Ressalvas com o órgão surgiram após intervenção do governo Bolsonaro. Quando deputado, presidente apresentou projeto criticado por ameaça de criminalização de movimentos sociais. Bolsonaristas radicais tentam empurrar ônibus de viaduto durante atos de vandalismo em Brasília durante vandalismo em 12 de dezembro.
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Apesar de ter como alvo participantes do acampamento golpista onde foi planejado o atentado terrorista contra a posse de Lula (PT), a ação da Polícia Federal desta quinta-feira (29) não teve participação da coordenação de combate ao terrorismo da instituição.
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Mais: essa coordenação, que fica dentro estrutura da direção-geral da PF, sequer foi avisada. Também não houve qualquer participação da Diretoria de Inteligência Policial da PF, à qual a unidade é subordinada.
A ação é capitaneada pela superintendência da PF no Distrito Federal e pela Polícia Civil do DF – que não tem a atribuição para investigar terrorismo.
Sob condição de anonimato, um investigador afirma que há desconfiança em relação aos integrantes.
“Os colegas não conseguem confiar no setor que deveria combater o terrorismo”, diz.
O principal motivo para o receio é a intervenção do governo Bolsonaro na coordenação.
O antigo chefe do órgão, delegado Fernando Chuy, foi substituído após se opor a um projeto de lei apresentado pelo presidente à época em que era deputado e que, depois, foi encampado pelo deputado ultra bolsonarista major Vitor Hugo (PL-GO), para mudar a legislação antiterrorismo.
O projeto, entre outras coisas,
criava uma Autoridade Nacional Contraterrorista subordinada diretamente ao Gabinete de Segurança Institucional – hoje ocupado pelo general Augusto Heleno, fiel aliado de Bolsonaro;
previa a atuação das Forças Armadas nas operações de combate a terrorismo e permitia que tais ações fossem coordenadas por uma autoridade militar;
Permitia que atos que não fossem tipificados como crime de terrorismo, ainda assim, fossem enquadrados na legislação sobre o tema, abrindo margem para a criminalização de movimentos sociais.
Operação foi batizada de Nero, que incendiou Roma
A operação deflagrada nesta quinta cumpre 32 mandados expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no DF e em 7 estados e investiga os crimes de dano qualificado, incêndio majorado, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
Veja quem são os alvos
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Entre os alvos estão suspeitos de participar dos atos de vandalismo em Brasília no dia da diplomação de Lula como presidente, ocorrida 12 de dezembro. Na ocasião, bolsonaristas radicais destruíram ônibus, carros e outros bens públicos e privados, tentaram invadir a superintendência da PF e depredaram uma delegacia da Polícia Civil.
A operação ganhou o nome de Nero, em referência ao imperador romano do primeiro século que ateou fogo em Roma.