Calculado a partir do desempenho de uma amostra de alunos de escolas públicas e privadas em uma prova nacional, o índice passou de 15% para 34% nesse período, justamente quando as aulas presenciais foram suspensas por causa da pandemia de Covid-19. As edições anteriores do exame ainda não contemplavam essa faixa etária.
São dados que indicam um atraso pedagógico, já que, desde 2019, a Política Nacional de Alfabetização estipula que o processo de aprendizagem da leitura e da escrita aconteça no 1º ano do ensino fundamental, quando os estudantes têm, em média, 6 anos.
“Isso não foge do esperado. Nessa faixa etária, a mediação presencial [do professor] é especialmente importante”, afirma Clara Machado da Silva Alarcão, coordenadora-geral substituta do Saeb.
Tereza Perez, diretora-presidente da Comunidade Educativa Cedac, reforça a relevância das interações sociais também entre os próprios estudantes, quando estão na sala de aula ou nos diferentes espaços de convivência da escola.
“Aprender a ler e a escrever envolve tentativa e erro, passa por mostrar para o outro, comparar, perguntar para a professora. Sabemos que os alunos tiveram essas oportunidades reduzidas durante as aulas on-line e que muitos nem tiveram acesso [à internet]”, diz.
A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) afirma que, diante dos resultados, “é importante que as redes municipais (…) reúnam seus profissionais da educação para analisar o impacto da pandemia na aprendizagem dos alunos”.
“O Saeb 2021 também atesta os efeitos mais acentuados da pandemia nas redes de ensino com menor infraestrutura, que não puderam oferecer conectividade a seus estudantes e professores, o que foi agravado pela condição socioeconômica das famílias mais vulneráveis”, informa o órgão.
O Saeb, aplicado a cada dois anos, avalia também os conhecimentos dos alunos em matemática.
No 2º ano do ensino fundamental, 22% das crianças não conseguiam fazer operações básicas, como soma e subtração, em 2021. Em 2019, antes da pandemia, eram 16%.
Segundo especialistas, a situação pode ser ainda mais preocupante, já que, quando a avaliação foi aplicada (em novembro e dezembro do ano passado), muitas escolas ainda não haviam voltado para o formato 100% presencial. Provavelmente, no caso delas, a adesão ao exame foi menor do que a registrada nos colégios que já estavam funcionando normalmente.
“É complicado comparar uma rede em que 95% dos alunos fizeram a prova com outra em que 50% prestaram o exame. Aqueles alunos que não compareceram tendem a ser os que estavam em maior vulnerabilidade, afastados da escola. Mesmo que de forma não proposital, isso seleciona os alunos participantes e interfere na nota”, explica Gabriel Corrêa, líder de Políticas Educacionais da ONG Todos Pela Educação.
O Inep já divulgou que, na média nacional, 71,3% dos alunos-alvo fizeram a prova em 2021 – em 2019, a taxa foi de 80,99%. Há desigualdades entre os estados: em Roraima, por exemplo, apenas 27% dos municípios entraram nos cálculos nacionais dos anos iniciais do ensino fundamental, já que a adesão à avaliação foi insuficiente.
“A comparação entre os resultados deve ser evitada”, afirma Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE).
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