Alassane Ouattara foi reeleito para um quarto mandato como presidente da Costa do Marfim em uma votação que, apesar da vitória esmagadora, levanta sérias questões sobre o estado da democracia no país. Os resultados oficiais, divulgados pela Comissão Eleitoral Independente (CIE), apontam para uma vitória com quase 90% dos votos, um número que, por si só, acende o alerta sobre a legitimidade do processo eleitoral.
A baixa participação eleitoral, um fator apontado como responsável pela relativa tranquilidade no dia da votação, paradoxalmente, serve como um termômetro do descontentamento popular e da falta de confiança nas instituições políticas. Aos 83 anos, Ouattara enfrenta acusações de reprimir a dissidência, o que lança uma sombra sobre sua liderança e a promessa de um governo justo e inclusivo.
Um Mandato Controverso
A busca por um quarto mandato já era controversa, considerando que a Constituição da Costa do Marfim estabelece limites para a reeleição. A interpretação de Ouattara sobre as regras constitucionais, argumentando que uma nova Constituição em 2016 zerou seu contador de mandatos, gerou fortes críticas da oposição e de observadores internacionais. Essa manobra legal, vista por muitos como uma forma de se perpetuar no poder, aprofundou a crise política e social no país.
O Peso do Passado e os Desafios do Presente
A Costa do Marfim carrega um histórico de instabilidade política e conflitos. As eleições de 2010, por exemplo, mergulharam o país em uma guerra civil que deixou milhares de mortos e um legado de divisão e ressentimento. A sombra desse passado paira sobre o presente, e a reeleição de Ouattara reacende temores de que a paz e a estabilidade conquistadas a duras penas possam estar ameaçadas.
Oposição Enfrenta Repressão e Exílio
Muitos líderes da oposição foram presos ou forçados ao exílio, o que demonstra o ambiente de intolerância política e a supressão de vozes discordantes. Sem uma oposição forte e atuante, o debate democrático fica comprometido e a possibilidade de um governo verdadeiramente representativo se distancia. A comunidade internacional tem um papel crucial a desempenhar na defesa dos direitos humanos e na promoção de um diálogo inclusivo na Costa do Marfim.
Implicações Regionais e o Papel da Comunidade Internacional
A situação na Costa do Marfim tem implicações para toda a região da África Ocidental. A instabilidade política em um país como a Costa do Marfim, que já foi um modelo de desenvolvimento e prosperidade, pode ter um efeito cascata em seus vizinhos, agravando crises humanitárias e conflitos transfronteiriços. A comunidade internacional, incluindo a União Africana e as Nações Unidas, precisa estar atenta e disposta a intervir de forma construtiva, oferecendo apoio para a resolução pacífica de conflitos e a promoção de eleições livres e justas.
Um Futuro Incerto
O futuro da Costa do Marfim permanece incerto. A reeleição de Ouattara, em meio a controvérsias e acusações de repressão, lança dúvidas sobre a capacidade do governo de unir o país e promover um desenvolvimento inclusivo e sustentável. A construção de uma sociedade justa e democrática exige um compromisso genuíno com o Estado de Direito, o respeito aos direitos humanos e a promoção do diálogo entre todas as forças políticas e sociais. A Costa do Marfim precisa superar a polarização e o medo para construir um futuro de paz, prosperidade e justiça para todos os seus cidadãos.
Resta saber se o presidente Ouattara conseguirá, neste seu último mandato, deixar um legado de reconciliação e progresso, ou se a Costa do Marfim continuará refém de um passado turbulento e de um presente marcado por tensões e incertezas.
