Di Polly foi ícone LGBTQIA+ na década de 80 e 90 e é reverenciada pela comunidade: ‘Subversiva’. Artista morreu na segunda-feira (23) após sofrer parada cardíaca. Kaká Di Polly em imagem de novembro de 2013
Celso Tavares/g1
Kaká Di Polly, considerada um ícone entre as drag queens e a comunidade LGBTQIA+, morreu na última segunda-feira (23), em São Paulo. A morte foi confirmada pela sobrinha da artista ao g1 na manhã desta terça-feira (24).
Segundo Adriana Policarpo, Kaká estava internada desde 19 de janeiro em um hospital da capital por conta de uma dor lombar, quando sofreu parada cardíaca ao fazer um exame de rotina.
“Ela tinha sofrido uma queda e estava com dor. Estava internada para fazer exames de rotina. Ao fazer exame de ressonância, ela teve a parada. Tentaram reanimá-la, mas ela não resistiu, infelizmente”.
O sepultamento será no Cemitério Vila Mariana. Horários do velório e enterro ainda não foram confirmados.
Minha tia deixou um grande legado. Isso não morre aqui. Para o Brasil, sempre vai ser histórico o que ela fez. Ela fez acontecer a parada gay impedindo ônibus ao deitar no chão da Paulista. Éramos muito próximas e o que me alivia nesse dia é saber que tudo que ela fez nesses anos será eterno”, afirmou Adriana.
Abriu as portas para gerações
Drag Kaka di Polly, em foto publicada no Instagram
Reprodução Instagram/kakadipolly
Di Polly há algum tempo não frequentava a noite paulistana, mas é reverenciada pelos amigos e fãs como alguém que abriu as portas para muitas gerações que se seguiram às drags dos anos 80 e 90.
Adorava conversar: sua história mais famosa é a de quando se deitou no chão da Avenida Paulista para que a primeira “Parada Gay”, como o evento era então chamado, pudesse transitar pela via.
O protesto, segundo ela contou ao g1 em 2020, foi necessário porque a saída da parada, que começou como um evento muito mais tímido do que o que arrasta centenas de milhares pela capital em junho, estava sendo impedida pela polícia de prosseguir.
Kaká Di Polly, então, decidiu fingir passar mal para distrair os fiscais, se deitando na pista. E, assim, o único caminhão da parada pode seguir pela avenida, sendo acompanhado pelos participantes a pé. Isso em 1997.
Vinte e cinco anos depois, Di Polly fez parte de outro evento que acabou sofrendo com a atuação de autoridades.
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Ela foi uma as artistas retratadas no livro “Drags”, do fotógrafo Paulo Vitale, publicado no ano passado e que se desdobrou em uma exposição no Museu da Diversidade.
Mas a mostra acabou adiada por meses porque o local foi interditado devido a uma ação judicial ligada à suspensão do contrato entre o governo do Estado de São Paulo e o Instituto Odeon, responsável pela administração do espaço.
No texto de apresentação do livro de Vitale, o jornalista americano Matthew Shirts, radicado há décadas no Brasil, escreveu sobre importância histórica de Di Polly por sua atuação na primeira Parada. Ele conta que presenciou o ato.
“Para um país que viveu sob a mão opressiva da ditadura militar (…) foi um momento espetacular e comovente. O país desfilou para frente e passou a desfrutar muito de sua nova liberdade (…) Kaká ajudou a soltar o gênio da lâmpada”.
Gratidão a quem veio antes
Também na longa conversa com o g1 em 2020, Kaká Di Polly deixou clara sua admiração por outro ícone da cena drag que tinha acabado de morrer vítima da Covid: Miss Biá, uma das pioneiras no Brasil.
Di Polly contou que costumava ir para a porta da boate Nostro Mondo, na rua da Consolação, em São Paulo, nos anos 70, mas não tinha idade para entrar.
Via, de fora, Biá, Condessa Monica, entre outras estrelas, chegarem. Um dia, conseguiu entrar com aval de uma delas e passou a frequentar os bastidores. Se lembrava de como Condessa Monica era carinhosa e que aprendeu muito com a generosidade de Biá.
Sem medo de dizer o que pensava, Di Polly também vivenciou muitas polêmicas, uma delas ao afirmar que tinha votado em Jair Bolsonaro em 2018: “Votei errado”.
Sabrina Sato lamentou morte de Kaká
Reprodução/Twitter
Em 2020, se queixou porque a agora gigante Parada LGBTQIA+ estava dando pouco espaço às veteranas da luta – na ocasião, por causa da pandemia, aconteceu apenas uma edição online do evento, apresentada por youtubers.
O discurso de Di Polly foi engrossado por outros grandes nomes da comunidade em favor da valorização de quem abriu caminho para todas as demais passarem.
Muitas dessas personalidades lamentaram a morte da artista nesta segunda. “Subversiva”, postou a drag queen Tchaka, que dividiu com Di Polly participações na Parada, em programas de TV, bailes e concursos.
“Obrigada por ter convivido com você em um tempo em que a noite ainda era divertida e múltipla”, escreveu a atriz Nany People.
“Vivemos a era em que não existia internet e a nossa presença era a nossa luta”, relembrou Divina Nubia.
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