Ramman Utsav: A Celebração Ancestral do Himalaia Indiana Reconhecida pela UNESCO

No coração da região de Garhwal, em Uttarakhand, Índia, ecoa um festival tão vibrante quanto as montanhas que o abrigam. O Ramman Utsav, reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, é uma tapeçaria viva de rituais, teatro e fé que se desenrola anualmente, envolvendo comunidades locais em uma celebração de séculos.

Um Mosaico de Devoção e Tradição

O Ramman Utsav é mais do que um festival; é uma imersão profunda nas tradições orais da região de Garhwal. Celebrado geralmente em abril, em torno do festival de Baisakhi, o evento se estende por quase duas semanas, unindo aldeias como Saloor-Dungra e outras 15 localidades vizinhas em um grandioso espetáculo.

A essência do Ramman Utsav reside na sua capacidade de entrelaçar diversos elementos culturais. A narrativa épica do Ramayana ganha vida através de danças e performances teatrais, enquanto rituais comunitários e a veneração de divindades locais reforçam os laços sociais e espirituais da região. A música étnica e as danças tradicionais, repletas de simbolismo, enriquecem ainda mais essa experiência.

Máscaras e Cores: A Alma do Festival

As máscaras, confeccionadas artesanalmente pelos moradores com madeira de bétula do Himalaia e amoreira, são elementos centrais do Ramman Utsav. Cada máscara, com suas cores vibrantes obtidas através de corantes naturais, como açafrão e mel, representa uma divindade ou personagem da mitologia local. Algumas dessas máscaras, como a de Narasin Devtaa, podem pesar até 25 kg e são tratadas com extrema reverência.

Os trajes coloridos, a maquiagem elaborada e os cânticos divinos, acompanhados por instrumentos musicais tradicionais como o Dhol, Damau e Bhankara, criam uma atmosfera mágica e envolvente. Os bardos locais são os responsáveis por entoar os cânticos e canções que narram as histórias e lendas da região.

A Dança como Linguagem Sagrada

As performances do Ramman Utsav são coreografadas em 18 Taals distintos, cada um representando uma dança ou cena específica do Ramayana. Os sete primeiros Taals narram o nascimento de Rama e Lakshman, enquanto o oitavo, conhecido como Ardhanga Dance, faz referência à forma de Mahadev, Ardhanareeswarar, simbolizando a unidade de Shiva e Parvati.

Entre os Taals, danças folclóricas locais apresentam representações culturais simbólicas. A Mwar-Mwarin Dance retrata o vaqueiro retornando para sua esposa, defendendo-se de animais selvagens e sendo curado por ervas mágicas. A Baniya-Baniyan e a Khyalari Dance ilustram os encontros de comerciantes do Tibete com os moradores locais, bem como os perigos enfrentados por ladrões.

A Maal Nritya, executada por guerreiros e lutadores, representa a histórica guerra Gorkha, com dois pares de guerreiros simulando um conflito com armas e escudos. A Malla Yudd é interrompida pelo Kurjogi, um artista que veste uma espessa camada de sarça e perturba a dança jogando sementes e arbustos espinhosos na plateia.

Os Taals finais do Ramman Utsav retornam à narrativa do Ramayana, com Rama matando o Cervo Dourado, o sequestro de Sita, a queima de Lanka e a Cerimônia de Coroação, onde flores são jogadas sobre o público. A poderosa dança de Narasimha encerra as apresentações, com o espírito divino possuindo um morador local que dança antes de carregar a marionete de Prahlad.

Um Legado Cultural a Ser Preservado

O Ramman Utsav é um testemunho da riqueza cultural e da diversidade da Índia. Ao ser reconhecido pela UNESCO como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade [UNESCO], o festival ganha um reconhecimento global que contribui para sua preservação e valorização.

No entanto, a preservação do Ramman Utsav enfrenta desafios. A globalização, a migração de jovens para áreas urbanas e a falta de recursos podem ameaçar a continuidade dessa tradição ancestral. É fundamental que as comunidades locais, o governo e organizações culturais trabalhem juntos para garantir que o Ramman Utsav continue a encantar e inspirar gerações futuras.

O Ramman Utsav é um farol de esperança para a preservação da cultura e das tradições. Ao celebrar a fé, a história e a identidade da região de Garhwal, o festival nos lembra da importância de proteger e valorizar o patrimônio cultural imaterial da humanidade.

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