'Ninguém está comendo gatos e cachorros', diz John Legend sobre boatos sobre Springfield, sua cidade natal


O cantor gravou um vídeo para sua rede social desmentindo fala do ex-presidente Donald Trump, que disse que estrangeiros estavam comendo pets de moradores da cidade de Ohio em debate, e pediu: ‘Vamos amar uns aos outros’. John Legend desmente boatos sobre Springfield em vídeo
Instagram/Reprodução
O cantor John Legend usou suas redes sociais para falar sobre a polêmica envolvendo sua cidade natal, Springfield, em Ohio, nesta quinta-feira (12).
O local ganhou repercussão mundial esta semana, depois que o ex-presidente e candidato republicano Donald Trump afirmou que imigrantes estariam comendo bichos de estimação dos moradores durante debate.
Ainda no ar, os mediadores desmentiram a informação, citando uma declaração do prefeito da cidade, porém, nas redes sociais, os boatos continuam fortes e Legend garantiu:
“Ninguém está comendo gatos, ninguém está comendo cachorros. Nós todos somos queremos viver, prosperar e criar nossas famílias em um ambiente saudável e seguro. Que tal nós amarmos uns aos outros?”
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Além de desmentir a fake news sobre os pets, John Legend também falou sobre a chegada de milhares de imigrantes do Haiti à sua cidade e defendeu:
“Essas pessoas vieram para Springfield porque havia trabalho para elas e elas queriam trabalhar. E eles querem viver o sonho americano, assim como seus ancestrais alemães, irlandeses, italianos, judeus, jamaicanos, poloneses… Todos esses ancestrais que vieram para esse país, talvez não falando a língua que todo mundo falava, talvez não comendo as mesmas comidas, talvez tendo que se ajustar, tendo que se integrar”.
O cantor encerrou ainda sua mensagem em vídeo pedindo para que as pessoas parem de espalhar “ódio, xenofobia, racismo e mentiras” sobre os imigrantes que estão indo para os Estados Unidos.
Anatomia de um boato
Montagem feita por Inteligência Artificial publicada em rede social de Donald Trump com ex-presidente cercado por gatos e gansos foi publicada minutos antes do debate presidencial, em 10 de setembro de 2024.
Reprodução/ Redes sociais
O boato contado por Donald Trump veio originalmente de um rumor desmentido por autoridades que circulou nas redes sociais e foi amplificado por uma mensagem compartilhada na rede social X pelo seu candidato a vice, J.D. Vance.
J.D. Vance havia compartilhado em suas redes sociais que seu gabinete havia recebido “várias denúncias” de habitantes sobre imigrantes haitianos roubando animais de estimação para comer.
Na própria terça, no entanto, o candidato a vice disse que era possível que “todos esses rumores sejam falsos”.
Autoridades municipais de Springfield afirmaram que não havia denúncias ou reclamações críveis a respeito do tema.
A campanha de Trump tem focado amplamente na imigração ilegal nos EUA e reforçado preconceitos contra populações estrangeiras, sobretudo negras. No mesmo debate, Trump repetiu a narrativa de que os EUA estão sendo invadidos por imigrantes ilegais provindos diretamente de presídios e manicômios de outros países — o que também é falso.
Como surgiu esse boato?
O que dizem as autoridades em Ohio?
O que dizem os defensores dos imigrantes haitianos?
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Em 6 de setembro, começou a circular na rede social X uma publicação que compartilhava o que parecia ser uma captura de tela de uma postagem em mídia social, aparentemente nos arredores de Springfield.
A postagem retuitada falava sobre a “amiga da filha do vizinho” da pessoa ter visto um gato pendurado em uma árvore, pronto para ser desossado e comido, e alegando, sem provas, que haitianos moravam na casa.
A foto ao lado mostrava um homem negro carregando o que parecia ser um ganso canadense pelas patas. Essa postagem continuou a ser compartilhada nas redes sociais.
Na segunda-feira, Vance postou no X: “Os relatórios agora mostram que pessoas tiveram seus animais de estimação sequestrados e comidos por pessoas que não deveriam estar neste país. Onde está a nossa czar da fronteira?” ele disse, em referência a Harris.
No dia seguinte, Vance postou novamente no X sobre Springfield, dizendo que seu escritório havia recebido denúncias de residentes que afirmavam que “os animais de estimação de seus vizinhos ou a vida selvagem local foram sequestrados por migrantes haitianos. É possível, claro, que todos esses rumores se revelem falsos.”
