No show para 1,6 milhão de fãs em Copacabana, uso de sons gravados funcionou bem, mas a presença de vozes encobrindo a de Madonna fez pessoas reclamarem nas redes sociais. Madonna leva fãs ao delírio no Rio de Janeiro com o maior show de sua carreira
Quem é fã de Madonna já sabia que a ideia desta turnê, que terminou no Rio no sábado (4), era usar as gravações de estúdio para fazer novas versões ao vivo, sem uma banda tocando.
No show para 1,6 milhão de pessoas na Praia de Copacabana, o uso de sons gravados funcionou bem, mas a presença de vozes encobrindo a de Madonna prejudicou a performance vocal em músicas como “Everybody”.
Nas redes sociais, muita gente fez comentários que são comuns quando acontece um mega show pop. São frases como:
“Madonna não está cantando, está dublando”
“Madonna está usando playback”
“Tudo foi gravado antes e nada é ao vivo”
Para entender essas críticas, é preciso explicar algumas questões:
Até bandas de rock, como o Iron Maiden, usam sons pré-gravados, que não são tocados ao vivo;
Quase todo artista faz playback em mega shows, se considerarmos que o termo se refere a estes sons de fundo, gravados antes em estúdio;
Mas isso não significa que artistas fingem estar tocando ou cantando. Na maioria das vezes, são sons e vozes de apoio, complementares. Dublar ou fingir pega mal;
O playback 100% fingido e dublado só é mais aceito em programas de TV ou eventos específicos, como os do intervalo do Super Bowl, a final do futebol americano nos EUA.
Em grandes shows pop, como o de Madonna, o mais comum é o revezamento entre duas ações: cantar 100% ao vivo e ficar apenas segurando o microfone sem cantar, ao som de vozes de apoio gravadas antes (do próprio artista e de backing vocals).
Madonna durante megashow em Copacabana
Pablo PORCIUNCULA / AFP
Há divas pop que preferem escancarar esse recurso: elas tiram o microfone de perto da boca quando está sendo usada uma gravação de voz e apenas usam o microfone quando estão cantando ao vivo. Madonna não é dessas. A rainha do pop atua como se estivesse cantando em quase 100% do tempo.
Produtor já explicou turnê sem banda
Produtor musical da turnê, Stuart Price comentou, no começo da “The Confessions Tour”, sobre fãs que costumavam perguntar se alguns dos vocais eram pré-gravados. É verdade que Madonna apenas dubla em vários momentos?
“Esse é um grande elogio porque é tudo vocal ao vivo. Há seções com ‘spoken word’ em que usamos sons gravados. Mas todos os vocais são ao vivo. Há vocais de apoio – sempre houve – mas os vocais principais são todos ao vivo. Eu espero que se ouça uma humanidade no vocal também”, Price respondeu.
Ele acrescentou que a decisão de Madonna ficar no centro da apresentação, sem a presença de músicos, foi dela.
“Embora eu adore ter uma banda no palco, achei uma ideia interessante”, ele explicou. A partir dessa ideia de não ter banda, ele sugeriu que as gravações de estúdio fossem “desconstruídas, manipuladas e reinventadas”. A missão foi cumprida.
Pabllo Vittar participa do show de Madonna em Copacabana
Aula de playback
Em 2019, o g1 conversou com especialistas em uso de bases pré-gravadas em shows para um podcast que é uma espécie de “aula de playback”.
Os seguintes profissionais foram entrevistados:
Andreas Schmidt, dono da Áudio Biz, empresa responsável pela parte técnica de eventos como todas as edições do Lollapalooza no Brasil
Victor Pelúcia, engenheiro de som e diretor técnico de festivais e de shows (inclusive da Anitta)
Zegon, DJ, produtor e integrante do duo Tropkillaz, com currículo que vai de Planet Hemp a Anitta
Ouça o podcast g1 ouviu com explicações sobre uso de playback: