No frenético mundo das startups, o termo ‘scaling’ – o crescimento rápido e exponencial de uma empresa – é frequentemente visto como o Santo Graal. A promessa de dominar o mercado, atrair investimentos massivos e se tornar o próximo unicórnio digital ecoa nos corredores de escritórios descolados e espaços de coworking. No entanto, por trás do brilho sedutor do crescimento acelerado, esconde-se uma realidade muitas vezes ignorada: o impacto negativo que esse processo pode ter sobre os funcionários.
A Ilusão do ‘Sonho Grande’ e o Desgaste Humano
A cultura de startup, com sua ênfase em horários flexíveis, ‘open space’ e benefícios diferenciados, muitas vezes mascara a pressão implacável por resultados. O ‘scaling’ exacerba essa pressão, exigindo que os funcionários trabalhem mais horas, assumam responsabilidades além de suas funções originais e lidem com a constante incerteza de um ambiente em rápida transformação. O mito do ‘sonho grande’, que prega que o sacrifício pessoal é um preço pequeno a pagar pelo sucesso da empresa, pode levar ao esgotamento, à exaustão mental e a problemas de saúde física e emocional.
A Despersonalização e a Perda do Senso de Propósito
À medida que uma startup cresce, a cultura organizacional tende a se diluir. A informalidade e a camaradagem dos primeiros dias dão lugar a estruturas hierárquicas mais rígidas e processos burocráticos. Os funcionários, que antes se sentiam parte de uma equipe unida e engajada, podem se sentir como meras engrenagens em uma máquina impessoal. A perda do senso de propósito e de conexão com os valores originais da empresa pode levar à desmotivação e à diminuição da produtividade.
A Precarização do Trabalho e a Instabilidade Financeira
O ‘scaling’ muitas vezes implica em contratações em massa, nem sempre acompanhadas de um planejamento estratégico a longo prazo. Muitos funcionários são contratados como ‘PJ’s (Pessoas Jurídicas), sem os direitos e benefícios trabalhistas garantidos pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Essa precarização do trabalho aumenta a insegurança financeira e a vulnerabilidade dos trabalhadores, que ficam à mercê das flutuações do mercado e das decisões da empresa.
A Exclusão e a Falta de Diversidade
Em muitas startups, o ‘scaling’ é acompanhado de uma busca por ‘talentos’ que se encaixem em um perfil específico: jovens, ambiciosos, dispostos a trabalhar longas horas e a se sacrificar pela empresa. Essa busca obsessiva por um perfil idealizado pode levar à exclusão de grupos minoritários e à falta de diversidade na equipe. A ausência de diferentes perspectivas e experiências pode limitar a capacidade da empresa de inovar e de se adaptar às necessidades de um mercado cada vez mais diverso.
Um Crescimento Sustentável e Humano
É fundamental repensar o modelo de ‘scaling’ tradicional e buscar alternativas que priorizem o bem-estar dos funcionários e a sustentabilidade do crescimento. Isso implica em investir em uma cultura organizacional que valorize o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, oferecer salários e benefícios justos, promover a diversidade e a inclusão, e garantir que os funcionários tenham voz ativa nas decisões da empresa. Um crescimento verdadeiramente bem-sucedido é aquele que beneficia a todos os stakeholders, não apenas os investidores e os fundadores.
Em última análise, o ‘scaling’ não deve ser um fim em si mesmo, mas sim um meio para alcançar um objetivo maior: criar uma empresa que gere valor para a sociedade, que respeite seus funcionários e que contribua para um mundo mais justo e sustentável. A busca incessante pelo crescimento a qualquer custo é uma receita para o desastre, tanto para a empresa quanto para as pessoas que a constroem.