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Trabalho, distância e falta de estrutura: os desafios dos estudantes para fazer o Enem


O Profissão Repórter desta terça-feira (14) embarcou na jornada dos candidatos que fizeram Exame Nacional do Ensino Médio e sonham com a faculdade. Assista à íntegra. Veja os destaques do Profissão Repórter
De pontos diferentes do Brasil, os estudantes seguiram a pé, de ônibus, e até de barco para o local das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Muitos se equilibram entre o trabalho e a escola, mas não desistem de estudar. O Profissão Repórter desta terça-feira (14) embarcou na jornada dos estudantes que sonham com a faculdade.
Em Itapecerica da Serra, Grande São Paulo, a repórter Danielle Zampollo registrou um dia da rotina do aluno Eduardo Boneso, de 21 anos, que concilia o trabalho de garçom na Zona Sul de SP com os estudos em um cursinho popular. Ele sonha em se tornar arquiteto.
Cumprindo um expediente até as 4h no trabalho, no dia do exame, o estudante encerrou a jornada de trabalho e, após duas horas no transporte público, chegou em casa durante o amanhecer.
Eduardo Boneso, de 21 anos, pegou 4 ônibus para chegar até o local do Enem
“Estou cansado, muito cansado, mas estou correndo atrás do meu sonho”, revelou.
Eduardo pôde descansar por apenas três horas antes do exame. “Às vezes ele dorme duas horas por noite ou nem isso. Tem dia que ele sai de casa virado”, contou a mãe de Eduardo.
“A gente tem que aguentar, não tem muito o que fazer”, afirmou Eduardo.
A mãe do garçom chegou a estudar, mas teve que trancar a matrícula por falta de dinheiro. “Não consegui continuar. Falta de recurso mesmo, deixei, por enquanto, pausado, meu sonho de continuar estudando”, disse a mãe de Eduardo.
Eduardo Boneso, de 21 anos, concilia o trabalho com os estudos
O jovem pega três ônibus para chegar ao trabalho na Zona Sul de São Paulo. Nesse meio tempo, ele aproveita para dormir.
“Me sinto impotente, queria muito estar em casa descansando. (…) É difícil conciliar trabalho e estudo, mas a gente tem que estudar pra mudar nossa realidade”, completou Eduardo.
Eduardo Boneso, de 21 anos, trabalha como garçom.
Reprodução/Profissão Repórter
O Exame Nacional do Ensino Médio é, atualmente, a principal forma de jovens de baixa renda ingressarem numa universidade, mas as dificuldades ainda são muitas.
Primeira da família
Assim como Eduardo, a estudante Adria Letícia Gomes também enfrentou uma viagem longa para chegaram ao local de aplicação do Enem. O sonho da jovem é cursar Direito. A repórter Mayara Teixeira e o repórter cinematográfico Eduardo De Paula acompanharam Adria nesta jornada para entrar na faculdade.
A família vive em um igarapé no Baixo Acará, região próxima a Belém onde ocorre o exame. Barco, caminhada, ônibus, moto e mais uma caminhada são parte da rotina da estudante.
Para chegar ao seu aulão, Adria Letícia pega um barco, moto, ônibus e ainda caminha
Ela será a primeira da família a ter ensino superior. A mãe, Adriana Amara, parou de estudar quando engravidou e só recentemente, inspirada pela filha, voltou à escola. Ela está prestes a concluir o Ensino Médio e no futuro quer ser técnica de enfermagem, quem sabe até fazer o Enem.
“Ela ficava falando: ‘A área da medicina é tão bonita, da enfermagem’. Eu falei: ‘Por que a senhora não tenta? Não termina seu ensino médio e faz um Enem’”, disse Adria.
Adria Letícia Gomes pretende estudar Direito.
Reprodução/Profissão Repórter
A renda da família vem da produção de açaí. Segundo o padrasto de Adria, o objetivo é promover educação para as duas meninas. “Eu não tive essa oportunidade que ela está tendo agora. A gente está apoiando para ela realizar o sonho dela”, contou.
Cursos populares
Adria e Eduardo têm mais uma coisa em comum: os dois frequentaram cursos populares para melhorar o rendimento no Enem e conseguir uma vaga na universidade.
A jovem de Acará (PA) frequentou as aulas do Emancipa, uma rede de cursinhos populares com unidades em todo o Brasil. Só em Belém são nove, com mais de 150 voluntários, que dão as aulas.
Professores da Rede Emancipa fazem aulão no Pará.
Reprodução/Profissão Repórter
Eduardo é aluno do curso popular da Rede Ubunto, que promoveu momentos de descontração para os estudantes na véspera do exame.
“O ano de vestibular é muito difícil para o nosso jovem. É um ano de pressão social, da família. Precisa desses momentos de descompressão. A gente precisa que eles tenham contato com o verde”, contou Ana Carolina Carvalho, coordenadora da Rede Ubuntu.
“Dois dias antes da prova você não sabe se você estuda, se você relaxa, se você bebe uma água, se você tenta aprender o que você não aprendeu o ano inteiro”, brincou Ana Luísa de Lima, estudante.
Alunos do curso popular Ubuntu, na véspera do Enem.
Reprodução/Profissão Repórter
Boa parte dos estudantes da Rede Ubunto estudam para serem os primeiros de suas famílias na universidade.
“Meu pai não terminou a escola, ele ficou no ensino fundamental”, contou Rebeca Silva, auxiliar administrativo.
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As 10 questões mais difíceis do Enem 2023 respondidas em VÍDEOS
“Se você é um jovem da periferia, às vezes você tem que escolher, ou você trabalha pra ter o que comer e onde morar, ou você estuda”, acrescentou Agne Barbosa, estudante.
O curso da Rede Ubunto é gratuito e, atualmente, atende 200 jovens da periferia de São Paulo.
Enem mais acessível e focado no cotidiano
O Profissão Repórter entrevistou educadores que são a favor de um Exame Nacional que não seja excessivamente difícil. É o caso de Giuseppe Nobilioni, professor de matemática há 56 anos.
Professores pedem um Enem mais acessível e focado no cotidiano
“Uma prova com 50 questões fáceis classifica bem. Os que são bons fazem mais rapidamente, erram menos conta, tem menos chances de errar. Uma questão difícil nivela por baixo, a maioria erra”, disse.
Professores de biologia elogiaram a aplicação das questões no cotidiano das pessoas. “Falam sobre gordura acumulado proveniente, por exemplo, do leite. Sobre hormônios masculinos e femininos, anemias provocadas por falta de ferro”, afirmou Luiz Carlos Bellinello.
Veja a íntegra do Profissão Repórter:
Edição de 14/11/2023
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