 15º maior exército permanente no mundo, com 351.000 militares ativos, 167.000 oficiais inativos e 233.400 aposentados, segundo o Portal da Transparência. Em termos orçamentários, o governo federal gaste mais na defesa do que na educação, e quase cinco vezes mais do que na saúde. (A propósito, o país tem um enorme sistema de saúde pública.) O orçamento planejado do Ministério da Defesa para este ano é de 23 bilhões de dólares, 77% dos quais se destinam ao pagamento do pessoal.
Os militares desfrutam de muitos privilégios, com seus próprios sistemas de educação, moradia, saúde e até justiça criminal. Curiosamente, eles foram isentos da recente reforma previdenciária no Brasil. Sorte deles: em 2019, o salário médio de um militar aposentado era mais do que seis vezes maior do que a de um civil aposentado.
Não só os militares se beneficiam de tamanha generosidade, mas também suas famílias. Por exemplo, 137.900 filhas solteiras dos militares receberão pensões dos pais para o resto da vida, lista que inclui duas filhas do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustraacusado de torturar centenas de pessoas e se aposentou com o posto de marechal.
Depois que Bolsonaro se tornou presidente em 2019, os militares inundaram o governo civil. Em 2020, 6157 militares – metade na ativa – trabalhava para o governo federal, mais que o dobro do número em 2018. A certa altura, 11 deles 26 ministros do governo Bolsonaro eram oficiais ou aposentados, incluindo o ministro da Saúde durante a maior parte da pandemia, general Eduardo Pazuello, que ainda não foi responsabilizado por seus atos.
O novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, tentou remover gradualmente os militares do governo, especialmente após a insurreição de 8 de janeiro, na qual os militares desempenharam um papel sombrio. Se os militares não participaram dos motins, também não fizeram muito para evitá-los. Em janeiro, Lula demitiu o líder do exército, que supostamente protegeu manifestantes pró-Bolsonaro em um acampamento em Brasília na noite dos ataques. É encorajador que um Juiz da Suprema Corte decidiu que os militares envolvidos nos distúrbios sejam julgados por um tribunal civil.
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