O referendo que a Rússia organizou para tentar anexar 15% do território ucraniano deve terminar nesta terça-feira (27).
A votação começou na sexta-feira nas províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, nas regiões leste e sul da Ucrânia.
A Ucrânia e os países do Ocidente afirmam que o referendo é uma farsa e que não vai reconhecer o resultado.
Local de votação de referendo de anexação da Rússia em Donetsk — Foto: REUTERS/Alexander Ermochenko
O governo russo afirma que quer livrar a Ucrânia de nacionalistas e proteger as comunidades de pessoas que falam russo no país.
O governo ucraniano e os países do Ocidente descrevem o conflito como uma guerra contra a Ucrânia.
Militar vota em referendo em Luhansk, região controlada por separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia — Foto: AP
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a situação militar em Donetsk, uma das quatro áreas onde as votações estão ocorrendo, é difícil.
“Estamos fazendo tudo para conter a atividade inimiga. Este é nosso objetivo número 1 agora, porque o Donbass (região leste da Ucrânia) ainda é o objetivo número 1 para os ocupantes”, afirmou.
Na semana passada, os dirigentes da ocupação apoiada pela Rússia fizeram fila para solicitar referendos sobre a adesão à Rússia.
Zelensky durante visita a Isium, no nordeste Ucrânia — Foto: Assessoria da presidência/via REUTERS
As autodenominadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, que Putin reconheceu como independentes pouco antes da guerra, e funcionários russos instalados nas regiões de Kherson e Zaporizhzhia pediram votos.
No fim de semana, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que a Rússia defenderá qualquer território que anexar usando qualquer arma em seu arsenal.
O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse no domingo que os EUA responderão a qualquer uso russo de armas nucleares e disse que a Moscou sabe “exatamente o que isso significaria”.
Questionado sobre os comentários de Sullivan, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que existem canais de diálogo para falar sobre esses temas.
Dimitri Medvedev, ex-primeiro-ministro da Rússia, e Vladimir Putin, o presidente, em reunião governamental no dia 15 de janeiro de 2020 — Foto: Sputnik/Alexey Nikolsky/Kremlin/ via Reuters
Um aliado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, emitiu um novo aviso nuclear à Ucrânia e ao Ocidente nesta terça-feira (27), enquanto os referendos anunciados pela Rússia como um prelúdio para anexar quatro regiões ucranianas entraram em seu quinto e último dia.
O confronto da Rússia com o Ocidente aumentou a inflação global e aguçou as crises energéticas e alimentares em muitos países desde a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, que foi recebida por duras sanções ocidentais e medidas retaliatórias na Rússia.
O aviso nuclear de terça-feira por Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, é um dos vários emitidos por Putin e seus associados nas últimas semanas.
Analistas dizem que eles foram projetados para deter a Ucrânia e o Ocidente, sugerindo uma prontidão para usar armas nucleares táticas para defender o território recém-anexado, onde as forças russas enfrentaram fortes contraofensivas ucranianas nas últimas semanas.
Semana decisiva no Legislativo russo
A agência de notícias TASS publicou um texto na semana passada no qual se dizia que o Legislativo da Rússia poderia debater um projeto de lei sobre a incorporação de partes da Ucrânia já na quinta-feira.
Outra agência, a RIA Novosti, já disse que Putin poderia estar se preparando para fazer um discurso em uma sessão do Legislativo na sexta-feira.
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Quem controla as regiões?
Hoje, nenhuma das províncias em questão está totalmente sob o controle de Moscou. Há combates em andamento ao longo de toda a linha de frente, e as forças ucranianas relatam mais avanços desde que derrotaram as tropas russas na província de Kharkiv, no início deste mês.
O prefeito exilado de Melitopol, controlada pela Rússia, na região de Zaporizhzhia, acusou a Rússia de alistar à força homens ucranianos em áreas ocupadas em suas forças armadas e denunciou o referendo como uma farsa.
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O governador ucraniano de Luhansk, Serhiy Gaidai, disse que autoridades apoiadas pela Rússia estavam carregando urnas de porta em porta, acompanhadas por autoridades de segurança, e que os nomes dos moradores eram anotados se não votassem conforme exigido.
Moscou diz que a votação é voluntária e a participação é alta. Quando realizou um referendo na Crimeia depois de tomar aquela península em 2014, declarou que 97% das pessoas votaram pela anexação.