Longevidade depende da qualidade das políticas públicas, diz especialista


Evento realizado em Londres elegeu o expossoma, o resultado de tudo a que somos expostos ao longo de nossa existência, como fator determinante do envelhecimento A questão do expossoma, o resultado de tudo a que somos expostos ao longo de nossa existência, tornou-se o centro da discussão na Longevity Week, realizada no meio de novembro e que acompanhei on-line. Para os pesquisadores reunidos, a humanidade tem dois grandes desafios: garantir a saúde das pessoas e a saúde do planeta – e aí entra o expossoma, que impacta nosso bem-estar em todos os aspectos. O professor David Furman, que dirige um laboratório no Buck Institute, um dos mais respeitados no estudo do envelhecimento, foi enfático:
Idosas reunidas no centro histórico de Antuérpia: expossoma, o resultado de tudo a que somos expostos ao longo de nossa existência, é determinante para a qualidade do envelhecimento
Mariza Tavares
“A abordagem é ampla e vai além das escolhas de cada indivíduo. Depende de como as cidades são administradas, do tipo de investimento em infraestrutura e da qualidade das políticas públicas. Esse é o conjunto de determinantes cujo impacto vai nutrir, ou não, nosso cérebro e vai fazer bem ou mal ao nosso corpo. A obrigatoriedade do uso de cinto de segurança aumentou a expectativa de vida. Restringir comidas ultraprocessadas também fará diferença”.
Furman assina, com outros palestrantes do dia, artigo recém-publicado na revista “Lancet” sobre a urgência de medidas para, como afirmou, “mudar padrões mentais”: “não estamos falando somente dos mais velhos. Temos que começar a trabalhar desde os primeiros estágios da infância para que as pessoas se engajem no aprendizado contínuo e em seu bem-estar físico, mental e financeiro”. Ou, como resumiu Richard Siou, diretor do instituto que pesquisa envelhecimento no King´s College: “não se trata de apenas contar passos ou calorias”. Para o professor Harris Eyre, a prioridade, para os idosos, é acabar com o analfabetismo digital que os deixa à margem:
“Sem habilidades para navegar no ambiente digital, os mais velhos são impedidos de se conectar, de se integrar plenamente à sociedade, de lutar por seus direitos. São manipulados por fake news e vítimas de crimes cibernéticos. Temos que garantir ferramentas para que entendam o mundo à sua volta e naveguem com segurança”.
Além do expossoma, a outra expressão mais utilizada pelos painelistas foi “brain capital”, que pode ser traduzida como a nossa reserva cognitiva. Inclui o arsenal mental de que dispomos para adquirir novas habilidades, significa ter resiliência para lidar com questões como estresse e ansiedade – uma espécie de “escudo” que nos protege da demência. Para a professora Lynne Cox, chefe do laboratório dedicado ao envelhecimento da Universidade de Oxford, está na hora de “mudar a narrativa de que a velhice é um processo de gradual decadência”:
“Ainda associamos o envelhecimento a uma saúde precária, que afeta a qualidade de vida das pessoas e pesa no orçamento público, mas não deveria ser assim. Precisamos de uma nova abordagem de políticas públicas voltadas para a promoção da saúde. Médicos, gestores e políticos têm que abraçar essa visão. A biologia também pode ser modificada. Hoje tratamos o câncer eliminando as células cancerosas, com pesados efeitos colaterais. No entanto, a ciência caminha para retirar as células senescentes que, em seu processo de degradação, podem dar origem à doença”.
Para quem quiser assistir à íntegra do painel, segue o link.

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