Nos últimos dias, várias bases militares russas, duas delas localizadas a cerca de 500 quilômetros da Ucrânia, foram atacadas por drones. Rússia acusa Ucrânia de atacar bases militares com drones
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou nesta quinta-feira (8) que há “risco” de um ataque ucraniano à Crimeia, península anexada por Moscou em 2014. Vários atentados ucranianos contra alvos russos ocorreram na região, de acordo com Moscou.
Nos últimos dias, várias bases militares russas, duas delas localizadas a cerca de 500 quilômetros da Ucrânia, foram atacadas por drones. Nesta quinta, a frota destacada em Sebastopol, na Crimeia, abateu um dos artefatos, segundo as autoridades locais.
Os ataques, somados a uma série de retiradas do exército russo na Ucrânia, sugerem que, nove meses após o início da invasão, a Rússia tem dificuldades para consolidar suas posições nos combates.
A frota russa do Mar Negro, posicionada no porto de Sebastopol, foi afetada no final de outubro pelo que as autoridades descreveram como um ataque “massivo” de drones, que danificou pelo menos um navio. Em outubro, a ponte que liga a península à Rússia foi parcialmente destruída por uma explosão que Moscou atribuiu às forças ucranianas.
Neste contexto, as autoridades instaladas por Moscou na Crimeia anunciaram a construção de trincheiras, enquanto as forças ucranianas retomaram em novembro o controle de uma parte da região de Kherson, que faz fronteira com a península.
Imagem mostra fumaça após ataque com drone na região de Kursk, no sudoeste da Rússia, em 6 de dezembro de 2022.
Administração regional de Kursk via AP
Prisões na Crimeia
Os ucranianos recorrem cada vez mais a drones para bombardear bases russas na retaguarda, enquanto os russos bombardeiam as infraestruturas energéticas ucranianas, deixando os civis sem luz e aquecimento.
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, informou que seu exército incorporou “sete modelos de drones fabricados na Ucrânia” no mês passado, enquanto antes da ofensiva russa apenas “um ou dois” integravam o arsenal. Nesta quinta-feira, os serviços de segurança russos (FSB) anunciaram a prisão de dois moradores de Sebastopol suspeitos de terem transmitido informações sobre alvos militares à Ucrânia.
Em comunicado, o FSB explicou que um dos suspeitos foi recrutado por Kiev em 2016 e que, desde o início da campanha militar na Ucrânia, forneceu “informações sobre a localização de instalações do ministério da Defesa da Rússia”.
O exército ucraniano se aproximou da Crimeia graças a uma contraofensiva que lhe permitiu recuperar a cidade de Kherson, no sul do país, em meados de novembro. Na região, onde o rio Dnieper serve de linha divisória, a situação é tensa, com bombardeios russos regulares na cidade de Kherson.
Armas nucleares
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu nesta quarta-feira (7) um aumento na tensão nuclear, embora tenha insistido em que não será o primeiro a usar esse tipo de arma no conflito com a Ucrânia.
Em reunião com o Conselho de Direitos Humanos russo transmitida pela TV, o Putin admitiu que o conflito na Ucrânia ainda poderá durar bastante tempo. Desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, na Ucrânia, a Rússia não descarta a possibilidade de recorrer a armas nucleares caso sua integridade territorial seja ameaçada, o que inclui as regiões anexadas da Ucrânia.
“Não estamos loucos, sabemos o que são as armas nucleares”, declarou Putin. “Consideramos as armas de destruição em massa, a arma nuclear, como um meio de defesa. (Usá-la) se baseia no que chamamos de ‘ataque em represália’: se nos atacam, respondemos”, afirmou.
No entanto, acrescentou que “a ameaça de uma guerra nuclear está crescendo” e culpou os americanos e os europeus, que dão forte apoio financeiro e militar à Ucrânia. O porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, negou-se a responder diretamente a Putin, mas indicou que “qualquer conversa sobre armas nucleares é absolutamente irresponsável”.
Pressão internacional
O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que o risco de uso de armas nucleares no conflito na Ucrânia diminuiu, graças à pressão internacional sobre a Rússia. “Há algo que mudou por enquanto: a Rússia cessou suas ameaças de usar a arma nuclear”, assinalou Scholz em entrevista ao grupo de mídia alemão Funke e ao jornal francês “Ouest-France”.
Para Carole Grimaud, professora de Geopolítica na Universidade Paul Valéry, em Montpellier, no sul da França, e especialista em política russa, o recuo de Putin é um recado para a comunidade internacional. “A ameaça nuclear é uma questão preocupante para a população russa”, lembra a especialisa.
“Em relação à comunidade internacional, a declaração de Putin mostra que agora ele está em uma posição defensiva sobre o nuclear, deixando a responsabilidade para os europeus”, analisa. “A pressão ocidental é que acabou tendo um efeito sobre a Rússia”, conclui. A União Europeia propôs nesta quarta-feira adotar sanções contra as forças armadas e outros três bancos da Rússia, como parte de um novo pacote de medidas restritivas impostas devido à guerra na Ucrânia.