No universo cinematográfico do terror, há uma espécie de contrato tácito entre o filme e o espectador: sabemos que, em algum momento, um personagem fará algo terrivelmente estúpido. Ignorar avisos óbvias, separar-se do grupo em um lugar sombrio, investigar ruídos estranhos sem qualquer preparo – esses são apenas alguns exemplos do que poderíamos chamar de ‘rituais de passagem’ do gênero.
Um artigo recente da Earth’s Attractions (https://www.earthsattractions.com/funny-horror-movie-moments/) explora essa dinâmica curiosa, listando 15 atitudes clichês que, paradoxalmente, amamos ver nos filmes de terror. Mas por que nos deliciamos tanto com o desespero alheio?
A Catarse Através do Erro Alheio
Parte do fascínio reside na catarse que esses momentos proporcionam. Sentados no conforto de nossas casas, julgamos as decisões dos personagens com a segurança de quem não está sob a ameaça de um monstro horripilante ou um maníaco assassino. É uma forma de exercício mental: ‘Eu jamais faria isso!’ Mas será mesmo?
A verdade é que, em situações de pânico, a racionalidade muitas vezes voa pela janela. O medo, o desespero e a pressão podem nos levar a tomar decisões impulsivas e, olhando para trás, absolutamente questionáveis. Ao vermos personagens fictícios sucumbirem a esses erros, reconhecemos uma fragilidade humana que também reside em nós.
A Engrenagem da Tensão Narrativa
Além da catarse, esses clichês desempenham um papel crucial na construção da tensão narrativa. A antecipação do erro iminente, o grito silencioso que ecoa na sala (‘Não vá por esse caminho!’), tudo isso contribui para criar uma atmosfera de suspense e terror que nos mantém grudados na tela.
A previsibilidade, nesse caso, não é um defeito, mas sim uma ferramenta. Sabemos que o personagem provavelmente se dará mal ao entrar naquele porão escuro, mas a curiosidade – e, sejamos honestos, uma certa dose de sadismo – nos impede de desviar o olhar.
A Paródia e a Reinvenção do Gênero
É importante notar que o terror, como qualquer outro gênero, evolui e se reinventa constantemente. Muitos filmes recentes abraçam os clichês de forma consciente, utilizando-os para criar paródias inteligentes e subverter as expectativas do público. Nesses casos, o erro estúpido não é apenas um artifício para gerar tensão, mas sim um comentário metalinguístico sobre a própria natureza do gênero.
Conclusão: O Prazer Culpado do Terror
Em última análise, a nossa relação com os clichês do terror é complexa e multifacetada. Há o prazer da catarse, a emoção da tensão narrativa e, em alguns casos, a satisfação de ver o gênero se auto-parodiar. Mas, acima de tudo, há o reconhecimento de que, no fundo, todos somos vulneráveis, e que o medo pode nos levar a tomar decisões das quais nos arrependeremos. Talvez seja por isso que, mesmo sabendo que o personagem está prestes a cometer um erro terrível, não conseguimos desviar o olhar. Afinal, no terror, como na vida, a tragédia alheia pode ser, paradoxalmente, incrivelmente cativante.