Sob protesto, líderes mundiais participam de polêmico funeral de Estado de Shinzo Abe no Japão | Mundo

A cerimônia, normalmente dada a governantes e ex-governantes, causou controvérsia e protestos nos últimos dias.

Abe foi o premiê que ocupou o cargo por mais tempo e uma das figuras mais reconhecidas do país, lembrado por cultivar alianças internacionais e por sua estratégia econômica apelidada de “Abenomics”. Ele renunciou em 2020 por um problema de saúde recorrente, mas continuou como uma importante figura pública e fazia campanha pelo partido do governo quando um homem armado o matou a tiros em 8 de julho.

O assassinato estremeceu o país, que tem baixos níveis de crimes violentos. Mas a decisão de organizar para ele um funeral de Estado, o segundo para um ex-primeiro-ministro no pós-guerra, gerou uma crescente oposição, com cerca de 60% dos japoneses contrários ao evento, segundo pesquisas recentes.

O funeral tem cerca de 4.300 convidados, incluindo 700 deles estrangeiros, entre eles a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e os primeiros-ministros da Índia, Narendra Modi, e Austrália, Anthony Albanese.

O atual primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, e o também ex-premiê Yoshihide Suga, que substituiu Abe quando ele deixou o cargo de primeiro-ministro, discursaram na cerimônia.

O imperador e a imperatriz do Japão não vão participar por serem figuras nacionais neutras, mas o príncipe herdeiro Akishino e sua esposa devem levar flores no final do serviço de 90 minutos.

Quando a família de Abe realizou um funeral privado, milhares de japoneses foram prestar suas homenagens e muitos devem comparecer na manhã desta terça para deixar flores perto do local do funeral em Tóquio.

A previsão é que as cinzas de Abe cheguem ao local ao som de uma salva de 19 tiros, e o porta-voz do governo Hirokazu Matsuno dê início à cerimônia por volta das 14h locais (2h no horário de Brasília), antes do hino nacional e um momento de silêncio.

Já o premiê canadense, Justin Trudeau, desistiu de participar após o impacto do furacão Fiona em seu país.

O evento contará com uma enorme operação de segurança, responsável por grande parte do custo do funeral.

As deficiências de segurança que permitiram que um atirador se aproximasse de Abe levaram a uma reforma da polícia. A mídia local informa que 20 mil policiais estarão presentes para proteger o funeral.

O homem preso pela morte de Abe afirmou que atacou o ex-premiê por acreditar que ele tinha vínculos com a Igreja da Unificação, com a qual estava irritado devido às grandes doações feitas por sua mãe à chamada “seita Moon”.

O fato levou a um novo escrutínio desse grupo religioso e seus métodos de arrecadação de fundos, e perguntas desconfortáveis para a classe política japonesa. O partido do governo admitiu que metade de seus legisladores tem ligações com a igreja.

O premiê Fumio Kishida prometeu que seu Partido Liberal Democrático (PLD) romperá relações com a igreja, mas o escândalo agravou o incômodo com o funeral de Estado.

Milhares protestaram pela cerimônia e um homem ateou fogo a si mesmo perto do gabinete do primeiro-ministro, deixando um bilhete se opondo. Alguns legisladores de oposição anunciaram que vão boicotar o funeral.

Há várias razões por trás da polêmica, incluindo a acusação de que Kishida aprovou a cerimônia unilateralmente, sem consultar o Parlamento, enquanto outros reprovam o custo de quase 12 milhões de dólares do funeral de Estado.

Também pesam o legado polarizante da gestão de Abe, marcada por denúncias de nepotismo, a rejeição a seu nacionalismo e seus planos de reformar a constituição pacifista.

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