As informações constam da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (27).
O entendimento foi que os sucessos aumentos feitos na taxa Selic ainda terão “impacto acumulado na economia”, que deverão ficar “mais claros nos indicadores de atividade ao longo do segundo semestre”.
Quando a inflação está em trajetória de alta, o Copom aumenta a Selic. Quando a inflação está em linha com a meta, o Copom reduz a Selic.
A taxa básica de juros foi elevada por 12 vezes consecutivas desde março de 2021. No período, a Selic subiu 11,75 pontos percentuais, configurando o maior e mais longo ciclo de alta desde 1999.
O Copom avaliou que “grande parte” do impacto do ciclo de alta do juro “ainda está por ser observada, tanto na atividade econômica quanto na inflação”.
Ao mesmo tempo, dois diretores da instituição (que tiveram voto vencido) defenderam efetuar nova elevação na taxa Selic na última semana, para 14% ao ano, avaliando que essa atitude “reforçaria a postura de vigilância e refletiria a observação da atividade mais forte do que esperada”.
Copom mantém Selic, mas alerta para inflação alta
De acordo com o Banco Central, a inflação no Brasil, apesar de influenciada pelo corte de impostos sobre itens essenciais, como combustíveis e energia elétrica, ainda segue “elevada”.
Ao pesar os riscos inflacionários, o Copom avaliou que o processo de alta dos juros ao redor do mundo, e a desaceleração da economia global, favorecem o controle da inflação no país.
Porém, acrescentou que os aumentos de gastos permanentes, em parte devido ao processo eleitoral, e a incerteza sobre as despesas a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco (juros futuros e dólar) e as expectativas de inflação.
“O Comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal [alta de despesas] pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos [como o dólar], grau de incerteza na economia e expectativas de inflação”, acrescentou.
Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação. Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central pode reduzir o juro básico da economia.
Em 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.
Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação dos próximos anos, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
A interrupção da alta dos juros acontece em um cenário de desaceleração da inflação. Influenciada pelos preços dos combustíveis, devido ao corte de impostos sobre itens essenciais e à redução do preço internacional do petróleo, houve deflação no país pelo segundo mês seguido em agosto.
Embora as estimativas de inflação estejam acima do teto da meta para este ano, o mercado financeiro já prevê desaceleração das pressões inflacionárias em 2023 (diante do juro alto, da crise energética na Europa e da desaceleração da economia mundial).
Na ata do Copom, o Banco Central informou que, apesar de interrompido, o processo de alta da Selic poderá ser retomado caso o processo de desaceleração da inflação não aconteça conforme o esperado. A instituição reafirmou que que está mirando mais adiante nas decisões sobre juros, no início de 2024.
“O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação [para as metas definidas nos próximos anos]”, acrescentou.
No Brasil, o Copom avaliou que a divulgação do PIB do segundo trimestre, com alta de 1,2% frente aos três meses anteriores, apontou ritmo de crescimento acima do esperado no período.
“Observou-se crescimento robusto tanto no consumo quanto no investimento. Além disso, o conjunto de indicadores divulgados desde a última reunião do Copom continua sinalizando crescimento na margem, ainda que mais moderado, e o mercado de trabalho seguiu em expansão, ainda que sem reversão completa da queda real dos salários observada nos últimos trimestres”, acrescentou.
De acordo com a instituição, porém, a economia global está em desaceleração. “O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com contínuas revisões negativas para o crescimento das principais economias, em especial para a China”, informou.
O BC observou que, apesar de o mercado de trabalho ainda estar “aquecido” nos Estados Unidos e em outras economias avançadas, o processo de alta dos juros em curso nas economias mais desenvolvidas, a continuidade da Guerra na Ucrânia (com consequências sobre o fornecimento de gás natural para a Europa) e a manutenção da política de combate à Covid-19 na China “reforçam uma perspectiva de desaceleração do crescimento global nos próximos trimestres”.
“Dada a persistência do processo inflacionário e a elevação de projeções de inflação em várias economias, o Comitê avalia que o risco de uma desaceleração mais acentuada da atividade econômica global se elevou”, concluiu.
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