Riot no Brasil e ataque de 6 de janeiro seguiram um manual digital semelhante, dizem especialistas

No TikTok e no YouTube, vídeos que denunciam fraude eleitoral nas últimas eleições brasileiras estão circulando há dias.

Nos serviços de mensagens WhatsApp e Telegram, a imagem de um cartaz anunciando data, horário e local dos protestos contra o governo foi copiada e compartilhada no final de semana.

E no Facebook e no Twitter, hashtags projetadas para evitar a detecção pelas autoridades foram usadas pelos organizadores ao descerem sobre prédios do governo na capital, Brasília, no domingo.

Um dia após o milhares de pessoas invadiu prédios do governo para protestar contra o que eles falsamente afirmam ser uma eleição roubada, pesquisadores de desinformação estão estudando como a internet foi usada para atiçar a raiva e organizar grupos de extrema-direita antes dos distúrbios. Muitos estão fazendo uma comparação com os protestos de 6 de janeiro, dois anos atrás, nos Estados Unidos, onde milhares invadiram o prédio do Capitólio em Washington. Em ambos os casos, dizem eles, foi usado um manual no qual grupos online, chats e sites de mídia social desempenharam um papel central.

“As plataformas digitais foram fundamentais não só no terrorismo doméstico de extrema direita no domingo, mas também em todo o longo processo de radicalização online dos últimos 10 anos no Brasil”, disse Michele Prado, pesquisadora independente que estuda os movimentos digitais e o extrema direita brasileira.

Ela disse que os apelos à violência têm “aumentado exponencialmente desde a última semana de dezembro”.

Ela e outros pesquisadores de desinformação apontaram o Twitter e o Telegram como desempenhando um papel central na organização de protestos. Em postagens nos canais brasileiros do Telegram vistos pelo The New York Times, houve apelos abertos à violência contra os políticos de esquerda brasileiros e suas famílias. Também havia endereços de escritórios do governo para os manifestantes atacarem.

Em uma imagem, que o Times encontrou em mais de uma dezena de canais do Telegram, havia um chamado para que os “patriotas” se reunissem em Brasília no domingo para “marcar um novo dia” de independência. Abaixo de muitos dos cartazes havia detalhes dos horários de reunião dos manifestantes.

A hashtag “Festa da Selma” também foi amplamente divulgada no Twitter, inclusive por extremistas de direita que já haviam sido banidos da plataforma, disse Prado.

Nos meses desde que Elon Musk assumiu o Twitter, figuras de extrema-direita de todo o mundo tiveram suas contas restabelecidas como uma anistia geral, a menos que violassem as regras novamente.

A Sra. Prado disse que pesquisadores de desinformação no Brasil têm relatado as contas ao Twitter na esperança de que a empresa tome uma atitude.

O Twitter e o Telegram não responderam aos pedidos de comentários.

A Meta, controladora do Facebook, Instagram e WhatsApp, disse que os ataques de domingo foram um “evento de violação” e que a empresa estava removendo conteúdo de suas plataformas que apoiavam ou elogiavam os ataques a prédios do governo no Brasil.

Os manifestantes no Brasil e nos Estados Unidos foram inspirados pelas mesmas ideias extremistas e teorias da conspiração e ambos se radicalizaram online, disse Prado. Em ambos os casos, ela acrescentou, a mídia social desempenhou um papel crucial na organização de ataques violentos.

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