Nada mais sintomático do enfraquecimento das tropas russas na Ucrânia do que os relatos de perdas que emergem da própria Rússia. Como o panorama da crise operacional militar descrito por Alexander Kots, correspondente de guerra do tabloide Komsomolskaya Pravda, alinhado ao Kremlin, no Telegram:
“As tropas russas não têm mão de obra suficiente para impedir os ataques inimigos. Não haverá boas notícias no futuro próximo.”
Outro veterano correspondente de guerra, Alexander Sladkov relatou falhas na estratégia militar e, diante do visível incômodo da âncora da TV estatal, apelou por compaixão aos soldados.
“Ainda estamos aprendendo. Sei que é difícil ouvir isso em nosso oitavo mês de operação especial. Mas somos repórteres. Estamos aguardando reforços.”
Os testemunhos apresentados por quem está na frente da guerra surpreendem representantes da mídia independente. “Isso é realmente algo novo. Os âncoras da TV estatal são rostos centrais da propaganda russa e repetem o que lhes é dito para dizer”, admitiu a executiva e âncora do canal independente TV Rain, Ekaterina Kotrikadze, à CNN Internacional. Ela dirige a emissora russa, que saiu do ar no início da guerra e voltou a fazer transmissões há dois meses, a partir da Letônia, onde se exilou.
O revés no campo de batalha no Leste e do Sul da Ucrânia fica explícito em reportagens de veículos independentes. O jornal “The Moscow Times” mostrou o esforço do grupo Help for Soldiers para enfrentar os problemas de abastecimento das tropas russas.
A ONG mobiliza esforços para o financiamento coletivo de equipamentos para os soldados que estão sendo convocados pelo Kremlin para reforçar o Exército russo. Vale tudo neste crowdfunding: de alimentos, roupas quentes e medicamentos a coletes à prova de balas, drones e geradores de energia.”
A vaquinha para angariar suprimentos básicos parece absurda, por se originar num país que detém o quinto maior orçamento militar do mundo. O site independente “The Insider” exibiu um vídeo, também reproduzido pelo “The Moskow Times” e pelo “Meduza”, no qual um grupo de soldados recrutados por Putin esbravejava sobre as condições desumanas a que é submetido em Belgorod, perto da fronteira ucraniana.
As imagens mostravam recrutas dormindo no chão, armados com rifles obsoletos. Corpos de soldados foram abandonados na retirada russa da cidade de Lyman, no norte de Donetsk, uma das quatro regiões ucranianas anexadas por Putin após a encenação de referendos nesses territórios.
Serviços de resgate trabalham para ajudar vítimas de explosão na cidade russa de Belgorod — Foto: Alexey Stopichev/BelPressa/Handout via REUTERS
Na avaliação de Tatiana Stanovaya, fundadora da empresa de análise política R.Politik, a convocação de 300 mil reservistas para a frente de batalha rasgou um contrato entre Putin e a sociedade: a de que não convocaria os russos comuns para a sua empreitada na Ucrânia.
“Tanto a sociedade russa quanto as elites russas, cada vez mais nervosas, devem decidir qual cenário perdedor é menos trágico: acompanhar o líder furioso até o fim do mundo, escapar tanto de Putin quanto da resposta do Ocidente, ou esperar que a Rússia perca. Isso põe Putin em uma posição vulnerável sem precedentes”, escreveu Stanovaya na revista “Foreign Affairs”.
A última pesquisa realizada pelo instituto independente Levada Center reflete a insatisfação coletiva em relação ao recrutamento que o próprio presidente descreveu como a sua medida mais impopular em duas décadas: 47% revelaram ansiedade, medo e horror; 23%, choque; e 13%, raiva e indignação.
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