Outros republicanos compartilharam postagens semelhantes. Entre eles estava o senador do Texas Ted Cruz, que postou uma foto de gatinhos com uma legenda que dizia para votar em Trump “Para que os imigrantes haitianos não nos comam”.
Horas antes do debate, o próprio Trump postou duas fotos relacionadas em seus perfis de mídias sociais. Uma postagem de sua rede social, a Truth Social, era uma foto de Trump cercado por gatos e gansos. Outro apresentava gatos armados e com bonés MAGA (“Make America Great Again”, ou “Torne os EUA grandes de novo”, lema das campanhas presidenciais de Trump).
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Trump estava criticando a política migratória da gestão de Joe Biden e Kamala Harris, afirmando que os democratas permitiram a entrada de milhões de estrangeiros nos Estados Unidos.
Em seguida, o mediador da ABC News afirmou que a produção do debate entrou em contato com a prefeitura de Springfield, em Ohio, para checar a afirmação de Trump. As autoridades informaram que nenhum caso do tipo havia sido reportado.
Trump rebateu dizendo que havia assistido na televisão pessoas afirmando que tiveram os cachorros roubados.
Mais cedo, a Associated Press reportou que a campanha de Trump estava propagando falsos rumores de que imigrantes haitianos estavam roubando e comendo pets em Ohio.
O candidato a vice na chapa de Trump admitiu que os rumores poderiam ser falsos.
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O que dizem os defensores dos imigrantes haitianos?
As postagens criam uma narrativa falsa e podem ser perigosas para os haitianos nos Estados Unidos, de acordo com Guerline Jozef, fundadora e diretora executiva da Haitian Bridge Alliance, um grupo que apoia e defende imigrantes de ascendência africana.
“Estamos sempre na outra ponta de todo tipo de narrativas e tratamentos bárbaros e desumanos, especificamente quando se trata de imigração”, disse Jozef em uma entrevista por telefone.
Seus comentários ecoaram as palavras de John Kirby, porta-voz de segurança nacional da Casa Branca.
“Existem pessoas que vão acreditar nisso, por mais absurdo e estúpido que seja”, disse Kirby. “E elas podem agir com base nesse tipo de informação, de uma maneira que alguém possa se machucar. Então isso precisa parar.”
O que se sabe sobre um caso isolado a 281 km de distância
Um incidente totalmente não relacionado que ocorreu no mês passado em Canton, Ohio, rapidamente e erroneamente se misturou à discussão.
Em 26 de agosto, a polícia de Canton acusou uma mulher de 27 anos de crueldade animal e conduta desordeira depois que ela “torturou, matou e comeu um gato em uma área residencial na frente de várias pessoas”, de acordo com um relatório policial.
Mas Allexis Ferrell não é haitiana. Ela nasceu em Ohio e se formou na McKinley High School de Canton em 2015, de acordo com registros públicos e reportagens de jornais. Registros judiciais mostram que ela tem tido problemas com a lei desde pelo menos 2017. Mensagens solicitando comentários não foram retornadas por vários advogados que a representaram.
Ela está detida na prisão do Condado de Stark aguardando uma audiência no mês que vem, de acordo com o gabinete do promotor.
Qual é o contexto dos haitianos em Ohio e nos Estados Unidos?
Springfield, uma cidade de cerca de 60 mil habitantes, tem visto a população haitiana crescer nos últimos anos. Não se sabe o número exato, mas estima-se que o condado inteiro de Springfield tenha uma população imigrante total de 15 mil pessoas, segundo a administração da cidade.
A cidade também afirma que os imigrantes haitianos estão legalmente no país sob um programa federal que permite sua permanência temporária.
No mês passado, a administração Biden concedeu elegibilidade para status legal temporário a cerca de 300 mil haitianos já nos Estados Unidos, porque as condições no Haiti são consideradas inseguras para eles voltarem. O governo do Haiti estendeu o estado de emergência para todo o país devido à violência das gangues.
Outro assunto que surgiu, mencionado por Trump em um e-mail na segunda-feira (9), é a morte em agosto de 2023 de um menino de 11 anos após um veículo dirigido por um imigrante haitiano ter atingido o ônibus escolar da criança.
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