O Mali, país africano já assolado por instabilidade política e desafios socioeconômicos crônicos, enfrenta uma ameaça existencial. O grupo jihadista Jama’at Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin (JNIM), ligado à Al-Qaeda, intensificou suas ações, estrangulando o país e elevando o risco de sua transformação em uma república islâmica radical.
O Cerco Silencioso: Combustível como Arma de Guerra
A estratégia do JNIM é implacável e eficaz: bloquear as principais rotas utilizadas pelos caminhões-tanque que abastecem a capital Bamako e outras regiões vitais do Mali. Essa tática de guerra econômica, que usa o combustível como arma, está paralisando o país, gerando escassez generalizada e impactando drasticamente a vida cotidiana dos malianos. A falta de combustível não apenas dificulta o transporte de pessoas e mercadorias, mas também afeta serviços essenciais como hospitais e o fornecimento de energia elétrica.
A Convergência para Bamako: Uma Capital Sob Ameaça
Os ataques do JNIM não são aleatórios. Eles representam uma convergência calculada em direção a Bamako, a capital e centro nervoso do Mali. Nas últimas semanas, os jihadistas intensificaram seus ataques, inclusive contra comboios militares, demonstrando ousadia e capacidade de desafiar o poder do Estado. Essa escalada de violência sinaliza a determinação do JNIM em desestabilizar o governo central e impor sua visão radical.
O Vácuo de Poder e a Fragilidade Estatal
A ascensão do JNIM é sintoma da fragilidade do Estado maliano e do vácuo de poder existente em vastas áreas do país. Anos de instabilidade política, golpes militares e corrupção minaram a legitimidade e a capacidade do governo central de exercer sua autoridade em todo o território nacional. Esse vácuo foi preenchido por grupos armados, como o JNIM, que oferecem uma alternativa, ainda que distorcida e violenta, para a população local.
O Legado da Primavera Árabe e a Diáspora Jihadista
A crise no Mali também está intrinsecamente ligada às consequências da Primavera Árabe e à diáspora jihadista que se seguiu. A instabilidade no norte da África, especialmente na Líbia após a queda de Muammar Gaddafi, permitiu o fluxo de armas e combatentes para a região do Sahel, fortalecendo grupos extremistas como o JNIM. Esses grupos se aproveitam das rivalidades étnicas, da pobreza e da falta de oportunidades para recrutar novos membros e expandir sua influência.
Um Futuro Incerto: Entre a Intervenção Externa e o Diálogo Interno
O futuro do Mali é incerto e sombrio. A possibilidade de uma intervenção militar externa, como a liderada pela França nos últimos anos, é cada vez mais remota, dada a crescente hostilidade da população local em relação às forças estrangeiras. Ao mesmo tempo, o diálogo interno entre o governo, os grupos armados e a sociedade civil parece cada vez mais difícil, diante da radicalização de ambas as partes. A única esperança reside em um esforço conjunto para abordar as causas profundas da crise: a pobreza, a desigualdade, a falta de governança e a marginalização das comunidades locais. Caso contrário, o Mali corre o risco de se tornar um Estado falido sob o controle de um grupo terrorista, com graves consequências para a região e para o mundo.
A comunidade internacional, incluindo a União Africana e as Nações Unidas, precisa urgentemente repensar sua abordagem em relação ao Mali, priorizando o apoio ao desenvolvimento econômico e social, o fortalecimento das instituições democráticas e o diálogo inclusivo. A omissão ou a negligência só farão agravar a crise e aumentar o sofrimento do povo maliano.
