Autor se tornará membro da instituição nesta quinta-feira (9). Ele é o último sobrevivente do ‘boom’ latino-americano junto do colombiano Gabriel García Márquez, do argentino Julio Cortázar e dos mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo. Mario Vargas Llosa é o primeiro escritor a entrar na Academia Francesa sem nunca ter escrito nada em francês
Daniel Ochoa de Olza/Associated Press
O hispano-peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura em 2010, que na quinta-feira (9) se tornará o primeiro escritor a entrar na Academia Francesa sem nunca ter escrito nada em francês, é o último representante da geração dourada da literatura latino-americana.
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Escritor universal a partir da complexa realidade peruana, Vargas Llosa fez parte do chamado “boom” latino-americano junto com outros grandes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar e os mexicanos Carlos Fuentes e Juan Rulfo.
Admirado por sua descrição das realidades sociais em obras-primas da literatura como “A Cidade e os Cachorros”, ou “A Festa do Bode”, no plano político seus posicionamentos liberais provocaram hostilidade em um meio intelectual que geralmente tende à esquerda.
“Nós, latino-americanos, somos sonhadores por natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real e a ficção. É por isso que temos ótimos músicos, poetas, pintores e escritores, e também governantes tão horríveis e medíocres”, disse pouco antes de receber o Nobel em 2010.
Nascido na cidade de Arequipa, no sul do Peru, em 28 de março de 1936 em uma família de classe média, foi educado por sua mãe e seus avós maternos em Cochabamba (Bolívia) e depois no Peru.
Após seus estudos na Academia Militar de Lima, obteve uma licenciatura em letras e, ainda muito jovem, deu seus primeiros passos no jornalismo.
Instalou-se em 1959 em Paris, onde se casou com sua tia Julia Urquidi, 10 anos mais velha, e exerceu várias profissões: tradutor, professor de espanhol e jornalista da Agence France-Presse.
Anos depois, separou-se de Urquidi e se casou com sua prima-irmã e sobrinha de sua ex-esposa, Patricia Llosa, com quem teve três filhos e 50 anos de relação.
Vargas Llosa se divorciou de Patricia após iniciar em 2015, com quase 80 anos, um romance com uma figura conhecida do mundo madrilenho, Isabel Preysler, ex-mulher do cantor Julio Iglesias.
Prolífica carreira literária
Sua longa carreira literária decolou em 1959, quando publicou seu primeiro livro de relatos, “Os Chefes”, com o qual obteve o Prêmio Leopoldo Alas. Depois, ganhou notoriedade com a publicação de “A Cidade e Os Cachorros”, em 1963, seguida três anos depois por “A Casa Verde”. Seu prestígio se consolidou com “Conversa no Catedral” (1969).
Naquela época, o autor peruano já afirmava que queria continuar escrevendo até o último dia de sua vida e cumpriu sua palavra com a publicação de obras como “O Herói discreto”, ou “Tempos Ásperos”, sobre a agitada história recente da Guatemala, que lhe rendeu o Prêmio Francisco Umbral de Romance.
Com suas obras traduzidas para 30 idiomas, Vargas Llosa foi prestigiado com os prêmios Cervantes, Príncipe de Astúrias das Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prêmio Nacional de Novela do Peru e o Rómulo Gallegos.
Obteve a nacionalidade espanhola em 1993.
Escritor premiado… polêmico na política
Quando jovem, Vargas Llosa se sentiu seduzido por Fidel Castro, mas em 1971 rompeu com a Revolução Cubana por causa do caso do poeta Heberto Padilla, forçado pelo regime a fazer uma humilhante “autocrítica” pública.
Foi candidato à presidência do Peru em 1990. Era o favorito até aparecer o então desconhecido agrônomo Alberto Fujimori, que foi eleito. Depois de seu fracasso eleitoral, voltou às letras, de onde – disse o escritor – nunca deveria ter saído.
Ainda assim, não se mantém alheio às vicissitudes da política mundial, atacando nos últimos anos o populismo, “a doença da democracia”, que inclui o chavismo e o castrismo, a extrema direita e a esquerda radical europeia e o nacionalismo independente.
Teve uma estreita amizade com Gabriel García Márquez, que terminou abruptamente em um incidente confuso que ambos preferiram não tocar.
“Deixe que os biógrafos cuidem desse assunto”, disse Vargas Llosa certa vez.
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