Opinião | Para Lula e para o mundo, começa a difícil tarefa de salvar a Amazônia

Outro obstáculo para o novo governo será combater uma mentalidade generalizada que justifica a destruição da floresta tropical como necessária para o desenvolvimento econômico. Essa narrativa explica por que, na última eleição, o Sr. Bolsonaro ganhou o voto popular em cinco dos nove estados que compõem a Amazônia brasileira. Vários governadores amazônicos que apoiam a exploração da floresta também foram reeleitos.

Após a eleição de Lula, caminhoneiros e outros simpatizantes de Bolsonaro bloqueado A BR-163, uma estrada conhecida como “Rodovia da Soja”, que se estende dos campos de soja aos terminais de exportação ribeirinhos na Amazônia. No que pode ser um sinal do que está por vir, policiais federais tentando limpar a estrada foram atacados por multidões de manifestantes.

De fato, a violência naquela região já ganhou as manchetes globais durante os dois primeiros mandatos de Lula. Em 2005, em resposta a um plano para proteger milhões de acres de floresta, apresentado pela ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, madeireiros e fazendeiros bloquearam a rodovia, ameaçaram poluir cursos d’água e até alertaram que “o sangue vai fluir”, levando o governo a reverter temporariamente o curso. Por fim, a Sra. Silva conseguiu criar uma série de reservas ao longo da BR-163 que lhe renderam reconhecimento global; esta semana, ela foi nomeada ministra do Meio Ambiente por Lula.

Uma arena crítica na luta contra o desmatamento será a zona AMACRO, uma região de 180.000 milhas quadradas no noroeste do Brasil (o nome é retirado dos estados que abrange: Amazonas, Acre e Rondônia). Foi promovido como um projeto de “zona de desenvolvimento sustentável” para produção de soja e carne bovina com o apoio de Bolsonaro. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais, a região, antes uma das mais preservadas do país, agora está em alta”o aumento mais acentuado do desmatamento.”

Nesse cenário complexo, uma peça central da estratégia de conservação de Lula deve envolver o mercado global. Os criminosos devem enfrentar punições severas como forma de dissuasão, mas para atingir o desmatamento zero, o governo federal também deve recompensar aqueles que seguem as regras.

A comunidade internacional pode desempenhar um papel central nessa estratégia e contribuir financeira e generosamente com o esforço do Brasil para salvar a floresta tropical. Isso pode assumir a forma de doações ao Fundo Amazônia, mas também investimentos de longo prazo em cadeias produtivas e indústrias que fornecem empregos tão necessários para as populações locais e estabelecem as bases do desenvolvimento sustentável. Por exemplo, a China poderia investir, como vem fazendo na África e na Ásia, na instalação de fábricas que agreguem valor aos recursos naturais antes de serem exportados.

Em seu discurso na conferência do clima das Nações Unidas no Egito no mês passado, Lula disse: “Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem provocar mudanças climáticas”. Se for bem-sucedido, ele provará ao ganha-pão médio e às elites do agronegócio na Amazônia que a prosperidade e a preservação são possíveis.

Heriberto Araujo, jornalista investigativo, é autor do livro “Mestres da Terra Perdida: A História Não Contada da Amazônia e a Luta Violenta pela Última Fronteira do Mundo”, que será lançado em breve.

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