‘Não vejo como isso pode acontecer, com tantas coisas claramente ofensivas a seus familiares e detalhes pessoais’, analisa Pauline Maclaran, professora da Royal Holloway University. Príncipe Harry em Londres, em foto de 5 de março de 2020
Paul Edwards/Pool via REUTERS
O príncipe Harry nega ter tido a intenção de prejudicar a família real britânica ao publicar suas memórias. Mas uma reconciliação parece quase impossível depois que o príncipe fez um retrato crítico de seu entorno, acertando contas de mais de duas décadas.
“Gostaria de me reencontrar com meu pai. Gostaria de me reencontrar com meu irmão”, insistiu em uma entrevista com a rede britânica ITV antes do lançamento, na terça-feira, de sua autobiografia, “O que sobra”, afirmando que está “100%” convencido de que a reconciliação é possível.
Mas ninguém saiu ileso de seu livro. Nem seu pai, o rei Charles III, nem seu irmão, alvo das piores críticas, nem a rainha consorte Camilla ou mesmo sua cunhada, Catherine. Nem mesmo ele próprio, que expôs sem o menor pudor, relatos de sua juventude marcada pelo uso de drogas e álcool.
Harry conta que seu pai não o abraçou quando lhe contou sobre a morte de sua mãe, Diana – quando ele tinha 12 anos -, deixando-o sozinho no quarto.
William – herdeiro ao trono – a quem descreveu como seu “irmão amado e inimigo declarado”, concentra suas críticas em um relato que o descreve como um homem temperamental e que nunca gostou da esposa de Harry, a ex-atriz americana Meghan Markle.
Segundo Harry, William a considerava “grosseira” e “ríspida” e em uma discussão entre eles em 2019 o sacudiu e o fez cair na tigela do cachorro.
O príncipe descreve uma grande rivalidade com William, o herdeiro, e ele, o “sobressalente”.
“Eu era a sombra, o substituto, o plano B”, contou.
Ele também acusou sua madrasta, Camilla, que durante anos foi demonizada pelos jornais britânicos, mas que agora é popular, de ter sustentado uma “campanha pela condição de esposa e, finalmente, pela coroa” por anos.
No livro, ele revela alguns segredos menores, mas outros de grosso calibre.
Ele conta que em seu primeiro encontro com Meghan, a rainha Elizabeth II perguntou a ela sua opinião sobre Donald Trump, então candidato à Casa Branca. Aparentemente, Meghan deu de ombros.
Ele também revela que soube da morte de Elizabeth II pela página da BBC, quando viajava sozinho para a Escócia, já que não foi informado por seu entorno, que viajou em aviões particulares para estar no leito de morte da monarca.
Uma “lacuna” familiar
Ante a coroação do rei Charles III, em 6 de maio, “sinceramente não acredito” que uma reconciliação seja possível, disse à AFP Pauline Maclaran, professora da Royal Holloway University e autora de um livro sobre a monarquia.
“Eu realmente não vejo como isso pode acontecer, com tantas coisas claramente ofensivas a seus familiares, com detalhes pessoais”, acrescentou.
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“Se havia empatia e compaixão, uma ideia que supostamente estaria por trás da Archewell (fundação criada por Harry e Meghan), se perderam no meio do caminho”, acrescentou a especialista.
Harry reconheceu que não fala com seu irmão ou seu pai “há algum tempo” e descartou que voltará a trabalhar para a família real. Ele também não confirmou se comparecerá à coroação de seu pai.
“A lacuna não poderia ser maior antes deste livro”, escreveu ele.
A lista de agradecimentos ocupa duas páginas inteiras e não deixa espaço para os membros da família real, destacando o trabalho dos “profissionais, médicos especialistas e instrutores” que permitiram que ele permanecesse forte “mental e fisicamente”.
Isso fez com que “fontes próximas à família real” dissessem ao jornal The Independent que, para o rei, Camilla e William, a situação não pode melhorar, já que Harry foi “sequestrado pela seita da psicoterapia e por Meghan”.
O jornal The Sun afirmou que o príncipe cruzou “uma linha vermelha” ao atacar Camila.
O Palácio de Buckingham respondeu com um frio silêncio à publicação dessas memórias, assim como à transmissão de um documentário altamente crítico sobre a instituição no mês passado na Netflix.
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