OEA decide investigar o próprio secretário-geral, acusado de falta de ética em relacionamento com subalterna


Um denunciante anônimo acusa Almagro de manter ou ter mantido ‘uma relação pessoal íntima com uma funcionária’ originária do México e de ‘promovê-la, de repente e sem concorrência, de um cargo de nível médio a assessora principal’ do secretário-geral. Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), durante coletiva em Washington, nos EUA, em 29 de maio de 2018
Mary F. Calvert/ Reuters
A Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu nesta sexta-feira (11) que uma empresa externa investigue se o secretário-geral, Luis Almagro, violou o código de ética ao manter uma relação sentimental com uma subordinada, um caso que ele mesmo confirma.
Em sessão ordinária, o Conselho Permanente, o órgão executivo da OEA, decidiu por maioria de 30 votos a favor e duas abstenções (Belize e Haiti) que uma empresa externa determine se Almagro “violou as normas e regulamentos da OEA”.
O Conselho também pede a criação de um grupo de trabalho para selecionar uma empresa de “custo razoável” para apresentar um relatório dentro de três meses e “tomar as medidas apropriadas” uma vez examinadas.
Dessa forma, seguem a recomendação do inspetor-geral da OEA, que assessorou uma auditoria externa em denúncias feitas por um jornalista e em uma mensagem de e-mail anônima assinada como “denunciante da OEA”.
Promoção repentina e sem concorrência
A denúncia anônima acusa Almagro de manter ou ter mantido “uma relação pessoal íntima com uma funcionária” originária do México e de “promovê-la, de repente e sem concorrência, de um cargo de nível médio a assessora principal” do secretário-geral.
Fontes familiarizadas com o assunto disseram que se trata da cientista política mexicana Marian Vidaurri.
Foi o próprio Almagro que informou a inspetoria geral sobre essa denúncia anônima.
Almagro agradeceu o apoio
Almagro, um advogado e diplomata uruguaio de 59 anos, tomou a palavra ao fim da sessão. Agradeceu ao presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, pelo apoio “neste processo de pedir uma investigação externa com as máximas garantias” e confirmou ter tido uma relação amorosa com a funcionária, da qual disse que nunca se arrependeria.
Os melhores anos
“Alguns de vocês, praticamente todos vocês, estavam cientes do relacionamento, eu definitivamente quero confirmar e reconfirmar que havia tal relacionamento”, afirmou enfaticamente.
“Ela foi minha parceira por praticamente três anos, e em nível pessoal talvez foram os melhores anos da minha vida”, disse ele, especificando que o relacionamento “acabou meses atrás”.
Uruguai e Antígua e Barbuda foram os autores do projeto de resolução votado nesta sexta-feira em que, segundo o embaixador uruguaio na OEA, Washington Abdala, “buscam conhecer a verdade, dentro do marco regulatório da organização”.
Almagro, que vem acumulando tropeços há meses, afirma que seu relacionamento amoroso não influenciou seu trabalho.
“Eles sabem, porque me viram trabalhar, que nada disso pode mudar minha visão das instituições e seu funcionamento e a responsabilidade que temos com relação a elas e seu funcionamento”, disse ao Conselho Permanente.
O fato é que Almagro está nas cordas. Vários países, como México e Argentina, solicitaram sua renúncia e um tribunal da OEA concluiu que ele causou “danos morais, pessoais e profissionais” a Paulo Abrão por declarações feitas quando decidiu não renovar seu mandato como chefe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em 2020.
O caso de Almagro na OEA lembra o de outra organização importante para a América Latina: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), cujo ex-presidente Mauricio Claver-Carone foi deposto no final de setembro, após uma investigação concluir que ele tinha um relacionamento íntimo com uma subordinada, a quem teria dado tratamento preferencial.
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