Tal potência reside tanto na voz grave e calorosa – uma “força da natureza”, como já sintetizou Carlinhos Brown, amigo e admirador da artista – quanto no engajamento social de Maga, como Margareth é carinhosamente chamada dentro e fora da Bahia.
Na Bahia preta, Margareth Menezes é a única cantora negra dentre as quatro estrelas mais famosas do gênero musical rotulado como axé music – termo que Maga prefere evitar para usar afro-pop – e isso diz muito sobre o Brasil.
Atriz na primeira metade dos anos 1980, tendo atuado em companhias soteropolitanas de teatro, Margareth Menezes decidiu se lançar como cantora em 1986 e, no ano seguinte, já fez história ao ser primeira cantora a dar voz a um samba-reggae. No caso, em gravação de Faraó (Divindade do Egito) (Luciano Gomes, 1987) feita com Djalma Oliveira para disco do cantor e editada em single.
Decorridos 35 anos desde a explosão de Faraó, hit incendiário e sempre pedido nos shows da artista, a discografia de Margareth Menezes contabiliza 15 álbuns editados entre 1988 e 2019. A voz poderosa é o elemento que costura essa obra fonográfica, do álbum Margareth Menezes (1988) ao recente Autêntica (2019). Só que é no palco que essa voz atinge a potência máxima, eletrizando plateias.
A voz da cantora é tão forte e singular que Maga conseguiu enfrentar mercado injusto que legitimou o processo de branqueamento da axé music a partir dos anos 1990 – movimento equivocado e racista que, a longo prazo, acabou minando a força comercial do gênero, já que, distanciada das matrizes negras, a axé music foi perdendo o encantamento e o poder de sedução.
Pairando acima desses equívocos, Margareth Menezes é percebida atualmente como entidade a ser respeitada dentro e fora da Bahia. Algo que David Byrne já havia percebido em 1990 quando convidou a cantora para fazer o show de abertura da turnê Rei Momo, apresentada por Byrne em 42 países.
Finda a turnê com Byrne, a artista fez show solo no exterior e, na sequência, voltou ao Brasil, onde pavimentou na terra natal uma estrada que inclui incursões pelo território da MPB entre ações sociais.
Aos 60 anos de vida e 35 de carreira (tomando como ponto de partida a gravação de Faraó), Margareth Menezes extrapola rótulos e fronteiras, ainda que encarne uma das personificações da música afro-pop-brasileira produzida na Bahia de todos os santos e orixás.