A carreira dos Pixies é aquela montanha-russa: a banda foi uma das mais influentes no fim dos anos 80 e início dos anos 90, com quatro discos bem-sucedidos, e uma fileira de sucessos, como “Debaser”, “Where is my mind” e “Here comes your man”.
Desavenças entre os integrantes levaram ao fim da banda em 1993, e onze anos mais tarde, parecia que tudo estava bem de novo, com o anúncio do retorno. Mas não foi bem assim. Um disco novo demorou quase dez anos para chegar, só rolou em 2013, e não foi bem aceito pela crítica. Além disso, coincidiu com a saída da carismática baixista Kim Deal.
O ano é 2022, e em um momento mais estável, com a baixista Paz Lenchantin oficialmente escalada, a banda lançou seu oitavo disco, “Doggerel”, o quarto desde seu retorno, em 2004. O trabalho reapresenta um rock bem-feito e confortável para ouvir, não traz grandes surpresas e mantém a evolução que engatou com “Head Carrier” (2016) e “Beneath the eyrie” (2019).
“Espero que as pessoas aceitem, porque é um bom álbum”, diz Joey Santiago, guitarrista da banda, ao g1. “Outras bandas voltam com discos, e existe uma ideia preconcebida que não será tão bom.”
Pixies vem ao Brasil para tocar no Popload Festival em outubro — Foto: Divulgação/Travis Shinn
Os Pixies estavam no meio da turnê do disco “Beneath the Eyrie”, com shows na Austrália, quando a pandemia começou. Cada um foi para o seu canto e só se reuniram de novo há alguns meses para a gravação. “Para mim foi um passo em direção à normalidade. Por que bandas gravam discos? Porque eles vão sair em turnê. Para mim, eu senti esperança.”
A banda se apresenta no Rio, no dia 11 de outubro, em São Paulo, no dia 12 de outubro, no Popload Festival.
g1 – “Doggerel” é o oitavo disco dos Pixies, e sendo uma banda com tamanha história, quais são as expectativas com esse trabalho?
Joey Santiago – Expectativas. O que eu espero é que as pessoas aceitem. Eu percebi, nós sabemos, ou eu sei, que esta é uma banda, que fez ótimos discos nos anos 80 e 90 e blablablá. Tem um monte de bandas por aí que fizeram o que a gente fez. Voltaram com um álbum e, sabe, existe uma ideia preconcebida de que não será tão bom. Que a gente deveria seguir com a fórmula.
Mas a gente nunca fez isso, na verdade. Quero dizer, o som ainda está lá, mas de “Come on pilgrim”, “Surfer Rosa”, “Doolittle”, “Bossanova” até “Trompe le monde”, todos eles progrediram de forma diferente. Não fizemos “Doolittle” de novo. Nunca fizemos “Surfer Rosa” de novo. E não vamos fazer isso de novo. Este é um novo álbum e sim, a gente cresceu, porque não conseguimos voltar no tempo. Se pudéssemos, acredite, eu preferia parecer quando tinha 28. Então, minha esperança é que as pessoas aceitem, porque é um bom disco.
Joey Santiago, Black Francis, David Lovering (fundo) e Kim Deal — Foto: Divulgação/4AD
g1 – Existe pressão do público ou da crítica, de soar mais como os Pixies de antigamente? Como lida com isso?
Joey Santiago – A gente não liga. Honestamente, a gente não liga, porque lá no fundo, dentro de nós, a gente sabe a verdade, de que é um bom disco. E se qualquer coisa, eles vão bater e depois vão se retratar. Talvez em dez anos eles vão lá e ‘oh, desculpa, nós cometemos um erro naquele disco lá’. É um bom disco, sabe? Então, não nos importamos.
g1 – Vocês gravaram “Doggerel” já neste período de fim da pandemia. Como foi tomar a decisão de se reunirem para fazer um trabalho novo?
