Pharoah Sanders, saxofonista lendário do jazz, morre aos 81 anos | Pop & Arte

Pharoah Sanders, uma das figuras mais criativas do jazz que fez música indiana e africana levando seu saxofone a limites inimagináveis, morreu neste sábado (24), aos 81 anos.

Sua gravadora, Luaka Bop, anunciou que ele morreu em paz com sua família e amigos em Los Angeles. “Sempre e para sempre, que este lindo ser humano descanse em paz”, escreveu a gravadora, em um comunicado.

Sanders, que levou o movimento do free jazz a novos patamares, praticamente atacava seu saxofone soprando excessivamente a boquilha, mordendo a palheta e até mesmo gritando na campana do instrumento.

Discípulo de John Coltrane, ele tocou solos agressivos no último álbum do músico, “Live in Japan”. Ele era muitas vezes visto como uma espécie de sucessor de seu mestre, que morreu subitamente em 1967.

Ornette Coleman – um dos mais importantes pioneiros do free jazz – definiu Sanders como “provavelmente o melhor saxofonista tenor do mundo”.

Mas Sanders, que também tocava saxofone soprano e alto, não conseguiu conquistar a unanimidade do público e nunca desfrutou do sucesso comercial de Coltrane, Coleman, ou outros inovadores históricos do jazz.

Com solos que passaram de estridentes a sedosos e melódicos, Sanders foi descrito como o padrinho do jazz espiritual e até cósmico, embora sempre tenha rejeitado rótulos.

Entre suas obras mais conhecidas está “The Creator Has a Master Plan”, uma faixa de quase 33 minutos de seu álbum “Karma”, na qual Sanders soa como se estivesse exorcizando demônios, antes de retornar a um estado celestial.

Leon Thomas canta um tema de 1969, no auge da contracultura: “O criador tem um plano mestre / Paz e felicidade para todos os homens”.

“Upper Egypt and Lower Egypt”, do influente álbum de 1967 de Sanders, “Tauhid”, baseia-se em riffs de guitarra e um xilofone suave que homenageia a tradição africana, enquanto Sanders explode em um saxofone uivante.

Sax, prolongamento de si mesmo

Pharoah Sanders — Foto: Luaka Bop/Divulgação/Eric Welles-Nyström

“Eu realmente não vejo mais a trompa. Eu tento me ver”, disse ele na apresentação de “Tauhid”, seu primeiro álbum pelo selo Impulse!, que editou Coltrane.

“Não é que eu esteja tentando gritar com minha trompa, estou apenas tentando colocar todos os meus sentimentos”, explicou ele.

Farrell Sanders – ele mudou a grafia de seu nome de batismo a pedido do compositor de jazz futurista Sun Ra – nasceu e foi criado na segregada Little Rock, no estado do Arkansas, onde tocava clarinete em uma banda da escola e explorava o jazz com artistas em turnê.

Após o Ensino Médio, mudou-se para Oakland, na Califórnia, onde desfrutou pela primeira vez da liberdade de frequentar clubes racialmente mistos e teve um primeiro encontro com Coltrane.

Mais tarde, foi para Nova York. Lá, ficou na miséria, trabalhando como cozinheiro e até vendendo seu sangue para sobreviver.

Conheceu Sun Ra quando cozinhava em um clube em Greenwich Village. Notando seu talento musical, Sun Ra e Coltrane recrutaram Sanders para sua banda. Com a morte de Coltrane, tornou-se líder dela.

“Eu tenho um som escuro. Muitos dos jovens têm um som brilhante, mas eu gosto de um som escuro com mais redondeza, mais profundidade e sentimento”, disse ele, descrevendo seu estilo em uma entrevista de 1996 ao jornal “San Francisco Chronicle”.

“Quero levar o público a uma jornada espiritual. Quero sacudi-lo, excitá-lo. Então eu os trago de volta com uma sensação de calma”, explicou.

Sanders, que em seus últimos anos usava uma longa barba branca, deu seus primeiros passos na música pop, começando com “Thembi”, de 1971, em homenagem a sua esposa.

Mas sua incursão no mainstream foi breve. Em “Jewels of Thought”, de 1969, Sanders explorou o misticismo da África, abrindo o álbum com uma meditação sufi pela paz.

Décadas depois, em “The Trance of Seven Colors”, Sanders colaborou com Mahmoud Guinia, o mestre marroquino da música espiritual gnawa e do alaúde.

O álbum de 1996 de Sanders, “Message from Home”, mergulhou em influências da África subsaariana, como highlife, a mistura pop de música ocidental e tradicional que se originou em Gana.

Ele também explorou a forma indiana em suas colaborações com Alice Coltrane, a segunda esposa do mestre do jazz, que se tornou iogue.

Sanders admirava músicos indianos como Bismillah Khan, que introduziu o shehnai, um tipo de oboé frequentemente tocado em procissões pelo subcontinente; e Ravi Shankar, que internacionalizou a cítara.

Acostumado a compartilhar energia em bandas de jazz, ele disse que os músicos indianos conseguiam fazer “música pura”.

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