Nomeação de Anderson Torres como secretário de Segurança foi 'erro político' de Ibaneis, diz Dino

Ministro da Justiça diz que ‘antecedentes’ de Torres eram ‘muito ruins’ e deveriam ter evitado indicação. Dino também nega que tenha havido omissão federal no enfrentamento aos atos terroristas do último domingo. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou em entrevista à GloboNews neste sábado (14) que a decisão do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), de nomear Anderson Torres para a Secretaria de Segurança Pública foi um “erro político”.
Ibaneis foi afastado do governo por prazo inicial de 90 dias, e Anderson Torres, demitido do cargo e preso pela Polícia Federal após os atos de terrorismo que depredaram as sedes dos três poderes da República no último domingo (8).
Investigações apuram se houve conivência da segurança distrital com a minoria de bolsonaristas radicais – inclusive, considerando que Ibaneis era aliado de Bolsonaro no mandato anterior e Torres tinha sido ministro da Justiça de Bolsonaro.
“Os antecedentes [de Torres] eram muito ruins. Então, o que eu posso afirmar é que, no mínimo, houve um erro político do governador Ibaneis. Isso é crime? Eu não sei, não posso antecipar a investigação”, disse Dino.
Como “antecedentes” de Torres como ministro da Justiça, Flávio Dino citou na entrevista à GloboNews:
o bloqueio das estradas por grupos bolsonaristas radicais que questionavam, sem provas, o resultado da eleição presidencial – e que não foi impedido pela Polícia Rodoviária Federal;
o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), vinculado ao Ministério da Justiça, ter aberto investigações sobre institutos de pesquisa;
a “tentativa de instrumentalização política” da Polícia Federal, nas palavras de Dino, e
a “inércia” da PF na descoberta de um artefato explosivo anexado a um caminhão de combustível destinado ao Aeroporto de Brasília, no dia 24 de dezembro.
Flávio Dino afirmou, ainda, que outros governadores de partidos que fazem oposição a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também foram acionados naquele fim de semana – e, diferentemente do governo do DF, colaboraram para evitar atos de depredação.
“Nos dias que antecederam aos eventos do dia 8, eu falei não apenas com o governador Ibaneis. Falei com o governador de São Paulo, Tarcisio [de Freitas, ex-ministro de Bolsonaro], com o governador do Rio, Claudio Castro [aliado de Bolsonaro]. E lá, as polícias militares agiram”, disse.
Do discurso ao terrorismo: dois meses dentro do acampamento bolsonarista em Brasília
Dino nega omissão federal
Ainda na entrevista à GloboNews, Flávio Dino rechaçou a hipótese de que forças federais de segurança – como a própria PF, o Exército e o Batalhão da Guarda Presidencial – também teriam falhado no enfrentamento ao grupo de bolsonaristas radicais envolvido nos atos de terrorismo.
O ministro da Justiça diz que, nessa situação, teria duas coisas a fazer:
promover a intervenção federal na segurança pública do DF, ordenada por Lula;
e “garantir administrativamente a continuidade dos trabalhos da Polícia Federal”.
“Que, faço questão de dizer mais uma vez, não poderia ter ocorrido na Esplanada, porque a Polícia Federal não é polícia ostensiva. Está na Constituição, art. 144”, cita Dino.
A Constituição dá à PF funções como “apurar infrações penais contra a ordem política e social” e “prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas”.
Também diz, no mesmo artigo, que “às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública”.
Flávio Dino também afirmou na entrevista que os atos de vandalismo na Esplanada dos Ministérios eram “totalmente evitáveis”.
“Quando ocorre a intervenção federal no meio da tarde do domingo, com os eventos já acontecendo […] a Polícia Militar assume a situação sob o nosso comando e rapidamente controla a situação. Na prática, a situação era absolutamente evitável, absolutamente controlável”, declarou.

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