Único produtor preto da Marvel até pelo menos 2018, Nate Moore tentava realizar filme do herói desde 2010. Em entrevista ao g1, ele falou sobre mudanças no roteiro e nos personagens. Produtor Nate Moore fala sobre ‘Pantera Negra: Wakanda para sempre’
Em “Pantera Negra: Wakanda para sempre”, o público vai conhecer um novo grande e poderoso personagem dos quadrinhos da Marvel em sua primeira aparição nos cinemas. Mas a versão de Namor, um dos heróis – e, às vezes, vilão – mais antigos da editora, apresentada no filme não é exatamente aquela que apareceu pela primeira vez nos gibis em 1939.
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Na grande estreia desta quinta-feira (10), a primeira continuação do sucesso de 2018 após a morte de Chadwick Boseman (1976-2020), os fãs encontrarão um rei submarino arrogante e galanteador como o original. Só que sua inspiração em civilizações da antiguidade dá lugar a algo diferente.
“Nos quadrinhos, Atlantis é desenhada de uma forma um pouco vaga. Ela é meio que romana, talvez. Você não tem bem certeza de qual é especificamente”, diz um dos produtores do filme, Nate Moore, em entrevista ao g1.
Assista no vídeo acima à conversa com um dos únicos executivos negros dos estúdios da Marvel, que começou a tentar levar o Pantera Negra aos cinemas desde 2010.
Mas o diretor e corroteirista Ryan Coogler queria algo um pouco mais real e identificável para o público – assim como ele havia feito com Wakanda, a nação africana hiper avançada reinada pelo Pantera Negra, no primeiro filme.
Por isso, Atlantis virou Talokan, e o povo de Namor ganhou toques mesoamericanos.
“Junto com o instinto de Ryan de ainda explorar os temas de colonização e o que isso significa, ele começou a focar na civilização maia tanto no passado e no presente, e construiu Talokan da inspiração de ambas essas coisas.”
Tenoch Huerta em cena de ‘Pantera Negra: Wakanda para sempre’
Divulgação
Namor, rei de Talokan
“Wakanda para sempre” não consegue evitar o reflexo do mundo real, onde o intérprete do protagonista morreu de forma inesperada em 2020, aos 43 anos.
Por isso, os personagens da trama também lidam com a morte do herói, e devem lidar com as repercussões da decisão de revelar para o mundo o avanço tecnológico de seu país.
Junto disso surge ainda um novo monarca perigoso, Namor, que ameaça a paz de Wakanda ao mesmo tempo em que deseja se tornar aliado da nação.
Criado por Bill Everett, o personagem apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em 1939, em uma revista da Timely Comics, precursora da Marvel. Ao lado do Capitão América e do Tocha Humana original (não aquele do Quarteto Fantástico), ele era um dos três personagens mais conhecidos da editora.
Para dar vida a um herói/anti-herói/algumas vezes vilão tão complexo e com história tão rica, era de se esperar que a produção teria uma longa e árdua jornada até chegar ao escolhido, certo?
Na verdade, um relativo desconhecido foi tão eficiente logo em um dos primeiros testes que tornou o processo inteiro um tanto curto. Aos 41 anos, o mexicano Tenoch Huerta construiu a carreira no próprio país. Em Hollywood, seu maior filme foi “Uma noite de crime: A fronteira” (2021).
“Tenoch é um ator tão poderoso que meio que salta da tela. Sabe, não fizemos uma busca muito grande, porque ele se tornou muito claramente a primeira escolha bem no começo”, conta Moore.
“E ao falar com ele, muitos dos papéis dele são muito intensos. Mas ele também é incrivelmente carismático e um tanto engraçado, pessoalmente. Ele também entendeu o potencial desse personagem. Tanto na tela e para o que pode significar para as pessoas.”
Cena de ‘Pantera Negra: Wakanda para sempre’
Divulgação
A mudança no eixo
Até pelo menos 2018, Moore era o único produtor negro dos estúdios Marvel – o que talvez explique por que ele passou oito de seus 42 anos na luta para realizar um filme do Pantera Negra.
Em 2010, quando perguntou pela primeira vez ao presidente do estúdio, Kevin Feige, quais os planos para o herói, o projeto ainda era considerado um risco.
Apesar de um certo sucesso com adaptações de Blade, o caçador de vampiros, anos antes, muito ainda acreditavam que um elenco constituído majoritariamente de negros não conseguiria retorno para justificar os orçamentos da Marvel, com uma média de US$ 200 milhões.
Letitia Wright em cena de ‘Pantera Negra: Wakanda para sempre’
Divulgação
Em 2018, Moore de certa forma abriu o precedente para acabar com essa desculpa. “Pantera Negra” arrecadou mais de US$ 1,3 bilhão em bilheterias ao redor do mundo e, de quebra, se tornou o primeiro exemplar do gênero a receber uma indicação ao Oscar de melhor filme.
Com isso, a continuação era inevitável. Mas o desenvolvimento da sequência sofreu um grande baque quando elenco e equipe perderam Boseman, seu protagonista. Diagnosticado em 2016 com câncer de cólon, ele passou quatro anos sem falar publicamente sobre a doença.
A Marvel em pouco tempo anunciou que não substituiria o ator como o rei T’Challa. Coube então a Coogler e seu parceiro de roteiro do primeiro filme, Joe Robert Cole, a missão de achar uma solução.
“O filme era sobre o T’Challa lidando com questões de se tornar pai, o que achávamos que era muito interessante. E quando perdemos Chadwick, o paradigma todo mudou e se tornou sobre uma mãe e uma filha”, diz Moore.
“Achamos que isso era muito interessante, porque parecia verdadeiro em relação ao que essas personagens vivenciariam se T’Challa tivesse sido tirado delas. E também pareceu verdadeiro em relação aos atores que tiveram de viver esses papéis.”
Dorothy Steel, Florence Kasumba, Angela Bassett e Danai Gurira em cena de ‘Pantera Negra: Wakanda para sempre’
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