Apesar dos meses de aulas presenciais suspensas durante a pandemia, a rede estadual de ensino em São Paulo conseguiu ver o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) avançar nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio na edição de 2021, divulgada na manhã desta sexta-feira (16). No entanto, a análise dos dois componentes que formam o indicador mostra que a aprendizagem dos estudantes avaliados não aumentou desde a edição anterior, de 2019.
O indicador é calculado levando em conta a nota média da avaliação de matemática e língua portuguesa do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que vai de 0 a 10, e o chamado fluxo, ou rendimento, dos alunos de cada etapa de ensino, ou seja, a proporção de estudantes que conseguiram passar de ano, adaptada a uma escala menor, de 0 a 1. Os dois números são multiplicados para chegar o valor final do Ideb (leia mais ao fim da reportagem).
Nos anos finais do ensino fundamental, entre 2019 e 2021 a nota do Saeb ficou estagnada, variando de 5,39 para 5,37. Dentro de uma escala de 0 a 10. Mas a aprovação subiu de 0,96 para 0,98 dentro de uma escala menor, de 0 a 1. Com isso, o Ideb avançou de 5,2 para 5,3.
Já no ensino médio, a nota do Saeb recuou de 4,71 para 4,63, enquanto a aprovação subiu mais, de 0,91 para 0,94. Isso fez o Ideb dessa etapa subir de 4,3 para 4,4.
Nos anos iniciais do fundamental, a situação foi diferente. Não só a nota média caiu mais, de 6,66 para 6,20, como a taxa de aprovação também recuou de 0,99 para 0,98. Como resultado, o Ideb de 6,6 em 2019 baixou para 6,1 em 2021.
Variação do Saeb, da aprovação e do Ideb da rede estadual de São Paulo
2019 | 2021 | ||||||
ETAPA DE ENSINO | NOTA SAEB | APROVAÇÃO | IDEB 2019 | NOTA SAEB | APROVAÇÃO | IDEB 2021 | |
Anos iniciais do fundamental | 6,66 | 0,99 | 6,6 | 6,20 | 0,98 | 6,1 | |
Anos finais do fundamental | 5,39 | 0,96 | 5,2 | 5,37 | 0,98 | 5,3 | |
Ensino médio | 4,71 | 0,91 | 4,3 | 4,63 | 0,94 | 4,4 |
Em entrevista ao SP2, Hubert Alquéres, secretário estadual de Educação de São Paulo, explica que a rede estadual conseguiu manter o aprendizado apostando em aulas remotas e entregando a merenda e material pedagógico na casa dos estudantes. “Os professores ficaram muito ligados fazendo busca ativa, quando o estudante deixava de frequentar as aulas remotas os professores iam atrás dos estudantes também”, afirmou ele.
Alquéres também diz que a taxa de aprovação praticada pela rede em 2021 já foi mais baixa do que a de 2020, quando, por orientação do Conselho Nacional de Educação (CNE), as redes em todo o Brasil evitaram reprovar os estudantes para reduzir o risco de evasão escolar, pressionado pelo ensino remoto durante vários meses na pandemia.
“A maioria das escolas de São Paulo participou do exame, do Saeb, com mais de 80% de frequência dos alunos”, explicou Alquéres. Para ter o Ideb por escola calculado, todas as instituições precisam atingir esse mínimo de participação na prova, que foi aplicada presencialmente em todo o Brasil entre novembro e dezembro de 2021. Mas, segundo especialistas, nas escolas que não atingiram a participação mínima, as notas dos estudantes também conta para o cálculo do Ideb da rede de ensino. No caso de São Paulo, em 2019 o Inep calculou o Ideb de 4.047 escolas estaduais nos anos finais do fundamental. Em 2021, esse número foi de 4.055. No ensino médio, foram 3.929 em 2019 e 3.955 em 2021.
Já no caso da queda nos anos iniciais do fundamental, o secretário estadual diz que era um impacto já esperado, porque as crianças mais novas tiveram mais problemas de rendimento durante o período de aulas remotas.
“Mas o fato é que as metas elas foram estabelecidas antes da pandemia. E esse evento absolutamente atípico e diferente, que foi a pandemia, ele mudou realmente as expectativas no planeta inteiro. Então a gente está muito tranquilo de que a gente tem um nível de proficiência bom nas crianças dos anos iniciais, e que agora a gente precisa trabalhar para melhorar e recompor o aprendizado.” (Hubert Alquéres, secretário estadual da Educação)
Na rede municipal da cidade de São Paulo, as escolas públicas também registraram situação semelhante, com avanço do Ideb 2021 de 4,8 para 5,1, e do ensino médio de 3,7 para 4,5. Nos anos iniciais, o indicador também caiu. Em 2019, ele era de 6, mas agora recuou para 5,7.
