A crescente intersecção entre tecnologia e política tornou-se um tema inescapável, especialmente nos Estados Unidos, onde as fronteiras entre o Vale do Silício e Washington se diluem a cada dia. A presença de CEOs de gigantes como Amazon, Meta e Alphabet em lugares de destaque na posse de Donald Trump, à frente até mesmo de indicados ao gabinete, simbolizou a profunda ligação entre as empresas de tecnologia e as agendas políticas nacionais.
Nesse contexto, a Europa busca trilhar um caminho diferente. A União Europeia (UE) tem intensificado seus esforços para alcançar a chamada “soberania digital”, um conceito que engloba a capacidade de controlar sua própria infraestrutura tecnológica, dados e serviços digitais. Essa busca por autonomia é impulsionada por diversas preocupações, desde a proteção de dados dos cidadãos até a garantia da segurança cibernética e a promoção da inovação local. Um artigo da The Next Web detalha essa movimentação europeia.
Os Desafios da Dependência Tecnológica
A dependência de empresas de tecnologia estrangeiras, principalmente americanas e chinesas, expõe a Europa a riscos significativos. Em termos de privacidade, a legislação europeia, como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) [https://gdpr-info.eu/], estabelece padrões elevados para a proteção de dados pessoais. No entanto, a coleta e o armazenamento de dados por empresas sediadas fora da UE levantam questões sobre a efetiva aplicação dessas leis e o acesso a informações sensíveis.
Além disso, a dependência tecnológica pode comprometer a segurança cibernética. A utilização de softwares e hardwares desenvolvidos por empresas estrangeiras aumenta a vulnerabilidade a ataques cibernéticos e a espionagem. A UE tem se empenhado em fortalecer suas capacidades de defesa cibernética e em promover o desenvolvimento de tecnologias seguras e confiáveis [https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/policies/cybersecurity-strategy].
Estratégias para a Soberania Digital
A UE tem adotado diversas estratégias para alcançar a soberania digital. Uma delas é o investimento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias inovadoras, como inteligência artificial, computação em nuvem e internet das coisas. O programa Horizonte Europa [https://ec.europa.eu/info/research-and-innovation/funding/funding-opportunities/funding-programmes-and-open-calls/horizon-europe_en] destina bilhões de euros para projetos de pesquisa e inovação em áreas-chave para a soberania digital.
Outra estratégia importante é a promoção de um mercado único digital, que visa facilitar o comércio eletrônico e a livre circulação de dados dentro da UE. A criação de um ambiente regulatório favorável à inovação e à concorrência é fundamental para o desenvolvimento de empresas de tecnologia europeias capazes de competir globalmente. A Lei de Mercados Digitais (DMA) [https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/policies/digital-markets-act] e a Lei de Serviços Digitais (DSA) [https://digital-strategy.ec.europa.eu/en/policies/digital-services-act] são exemplos de iniciativas regulatórias que visam garantir uma concorrência justa e a proteção dos direitos dos usuários no ambiente digital.
A UE também tem buscado fortalecer a cooperação internacional em questões digitais, defendendo a necessidade de uma governança global da internet que seja aberta, transparente e baseada em princípios democráticos. A participação ativa em fóruns internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é essencial para moldar as normas e os padrões globais em relação à tecnologia e à internet.
Um Longo Caminho pela Frente
Alcançar a soberania digital é um processo complexo e desafiador, que exigirá um esforço contínuo e coordenado por parte dos governos, das empresas e da sociedade civil. A Europa tem um longo caminho a percorrer para reduzir sua dependência tecnológica e construir uma infraestrutura digital resiliente e autônoma. No entanto, a crescente conscientização sobre os riscos da dependência e o compromisso político em promover a soberania digital indicam que a UE está no caminho certo.
A busca pela soberania digital não se limita à Europa. Outros países e regiões do mundo também estão buscando fortalecer sua autonomia tecnológica, reconhecendo a importância de controlar sua própria infraestrutura digital para garantir a segurança, a privacidade e a prosperidade econômica. A soberania digital é um conceito fundamental para o século XXI, e a forma como os países e as regiões abordam esse desafio terá um impacto significativo no futuro da tecnologia e da sociedade.
