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Pen drives, ensaios, ‘gigs’: tudo o que você queria saber de DJs, mas tinha vergonha de perguntar | Música

Atração de festivais como Coachella, Tomorrowland, Ultra e Rock in Rio, Anna é a DJ brasileira mais requisitada do mundo.

A paulista Anna Lida Miranda tem mais de 20 anos de carreira e começou tocando axé na boate do pai, o club Six em Amparo (SP).

Ao g1, ela respondeu 10 dúvidas sobre música eletrônica que você provavelmente tinha vergonha de perguntar (ouça a entrevista no podcast abaixo).

Como é ser DJ no Brasil?

Anna começou tocando Axé no interior de São Paulo. No começo da carreira, é natural ter menos controle no próprio repertório e usar as apresentações para aprender e para fazer seu nome.

“Olhando para trás, eu nunca pensei nisso, mas foi tudo acontecendo organicamente. Quando eu digo meu pai tem club, pode parecer que eu tinha essa ‘entrada’, mas na verdade era só um club no interior de São Paulo. Ele não conhecia ninguém, eu não conhecia ninguém. Foi super orgânico, esse processo é longo, não foi de uma hora para outra.

Quando eu ia tocar no clube do meu pai, fui conhecer alguns núcleos pequenos de Serra Negra, ali do lado da cidade [Amparo] e acontecia de alguém de São Paulo vir me ver tocar e me convidar para tocar em um clube de São Paulo. E aí, no clube pequeno de São Paulo, alguém conhece alguém que me viu tocar, que me adorou tocando, mixando e me convidou para tocar no Manga Rosa, que era um clube em São Paulo famoso na época… eu fui conseguindo essas ‘gigs’ [shows] mais importantes em São Paulo, organicamente, sem ajuda de ninguém. Alguém me via ‘Ó, quem é essa menina? Vamos trazer ela para tocar aqui’.”

Por que é tão importante fazer sucesso fora?

A DJ diz que precisou sair do Brasil, indo morar em Barcelona, na Espanha, para que a carreira mudasse de patamar. Por lá, conseguiu melhores contatos com agências e outros DJs. Ela também ficou mais perto de festivais, festas e cidades onde há mais espaço para a música eletrônica, como Ibiza, também na Espanha.

“Quando comecei a tocar, sinceramente, o que eu queria era ter dinheiro suficiente para pagar o meu aluguel em São Paulo e consegui viver disso. Nunca, jamais imaginei ir para a Europa. Se você me dissesse naquela época que eu ia morar na Europa e tocar aqui nos principais festivais, eu iria que isso era impossível.

Eu nunca cresci muito no Brasil. Eu tinha minhas ‘gigs’, mas era coisa pequena, não era nada como hoje. Eu só ganhei visibilidade no Brasil quando saí do Brasil e fiz sucesso na Europa. Aí eu fui reconhecida, meu trabalho foi crescendo. Você já consegue uma visibilidade maior, tem o trabalhado mais promovido, porque através da venda de música dos streamings a gente consegue atingir muita gente, né? E aí foi começando a acontecer.”

2 de 3 Anna, atração do Rock in Rio, mostra equipamentos para ensaiar e produzir em casa — Foto: Divulgação/Facebook da DJ

Anna, atração do Rock in Rio, mostra equipamentos para ensaiar e produzir em casa — Foto: Divulgação/Facebook da DJ

Como se estuda para ser DJ?

Cursos de produção musical e tutorais sobre equipamentos e programas de áudio no geral fazem parte do cardápio de credenciais de aspirantes a DJ. O profissional do ramo que quer ser reconhecido tem que saber improvisar ao vivo, fazer colagens e mixagens de sons.

“Eu sempre me dediquei bastante ma minha carreira, eu estudei produção musical, estava sempre fazendo crescer e aperfeiçoando a minha arte, né? Até que chegou a hora eu comecei a lançar em alguns selos importantes…

Eu estava o dia inteiro jogando vôlei e treinando e participando dos times, ia jogar profissionalmente, mas aí a música entrou na minha vida foi como eu esqueci tudo então, eu acordava pesquisando música treinando aprendendo a mexer nos equipamentos descobrindo coisas… Quando eu comecei a tocar música eletrônica, eu acordava e praticava 10 horas por dia. Aprender uma técnica de mixagem, principalmente com vinil, não é tão fácil, requer treinamento, prática para você fazer bem sabe. Não é simples. Não sei se as pessoas sabem, mas é difícil.

Quando eu não estava praticando, eu estava pensando nisso, pesquisando música. Eu tinha os equipamentos do meu pai, nisso fui sortuda, mas ele nunca me ensinou nada. Eu aprendi sozinha. Ele tinha alguns equipamentos reservas que ficavam na casa da minha avó também, em um porão. Estava tudo lá, então, eu tinha um sistema de som bom para praticar.”

3 de 3 DJ Anna em dois dos vários festivais onde já se apresentou: Tomorrowland e Coachella — Foto: Divulgação/Facebook da DJ

DJ Anna em dois dos vários festivais onde já se apresentou: Tomorrowland e Coachella — Foto: Divulgação/Facebook da DJ

“EDM [sigla em inglês para música eletrônica dançante] é o som que o Alok toca, que o Marshmallo toca. É um som mais comercial, mais acessível. Eles trabalham bastante com letras de músicas conhecidas em cima de uma batida eletrônica, e por isso também que o público se identifica mais.”

Tem DJ que só pluga o pen drive?

São raros os casos de DJs que só plugam pen-drive com um set pronto, ou com vários trechos do set prontos. DJs do topo da categoria não fazem isso.

“Acontece de usar pen drive, de colocar um set pronto e fingir que está tocando… isso acontece no nosso meio, mas é mais naqueles super shows que têm tudo marcado: a hora do fogo, a hora de falar. É mais shows de EDM. No meio da música eletrônica mais underground isso não acontece, porque uma das coisas que é a graça é mixar na hora. Eu, por exemplo, toco com pen drive, mas o que tem dentro daquele pen drive é todo o material que eu uso para mixar na hora. Eu passo dias produzindo no meu estúdio.

Eu toco com quatro CDJs [tocadores de música digital] e fico fazendo tudo na hora. Eu coloco tudo dentro desses pens drives e ali na hora é tudo improvisado. Eu mixo três músicas ao mesmo tempo, faço loops, corto, então é uma performance ali, tem uma técnica de mixagem. Além disso tem todo um trabalho semanal, porque geralmente DJ toca a quinta ou sexta até sábado ou domingo. Mas além dos shows, a maioria dos DJs passa a semana inteira no estúdio produzindo música para tocar.

Colocar set pronto no pen drive é muito raro. Lembro quando eu fui gravar uma edição especial do Tomorrowland [era uma live do festival durante a pandemia] e eles criaram uma coisa impressionante, parecia Hollywood. Tinha uma tela verde imensa. Eles perguntaram se teria como trazer um set pronto, gravado antes. Eu falei: ‘jamais eu vou mandar um set pronto, isso nem passa na cabeça’.”

Fonte

MicroGmx

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