Na Assembleia Geral da ONU, 185 países pedem o fim do embargo dos EUA a Cuba; Brasil se abstém


EUA e Israel votaram contra a resolução; Brasil e Ucrânia se abstiveram. Essa é a terceira vez que a ONU aprova um pedido para que o embargo, que vigora há 60 anos, acabe. Autoridades eleitorais de Cuba fazem contagem de votos
YAMIL LAGE / AFP
Com o voto contrário dos Estados Unidos e Israel e abstenções do Brasil e Ucrânia, a Assembleia Geral da ONU aprovou nesta quinta-feira (3), por 185 votos a favor, uma resolução apresentada por Cuba que pede o fim do embargo americano imposto há 60 anos.
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Essa é a terceira vez, desde 1992, que se aprova uma resolução que pede “fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos EUA contra Cuba” e defende a “igualdade soberana” dos Estados, a “não ingerência em seus assuntos internos” e a “liberdade de comércio e de navegação”.
Imposto em fevereiro de 1962, durante a Guerra Fria, pelo então presidente John F. Kennedy, o bloqueio tem sido reforçado progressivamente para asfixiar o regime comunista, “tem efeito de uma pandemia permanente, de um furacão constante”, disse o chanceler cubano Bruno Rodríguez na tribuna da ONU.
Segundo o ministro, nos primeiros 14 meses do governo democrata de Joe Biden, os prejuízos ocasionados pelo bloqueio ultrapassaram US$ 6 bilhões. Em seis décadas, ele afirmou, o prejuízo é de US$ 154 bilhões .
“Não atribuímos ao bloqueio todas as dificuldades enfrentadas hoje por nosso país; mas faltaria com a verdade quem negasse seus gravíssimos efeitos e não reconhecesse que é a causa principal das privações, carências e sofrimentos das famílias cubanas”, afirmou ele, após dizer que “cria as condições que encorajam a imigração ilegal”.
Países criticam o embargo
Nos últimos dois dias, delegações de países do Sul – nenhum país desenvolvido falou – apareceram na tribuna da Assembleia Geral para criticar o embargo – foram empregadas as palavras injusto, ilegal, inaceitável, criminoso, desumano, desproporcional – do bloqueio que foi sendo progressivamente reforçado.
Apesar deste apoio maciço constituir uma vitória moral para o governo da ilha, na prática, não se espera nenhuma mudança, como tem ocorrido desde 1992 com a adoção das 29 resoluções prévias com o mesmo teor.
Define política dos EUA com Cuba
O chanceler Rodríguez afirmou que o embargo “continua sendo o elemento central que define a política dos Estados Unidos em relação a Cuba”.
O cientista político Christian Sabatini, do centro de análise Chatham House, em Londres, é da mesma opinião. Mas acima de tudo, “oculta o problema real e legítimo dos direitos humanos” na ilha. “[O embargo] Isola os EUA” quando se podia encontrar “uma causa comum” com muitos dos países que ano após ano apoiam Cuba na ONU “em busca de mudanças razoáveis, positivas e construtivas”, afirmou ele.
Apesar de suas promessas de campanha, Biden mantém as sanções impostas por seu antecessor no cargo, o republicano Donald Trump, salvo algumas alterações em termos de vistos, viagens e remessas para a ilha.
Para lidar com os estragos deixados pelo devastador furacão Ian, Havana pediu a Biden, em 19 de outubro, que suspendesse as sanções que dependem dele, já que o restante só pode ser suspenso pelo Congresso.
Na véspera, 18 ex-presidentes latino-americanos, entre eles a brasileira Dilma Rousseff, o uruguaio José Mujica, o colombiano Juan Manuel Santos e o equatoriano Rafael Correa, pediram a Biden em uma carta que, diante da “delicada situação que as pessoas estão passando”, “levante essas restrições que atingem os mais vulneráveis”.
Cuba vive sua pior crise econômica em três décadas, com escassez de alimentos, remédios e combustíveis, enquanto enfrenta apagões diários devido à tecnologia obsoleta de suas usinas termelétricas.
Desde 2000, os alimentos estão isentos do embargo, mas Cuba deve pagar em dinheiro.

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