Plantas carnívoras têm 5 armadilhas diferentes e algumas até debaixo da terra e água; conheça os tipos | Agronegócios

Nem sempre as armadilhas das plantas carnívoras são óbvias e visíveis como a boca de uma Nephentes ou as garras de jaula da famosa dionaea ou apanha-moscas, uma das espécies mais conhecidas no Brasil.

Suas artimanhas também podem aparecer na forma de um ‘belo orvalho’ – que, na verdade, é uma cola – ou até mesmo na de um ‘abrigo’ debaixo da terra ou da água, que, de repente, pode sugar as presas.

As capturas das plantas carnívoras também vão muito além dos insetos: algumas podem comer larvas, vermes, protozoários, sapos e até roedores ou pássaros mais distraídos. Veja abaixo um infográfico sobre cada tipo de armadilha.

Nessa reportagem você ainda pode conferir:

  • Por que as plantas carnívoras comem insetos?
  • Elas conseguem capturar animais maiores?
  • Qual é a maior do mundo?
  • Plantas carnívoras são venenosas? Podem ‘morder’ o dedo?
  • Quantas espécies existem e quais estão ameaçadas de extinção no Brasil?

Plantas carnívoras — Foto: Arte/ Luisa Blanco

Por que as plantas carnívoras precisam comer insetos?

A síndrome carnívora se desenvolveu como um mecanismo de sobrevivência de plantas localizadas em ambientes com solo pouco fértil, explica Julio Santiago, mestrando em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Os insetos, contudo, são uma fonte complementar de nutrientes, e não a principal.

“A principal fonte de energia das plantas carnívoras ainda é o sol, pois, assim como a maioria das plantas, elas fazem fotossíntese”, ressalta o professor Paulo Gonella, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Os insetos servem, na verdade, para complementar nutrientes que existem em pouca quantidade no solo onde vivem as plantas carnívoras, como o nitrogênio e o fósforo.

Dionaea capturando inseto; planta usa a armadilha da jaula. — Foto: Arquivo pessoal/Julio Santiago – UGMG

Podem capturar animais maiores, como ratos e pássaros?

Sim, mas de forma acidental e não são todas as espécies que conseguem. As Nephentes, por exemplo, têm estruturas para capturar animais um pouco maiores por causa do seu formato semelhante a um jarro.

“Os insetos são as presas principais das plantas carnívoras. Pequenas aves ou roedores são presas eventuais, que podem cair na armadilha atraídas pelos próprios insetos capturados ou pelo açúcar que a planta libera”, diz Gonella.

A depender do tamanho do bicho, as plantas podem até apodrecer por causa da dificuldade de digerir uma quantidade muito alta de nutrientes.

Nephentes pode capturar de forma acidental animais um pouco maiores, mas sua presa principal é o inseto. — Foto: Arquivo Julio Santiago – UFMG

Qual é a maior do mundo?

Há duas espécies que estão, até o momento, entre as maiores do mundo, e que podem atingir até 1,5 metro de altura: a Drosera magnifica e a Nephentes rajah, diz Santiago.

A Drosera magnifica é originária do estado de Minas Gerais, enquanto a Nephentes rajah, da Ilha de Bornéu, do Sudeste Asiático.

Plantas carnívoras são venenosas? Podem ‘morder’ o dedo?

Nenhuma planta carnívora que se tem conhecimento é venenosa ou tóxica e tampouco tem interesse na carne humana.

“[Se você colocar o dedo], pode até estimular [a planta], mas não o suficiente para prender. Em muitos casos, nem vai estimular, porque a sinalização química [que incentiva a captura] está relacionada à quitina, uma proteína presente no exoesqueleto dos insetos”, explica Santiago.

No momento em que o inseto pousa em uma planta carnívora, há uma sinalização química da presença quitina que faz o vegetal reconhecer a presença de um alimento promissor.

Espécies pelo mundo e ameaça de extinção

A drosera captura as suas presas a partir do visual. Suas gotas colantes se assemelham a orvalhos. É o gênero com o maior número de plantas, ao lado das utricularias. — Foto: Arquivo Julio Santiago – UFMG

No mundo, há cerca de 860 espécies de plantas carnívoras conhecidas, sendo que a maior parte delas são dos gêneros Drosera, Utricularia e Nephentes.

Os dados são do estudo “Conservação das plantas carnívoras na Era da Extinção”, publicado em 2020 por Gonella e outros autores, na revista científica Global Ecology and Conservation.

O Brasil é o segundo país com o maior número de espécies (cerca de 130), perdendo apenas para a Austrália, que tem aproximadamente 250.

Quando se trata das que estão ameaçadas de extinção, há, hoje, cerca de 193, o que representa 20% do total das espécies.

Dessas, 28 estão no Brasil, das quais 13 são classificadas como “criticamente ameaçadas”. O Brasil é o país com o maior número de espécies nesse estado, mostra o estudo de Gonella, que adota critérios de classificação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Planta carnívora do gênero philcoxia só existe no Brasil e está criticamente ameaçada de extinção. Suas armadilhas são subterrâneas. — Foto: Divulgação/PNAS

O gênero Philcoxia, que só existe no Brasil – mais especificamente nos biomas Cerrado e Caatinga –é o que mais preocupa, pois 100% dele está ameaçado, conta o professor da UFSJ.

Essas plantas crescem em areias muito brancas e dão flores de cor lilás. Elas se alimentam de pequenos vermes que vivem no solo, a partir de armadilhas adesivas em folhas que ficam debaixo da terra.

Outro gênero em risco no Brasil é a Drosera, com 40% de plantas ameaçadas.

“O Brasil tem uma responsabilidade muito grande na conservação de suas espécies carnívoras. Um dos principais fatores que está causando isso [a ameaça de extinção] é a destruição dos habitats para conversão para a agricultura“, diz Gonella.

“O uso de fertilizantes e pesticidas na agricultura tornam o solo mais rico do que eles são originalmente, fazendo com que outras espécies invadam esses locais e acabem competindo pelos habitats das plantas carnívoras”, acrescenta.

À direita, a parte de cima de uma utricularia e, à esquerda, sua parte subaquática. — Foto: Leonhard Lenz/Miguel Porto

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