Skank 'acende o sol' na noite do Mineirão ao sair de cena com show histórico de momentos catárticos


Aparição de Milton Nascimento na canção ‘Resposta’ é a surpresa de apresentação eletrizante que uniu 50 mil pessoas na emoção de se despedir de uma das bandas mais relevantes do pop brasileiro. Skank acarinha Milton Nascimento no último show da banda, feito ontem, 26 de março, no estádio ‘Mineirão’
Alexandre Stehling / Divulgação
Resenha de show
Título: Skank no Mineirão – O último show
Artista: Skank
Local: Mineirão (Belo Horizonte, MG)
Data: 26 de março de 2023
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Se uma canção serve para acender o sol no coração de uma pessoa, como sentencia a letra de Uma canção é pra isso (Samuel Rosa e Chico Amaral, 2006), imagine 33 canções ouvidas por cerca de 50 mil pessoas com corações conectados na mesma emoção de assistir ao último show de uma das bandas mais importantes e populares do universo pop brasileiro.
O produto da imaginação deve se afinar com o que aconteceu ontem, 26 de março de 2033, no derradeira apresentação do Skank. Ao sair de cena com show histórico que gerou vários momentos catárticos ao longo, após 32 anos de grandes e impagáveis serviços prestados ao pop nacional, o Skank acendeu o sol na noite do Mineirão, estádio de Belo Horizonte (MG), terra natal do quarteto formado em 1991.
Das 19h30m, hora em que as luzes se apagaram no Mineirão, às 22h30m, hora em que o quarteto saiu do palco após tocar Tão seu (Samuel Rosa e Chico Amaral, 1996), Haroldo Ferretti (bateria), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Samuel Rosa (voz e guitarra) passaram em revista um cancioneiro já em si ensolarado que harmonizou a chama do rock’n’roll, as cores da Jamaica – com recorrentes incursões pelo reggae e pelo rocksteady – e as canções de amor.
Aliás, uma das refinadas baladas do Skank, Resposta (Samuel Rosa e Nando Reis, 1998), incendiou o bis por conta da adesão de Milton Nascimento, entidade da MPB. O cantor foi ovacionado ao coro de “Bituca! Bituca!” ao fazer a participação que pegou o público e a imprensa de surpresa.
“Sem a existência de Milton Nascimento, não estaríamos aqui hoje”, disse Samuel Rosa em bom português, sublinhando o que já havia sido dito sem palavras com a escolha da canção Dois rios (Samuel Rosa, Lô Borges e Nando Reis, 2003) para abrir o show. Afinal, se o Clube da Esquina pôs Minas Gerais no mapa pop do Brasil no início dos anos 1970, o Skank pôs Belo Horizonte (MG) na rota do rock brasileiro no alvorecer da década de 1990.
Antes do coro que enalteceu a nobreza de Milton Nascimento, as 50 mil pessoas já tinha se unido várias vezes para bradar em uma só voz somente uma palavra: “Skank!”, “Skank!”, “Skank!”. “Assim o coração não aguenta… A gente já passou dos 50…”, gracejou Samuel, com visível emoção, também transparente no rosto do baterista Haroldo Ferretti.
O baixista Lelo Zaneti em momento triunfante no último show do Skank
Alexandre Stehling / Divulgação
Ao longo do show, o vocalista contextualizou a despedida do grupo, lembrando que, quando o Skank foi formado, a expectativa era saber ser a banda ia conseguir durar dois ou três anos. Foram, enfim, 32 anos pautados pela coerência e por salutar coragem de se renovar e de sair de cena na hora certa antes que uma sobrevida diluísse obra sólida.
E o Skank, diga-se, foi corajoso até o último show, incluindo no roteiro músicas menos badaladas da discografia do quarteto. Por mais que as lembranças de músicas como Esquecimento (Samuel Rosa e Nando Reis, 2014) e Formato mínimo (Samuel Rosa e Rodrigo Leão, 2003) tenham baixado momentaneamente a alta voltagem do show, elas simbolizaram a força da personalidade de banda que nunca se pareceu com nenhuma outra. Que construiu a própria identidade musical com repertório autoral.
Não por acaso, quando fez abordagens de músicas alheias, o Skank se apropriou delas. Tanto o rock É Proibido Fumar (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1964) – cantado com a tradicional inserção pelo público da palavra ‘maconha’ no verso-título – quanto o reggae Vamos fugir (Give me your love) (Gilberto Gil e Liminha, 1984), regravados pelo Skank em 1994 e em 2004, já pareceram mais da banda do que de Roberto Carlos e de Gilberto Gil, respectivamente, quando incendiaram o Mineirão na noite de ontem.
O sol também esteve a pino quando a banda alinhou hits infalíveis como Te ver (Samuel Rosa e Chico Amaral, 1994), É uma partida de futebol (Samuel Rosa e Nando Reis, 1996), Garota nacional (Samuel Rosa e Chico Amaral, 1996), Saideira (Samuel Rosa e Rodrigo Leão, 1998), Três lados (Samuel Rosa e Chico Amaral, 2000) – com o público girando camisas ao redor das próprias cabeças, a pedido de Samuel – e Vou deixar (Samuel Rosa e Chico Amaral, 2003).
O tecladista Henrique Portugal se contagia com a ovação do público no último show do Skank
Alexandre Stehling / Divulgação
Nem dá para dizer que aconteceu algo excepcional no Mineirão porque essas músicas sempre provocam catarses no público do Skank. E o que dizer das inabaláveis baladas de amor que às vezes até caem para o reggae ou para o pop, como Acima do sol (Samuel Rosa e Chico Amaral, 2001), Sutilmente (Samuel Rosa e Nando Reis, 2008) e, claro, a Balada do amor inabalável (Samuel Rosa e Fausto Fawcett, 2000)?
Tudo isso e um pouco mais foi cantado pela banda no Mineirão, clareando a escuridão da noite e puxando o fio de paixão que, como ressaltou Samuel Rosa em uma das muitas falas do vocalista, continuará após a vida cênica do Skank.
O sol se pôs às 22h30m, mas, basta ouvir qualquer grande canção do Skank no celular ou no toca-discos, que o sol nascerá de novo.
♪ O crítico e colunista musical do g1 viajou a Belo Horizonte a convite da produção do Skank.
O baterista Haroldo Ferretti em ação no último show do Skank
Alexandre Stehling / Divulgação
Skank agradece o carinho do público ao fim do último show da banda, no Mineirão, em 26 de março de 2023
Alexandre Stehling / Divulgação

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