Em nota, o secretário municipal da Educação, Fernando Padula, afirmou que a secretaria tem focado nem atividades paralelas às aulas para acompanhar os estudantes com mais dificuldades, e em 2023 pretende reforçar a recuperação dos estudantes, especialmente do 1º ao 5º ano do fundamental. “Estamos trabalhando, em várias frentes, para minimizar o impacto negativo causado pela pandemia, atuando com formação de professor e criação de material pedagógico, na recuperação e na fixação das equipes nas escolas, por meio do pagamento da Gratificação por Local de Trabalho (GLT) e novo concurso para professores”, disse ele.
Ideb 2021 da rede privada também caiu
Embora ainda mantenha patamares acima das escolas públicas, a rede particular de ensino paulista também apresentou quedas no Ideb 2021.
Nos anos iniciais do fundamental, o Ideb recuou de 7,6 para 7,5. Nos anos finais, a queda foi maior, de 6,7 para 6,5. Só no ensino médio as escolas privadas conseguiram avançar, de 6,1 para 6,2.
Ideb 2021 da rede privada de ensino de São Paulo — Foto: Ana Carolina Moreno/TV Globo
‘Totalmente esperado’, diz professora
Em 2020, quando a pandemia obrigou as escolas a fecharem as portas físicas, a professora Carolina Monteiro Marques precisou se desdobrar para conseguir fazer as aulas de língua portuguesa chegarem até seus alunos.
“Eu falo da minha experiência, da minha escola, dos meus alunos: eu consegui acessar, chuto alto, somente 30% dos meus alunos nesse período todo de um ano e meio.” (Carolina Marques, professora de língua portuguesa)
Por isso, ela não se surpreende com os resultados do Ideb 2021. Mas o impacto, que atingiram com mais força justamente as escolas da periferia, não a demove de seguir tentando melhorar o país por meio da educação.
“Se engajar agora, nesse momento, se todos percebermos do quanto a gente precisa juntar forças para recuperar nossos alunos, nossas crianças, para a gente transformar isso aqui, quem sabe a gente consegue mudar nossa realidade. É nisso que acredito, por isso sou professora, é por isso que luto todos os dias. É só a educação que pode fazer isso.”
Nota dos estudantes no Ideb piora em todas as áreas avaliadas
Perguntas e respostas sobre o Ideb
- O que é o Ideb? É o Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica, criado em 2007, depois que a Prova Brasil passou a ser censitária para o ensino fundamental, ou seja, aplicada em todas as escolas do país.
- O que mede o Ideb? O Ideb mede a qualidade de ensino das escolas individualmente, das redes de ensino (municipal, estadual, privada), dos municípios, do estado e do Brasil, para as três etapas de ensino: anos iniciais do fundamental, anos finais do fundamental e ensino médio.
- Qual é a periodicidade do Ideb? O Ideb é calculado e divulgado a cada dois anos. Sempre em anos pares, mas com dados do ano anterior. Por isso temos Ideb apenas dos anos ímpares. A última prova foi aplicada em 2021, e a anterior, em 2019.
- Todos os alunos são avaliados pelo Ideb? Não. A prova de avaliação aplicada com estudantes de três anos: o 5º ano do ensino fundamental, o 9º ano do ensino fundamental, e o 3º ano do ensino médio. Por isso, o Brasil tem três Idebs diferentes, não existe apenas um. É um para cada etapa de ensino.
- Como é calculado o Ideb? Ele é o resultado da multiplicação simples de dois indicadores: o resultado padronizado do Saeb, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (nome pelo qual hoje é conhecida a Prova Brasil), considerado o APRENDIZADO, e a taxa de aprovação, considerada o FLUXO.
- APRENDIZADO: É um número dentro de uma escala de 0 a 10. Ele é resultado de um cálculo que leva em conta a nota média dos estudantes que fizeram a prova Brasil, mas também a média nacional do Saeb 1997, ano de definição da escala. Portanto, é uma nota “padronizada” dentro de uma escala, e comparando o desempenho dos alunos no ano do Saeb com o ponto de partida considerado pelo indicador.
- FLUXO: É um número dentro de uma escala de 0 a 1, que representa a porcentagem média de estudantes de cada etapa aprovados naquele ano, ou seja, que não reprovaram nem abandonaram. Esse componente, tirado do Censo da Educação Básica, é importante porque não é apenas o aprendizado do aluno que deve ser levado em conta, mas também o tempo que ele leva para concluir aquela etapa de ensino. É uma medida também da eficiência da rede ou da escola em garantir essa conclusão.
- EXEMPLO 1: Se uma escola tem nota 6 de aprendizado, e taxa de aprovação de 0,79 (ou seja, 79% dos alunos aprovados). Na conta 6 X 0,79, a nota do Ideb dessa escola vai ser 4,7.
- EXEMPLO 2: Se uma rede tem nota 5 de aprendizado, mas 0,95 de fluxo (só 79% dos alunos são aprovados): 5 X 0,95 = 4,7. Ou seja, duas escolas com indicadores diferentes, mas o mesmo Ideb.