Mais de 470 já morreram em conexão com as manifestações geradas após prisão e assassinato de jovem que violou código de vestimenta para mulheres. Morte de Mahsa Amini desencadeou onda de protestos de mulheres como raramente foi visto no Irã
GETTY IMAGES/via BBC
Ao menos 100 iranianos presos ao longo de mais de 100 dias de protestos no país enfrentam acusações puníveis com a morte, afirmou a organização de direitos humanos Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo. Pelo menos 11 deles já foram condenados à morte.
As manifestações populares tomaram conta do Irã desde a morte da jovem curda Jina Mahsa Amini, de 22 anos, sob custódia policial em 16 de setembro. Ela havia sido presa por supostamente violar o rígido código de vestimenta do país para as mulheres.
No início de dezembro, o regime iranino executou dois homens em conexão com os protestos, numa escalada da repressão que, segundo ativistas, visa instilar o medo na sociedade. Ao todo, mais de 470 já morreram em conexão com as manifestações.
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Em um relatório nesta terça-feira (27/12), o IHR informou ter identificado 100 detidos que correm o risco de serem condenados à morte. Cinco deles são mulheres. Segundo a organização, muitos deles têm acesso limitado à representação legal.
“Ao emitir sentenças de morte e executar algumas delas, eles [as autoridades] querem fazer com que as pessoas voltem para casa”, afirmou o diretor do IHR, Mahmood Amiry-Moghaddam. “Tem algum efeito, mas o que observamos em geral é mais raiva contra as autoridades.”
Segundo Amiry-Moghaddam, “a estratégia [do regime] de espalhar o medo por meio de execuções falhou”.
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Quase 500 mortos nos protestos
Em um número atualizado de mortes divulgado nesta terça-feira, a organização afirmou que 476 manifestantes foram mortos desde o início dos protestos em setembro.
No início de dezembro, o principal órgão de segurança do Irã divulgou um balanço de mais de 200 mortos, incluindo agentes de segurança.
Pelo menos 14 mil pessoas foram presas em todo o país em conexão com as manifestações antirregime, informou a ONU no mês passado.
Majidreza Rahnavard, de 23 anos, foi enforcado em público em 12 de dezembro, após ser condenado por um tribunal em Mashhad, no nordeste iraniano, por matar dois agentes das forças de segurança com uma faca.
Quatro dias antes, Mohsen Shekari, também de 23 anos, foi executado por ferir um membro das forças de segurança.
O judiciário iraniano afirmou que nove outros presos foram sentenciados à morte por causa dos protestos. Dois deles tiveram direito a um novo julgamento.
“Um grande erro”
O pai de um iraniano condenado à morte, Mohammad Ghodablou, fez um apelo nas redes sociais pedindo a libertação de seu filho, dizendo que “ele cometeu um grande erro”.
“Mohammad até agora não tinha antecedentes criminais”, afirmou o pai em um vídeo divulgado nesta semana, alegando que o filho sofre de uma doença mental.
Ghodablou, de 22 anos, foi acusado em Teerã de “corrupção na terra” por “atacar a polícia com um carro, o que resultou na morte de um policial e no ferimento de outros cinco”.
O site de notícias do judiciário Mizan Online informou na segunda-feira que Ghodablou passou por uma avaliação psiquiátrica que concluiu que ele “estava ciente da natureza de seu crime”.
A Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos (HRANA), com sede nos Estados Unidos, informou num relatório divulgado na segunda-feira que houve um aumento de 88% nas execuções no Irã em 2022 em comparação com o ano passado, além de uma alta de 8% nas sentenças de morte, a grande maioria delas por assassinato ou crimes envolvendo drogas.
Segundo a organização de direitos humanos Anistia Internacional, com sede em Londres, o Irã perde apenas para a China no uso da pena de morte, com pelo menos 314 pessoas executadas em 2021.
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