Ministros veem ofensiva de Lula sobre BC 'acima do tom' e querem foco na reforma tributária


Integrantes da equipe econômica afirmam que críticas do presidente ao Banco Central e a Roberto Campos Neto não têm respaldo dentro do Congresso e do próprio governo. O presidente Lula durante a posse de Mercadante no BNDES, nesta segunda (6)
Carlos Elias Junior/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Ministros e técnicos do governo avaliam que as duras críticas do presidente Lula ao Banco Central e à autonomia da instituição estão acima do tom e atrapalham o trabalho da equipe econômica.
Integrantes do governo ouvidos pela GloboNews querem ver a “briga” de Lula contra o órgão “arrefecer o quanto antes”.
“Essa ofensiva está acima do tom e é hora de deixar a equipe econômica trabalhar”, disse um dos ministros da área econômica.
O entendimento deles é que Lula está agindo “ideologicamente”, mas precisa entender que o Banco Central não baixou juros em razão de um contexto mais amplo e que a taxa não é calculada somente baseada no consumo.
Além disso, avaliam ser função do governo dar os sinais necessários aos agentes econômicos, entre os quais a definição da âncora fiscal e a análise da reforma tributária.
Para os ministros, embora haja divergências quanto ao conteúdo do texto que será analisado no Congresso, a necessidade de uma reforma no sistema tributário é uma unanimidade no mercado.
Na última segunda-feira (6), o presidente Lula fez novas críticas ao Banco Central. Ele utilizou a cerimônia de posse de Aloizio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para mais uma vez elevar o tom contra a política monetária conduzida pelo Banco Central.
Na ocasião, o presidente criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano.
A decisão já era esperada. Em comunicado, o BC diz considerar que as expectativas de inflação pioraram, principalmente em razão da perspectiva de aumento de gastos públicos neste início de governo.
Na carta, o Copom afirma ser necessário manter a taxa de juros elevada por um “período mais prolongado” para se fazer frente à alta dos preços.
“É só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, disse Lula.
Para o petista, a alta taxa de juros impede o desenvolvimento econômico do país.
Não foi a primeira vez que o presidente disparou contra o BC ou a política monetária conduzida pelo economista Roberto Campos Neto, presidente da instituição.
Lula já afirmou que:
a independência do BC é “bobagem”, e reforçou que Henrique Meirelles teve autonomia em seu governo anterior mesmo antes da lei;
a meta de inflação do país, de 3,75%, obriga a “arrochar” a economia brasileira em momento que precisa voltar a crescer;
iria esperar “esse cidadão”, em referência a Campos Neto, terminar o mandato para “fazermos uma avaliação do que significou o Banco Central independente”;
Campos Neto quer chegar a uma inflação “padrão europeu”, mas que é necessário chegar à inflação “padrão Brasil”;
o Brasil tem “cultura” de juros altos.
Economistas avaliam que a redução dos juros, para não piorar a inflação, deve ser acompanhada de melhorias na economia. O governo precisa dar sinais positivos ao mercado e aos investidores – por exemplo, garantindo responsabilidade fiscal e segurança jurídica.

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