Show de álbum icônico lançado por Gal Costa em 1971 teria sido reapresentado pela cantora em festival no último sábado


Disco ao vivo ‘Fa-Tal – Gal a todo vapor’ é um símbolo da contracultura, do ‘desbunde’ e da resistência à ditadura; trabalho seria celebrado em apresentação no Primavera Sound, em SP, que foi desmarcada após a artista passar por cirurgia. Cantora morreu nesta quarta. Capa do álbum ‘Fa-Tal – Gal a todo vapor’, de Gal Costa
Arte de Luciano Figueiredo e Oscar Ramos
Um dos shows cancelados por Gal Gosta um mês antes de morrer seria dedicado a um dos álbuns mais importantes da história da música brasileira: “Gal a todo vapor” (1971), também conhecido como “Fa-Tal”. A obra é considerada um símbolo da contracultura no país, do movimento conhecido como “desbunde” e da resistência à ditadura militar.
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Marcada originalmente para acontecer no sábado (5), no festival Primavera Sound, em São Paulo, a apresentação foi suspensa em outubro porque, no mês anterior, a cantora havia passado por cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal.
Bastidores dos últimos álbuns de Gal mostram como ela manteve o espírito tropicalista até o fim; ouça no podcast g1 ouviu
Uma das maiores artistas da história da música brasileira, Gal tinha 77 anos de idade e 55 de carreira. A morte dela foi confirmada na manhã desta quarta-feira (9) por sua assessoria de imprensa. A causa não havia sido anunciada até a última atualização desta reportagem.
Quem foi Gal Costa
A estreia do show que resultaria no vinil duplo “A todo vapor” ocorreu em outubro de 1971, na inauguração do teatro Tereza Raquel, em Copacabana. Em seu blog no g1, Mauro Ferreira classificou a obra como “o retrato mais bem lapidado de Gal como a voz da resistência, sob a batuta do poeta e diretor Waly Salmoão (1943-2003)”. “A voz que lançou Luiz Melodia (1951-2017) com ‘Pérola Negra’.”
“Quando você me ouvir cantar / Venha, não creia, eu não corro perigo / Digo, não digo, não ligo, deixo no ar / Eu sigo apenas porque eu gosto de cantar”, canta Gal em “Como 2 e 2”, composta por Caetano Veloso, umas das primeiras faixas.
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Em 2021, ao escrever sobre “Fa-Tal – A todo vapor”, Mauro Ferreira lembrou que o show de 1971 consolidou Gal como um símbolo da contracultura em plena ditadura militar (1964-1988), três anos após o AI-5, um dos atos mais repressores do período.
“O show foi consequência natural da transformação da cantora na porta-voz dos anseios da turma tropicalista que se sentiu sem liderança com a partida de Caetano Veloso e Gilberto Gil para exílio forçado na Europa a partir de janeiro de 1969”, escreveu o colunista.

Shows cancelados
No comunicado em que anunciou o cancelamento dos shows a partir do mês passado, incluindo a apresentação que celebraria “Fa-Tal – A todo vapor”, o diretor da turnê, Nilson Raman, afirmou que a recomendação médica era que a cantora ficasse até o fim de novembro longe dos palcos.

Ainda em novembro, Gal Costa tinha na agenda shows marcados na Europa. Também estavam previstas apresentações em São Paulo, em dezembro, com ingressos esgotados, e no Rio, em 2023. O último show ocorreu em 17 de setembro, no festival Coala, em São Paulo.
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