Entre os motivos para isso estão a antiguidade e a tradição de discrição em torno do grupo e, claro, o poder e influência de alguns de seus integrantes, como o ex-premiê britânico Winston Churchill e o escritor Oscar Wilde.
Estima-se que, ao redor do mundo, haja 6 milhões de pessoas ligadas à maçonaria.
Ainda que originalmente a maçonaria tenha se constituído como uma sociedade secreta, hoje, ao menos no Reino Unido, tem optado por se defender publicamente das acusações.
A Grande Loja Unida da Inglaterra publicou anúncios publicitários de página inteira em diversos jornais britânicos, pedindo o fim da “discriminação” sofrida por seus membros, os quais se queixam da representação “tergiversada” feita deles.
Quando o jornal The Guardian noticiou, por exemplo, a existência de duas lojas maçônicas que operariam em segredo no Parlamento do Reino Unido, compostas por políticos ou jornalistas. Em outra denúncia no Reino Unido, o presidente do principal sindicato das polícias da Inglaterra e do País de Gales disse que círculos maçons dentro da corporação estariam impedindo reformas voltadas à promoção de minorias, como mulheres e negros.
David Staples, líder dos maçons ingleses e galeses, negou as acusações apresentadas no Guardian e disse que nenhum de seus membros era parlamentar ou político.
“Não somos uma sociedade secreta”, afirmou ele à BBC, agregando ser “ridícula” a notícia sobre o veto de policiais maçons a reformas corporativas.
Staples também falou que a maçonaria inglesa levaria a cabo uma série de eventos a portas abertas para responder a perguntas da população sobre a natureza e o funcionamento da organização.
Assim, dizem querer combater o hermetismo tradicionalmente associado a maçons.
Peter, um jovem maçom de Londres, disse ao Guardian: “Meus colegas de trabalho sabem que sou membro de uma loja, e nunca me encontrei com nenhum irmão maçom que se negasse a tornar pública sua filiação ou que escondesse o que fazemos”.
Cada loja se reúne oficialmente quatro vezes ao ano, em cerimônias de acolhida a novos membros que podem ter uma hora de duração.
Mas o que ocorre nesses eventos sempre foi um segredo bem guardado.
“A melhor maneira de explicar é que é como se fosse uma peça de teatro, em que todo o mundo tem um papel”, disse à BBC um integrante da maçonaria britânica, pedindo anonimato.
“O venerável mestre (um dos mais altos cargos nas lojas) é o ator principal, com a maioria das falas. À medida que você vai às cerimônias, tem de aprender coisas – há perguntas para as quais precisa aprender as respostas.”
Mas o que é dito nessas cerimônias nunca é revelado ao mundo exterior.
De um lado, as maçonarias não veem com bons olhos que seus membros discutam política ou religião; de outro, porém, um dos requisitos para entrar para as lojas é, historicamente, a crença em um poder superior.
“(A tradição maçônica) é baseada no Templo de Salomão”, diz à BBC Anna, integrante de uma das poucas lojas maçônicas femininas britânicas. “É uma alegoria, levemente baseada na religião.”
A maçonaria segrega homens e mulheres em lojas distintas.
Na Inglaterra, por exemplo, a primeira loja feminina foi criada em 1908, com um venerável mestre do sexo masculino. Depois, passou a ser integrada apenas por mulheres, com um veto à presença masculina. Elas também são proibidas nas cerimônias masculinas.
Segundo a maçom Anna, porém, “fazemos os mesmos rituais (que os homens), as mesmas cerimônias, ainda que estejamos completamente separados”.
Mas essa separação por gênero é comumente alvo de críticas, inclusive entre os próprios maçons.
O maçom Peter, por exemplo, disse desejar que “a Grande Loja (britânica) se modernize completamente algum dia e permita que ambos os sexos se misturem”.
“Seria magnífico para a organização”, opina.
Outro maçom que pediu anonimato afirmou que “a maçonaria está impregnada de tradições, e seus rituais são peculiares, mas não mais do que na Igreja Católica”.
Questionados sobre os motivos que os levaram a ingressar nessa irmandade, os entrevistados citaram a “veia social” das lojas, que contribuem com ações beneficentes comunitárias, e com o sentimento de lealdade e pertencimento fomentado pela maçonaria.
“Gosto de confiar nas pessoas, sou muito leal, então esse tipo de coisa (ser parte da comunidade) me atraiu”, disse um deles à BBC. “Ao longo dos anos, você constrói relacionamentos, faz amigos e forma uma rede. (Mas) uso essa expressão com cuidado, porque essa rede não está lá para ser usada em seu benefício pessoal.”
De fato, uma das características que se costumam atribuir aos maçons é a de que eles se valem de suas posições sociais e profissionais para favorecer outros membros e a própria organização. Os maçons, porém, afirmam que isso é um “mito”.
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“Acho que no passado provavelmente houve casos (de nepotismo e favorecimento), mas nunca soube de nenhum entre as maçons”, afirmou Anna à BBC.
Além disso, em diferentes momentos da história, a maçonaria foi acusada de conspirar e influenciar nos bastidores da política.
Staples, o líder da Grande Loja britânica, afirmou que uma investigação de um comitê especial do Parlamento concluiu não haver “nada sinistro” na atividade da maçonaria do país.
O relatório desse comitê, porém, recomendou que seja exigido que maçons com cargos na polícia e demais órgãos públicos declarem publicamente seu pertencimento à irmandade.
Steve White, que acaba de deixar a presidência do sindicato policial britânico e que denunciou o suposto bloqueio de reformas por parte de maçons, opinou, em entrevista ao Guardian, que “o que as pessoas fazem em sua vida privada é assunto apenas delas. (Mas) se torna um problema quando afeta seu trabalho”.
“Houve ocasiões em que colegas meus suspeitaram que maçons foram um obstáculo para reformas. Temos que nos assegurar que as pessoas estão tomando as decisões pelos motivos certos”, disse.
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