Joey Santiago – Para mim, o propósito era: nós vamos voltar e fazer alguma coisa. Para mim, era um passo em direção à normalidade. Por que uma banda grava um disco? Porque ela vai sair em turnê. É o ciclo de uma banda: banda grava, banda faz turnê. Para mim, eu senti esperança.
g1 – Os Pixies estavam em turnê quando a pandemia foi anunciada. Como foi este momento para vocês?
Joey Santiago – Inicialmente, eu amei. Quer dizer, não a pandemia, mas não ter de fazer qualquer coisa por um tempo. Eu queria fazer a turnê, mas tinha que aceitar. Então, qual é o lado bom aqui? Eu posso ficar mais um tempo com as crianças, eu descansei, eu adotei um gato neste processo da Covid. E depois de um tempo, a gente começou a cancelar todos os shows por causa das variantes, e eu meio que ‘a gente talvez pode nunca mais voltar’. O sentimento era esse, desgraça e melancolia. Toquei um pouco de violão. Mas eu não peguei no violão até cerca de oito meses atrás.
g1 – Vocês se reuniram em uma casa isolada para a produção do disco. O produtor Tom Dalgetty estava com vocês de novo. Como foram as discussões para fazer este novo trabalho? Como foi o processo?
Joey Santiago – Foi ótimo. Estávamos em uma casa muito bonita, todo mundo da banda e o Tom. Então, antes de a gente gravar, íamos para a sala de estar, olhávamos a neve. Foi a primeira vez que teve uma tempestade de neve. [Tinha] Janelas grandes. Dave [Lovering, o baterista] estava no kit [de bateria] e eu estava com o violão, todo mundo estava acústico. A Paz [Lenchantin, baixista] estava no baixo acústico. E estávamos nos divertindo. Jogando a música por aí, passando um para o outro, para ver o que acontecia. E isso foi divertido. Depois, a gente subiu e gravou. Esses momentos uniram a gente. Podíamos brincar com as músicas, eu fingia que estava fazendo alguma coisa bem estúpida, esse tipo de coisa. Foi um momento legal. Relaxante.
Joey Santiago, do Pixies, no palco do Lollapalooza 2014, em São Paulo — Foto: Flavio Moraes/G1
g1 – Com o resultado, parece mesmo que estavam se divertindo. Nas informações sobre o disco, a banda indicou que tem um aspecto mais sombrio, mas soou vívido também, um som mais pop.
Joey Santiago – O processo que a gente fez era ter uma linha guia que era uma faixa rítmica acústica e soar mais aberto. É a fórmula que a gente tinha de todo o jeito desde o começo. Muitas das nossas músicas eram com o violão. Where is my mind era uma delas, Nimrod’s Son, por mais dura que soasse, tinha a levada acústica.
g1 – Como vocês queriam que esse disco soasse?
Joey Santiago – A gente não tinha ideia se ia soar sombrio. Não tínhamos ideia se soaria sombrio ou feliz, ou coisa assim. Apenas saiu. Poderíamos muito bem ter feito um disco de reggae, se tivéssemos afim.
g1 – Como está hoje o clima dentro da banda?
Joey Santiago – Está ótimo. Estamos ótimos. Viajamos por onze semanas na última turnê e foi excelente. Então, isso vai funcionar por muito tempo. Isso é o que eu sinto. A gente se sente bem.
g1 – E o que a gente pode esperar dos shows aqui no Brasil?
Joey Santiago – A gente vai tocar algumas dessas músicas que saíram. Eu quero tocar essa “Dregs of the wine” porque eu quero ver como se traduz ao vivo. Ok, então, o que vamos fazer: vamos tocar algumas dessas novas músicas, mas obviamente vamos tocar as músicas do passado. Não podemos decepcionar. A gente sabe o que o público quer. A gente sabe o que eles quererem “Here comes your man” e todas essas coisas.
Pixies — Foto: Tom Oxley/Divulgação